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    Análise — Persona 5

    Disclaimer: Essa análise foi realizada através de uma cópia adquirida pela equipe da OtakuPT e jogada através de um Playstation 4.

     

    Um grande número de pessoas sempre acreditou que a partir de determinado momento do desenvolvimento de jogos japoneses, os seus RPGs ou até mesmo suas tentativas de se comunicar com o público ocidental no desenvolvimento de jogos com temáticas e gêneros diferentes fosse cada vez mais uma tendência que evidentemente fracassaria e não é de se esperar pois tivemos incríveis números altos de jogos japoneses que pareciam ter esquecido o que o seu país e a sua cultura podem nos oferecer de melhor. Felizmente, recentemente desde o lançamento de uma franquia que após o seu surgimento acabou por se tornar um gênero na indústria, nós conseguimos voltar a receber jogos japoneses que estão cada vez mais voltando a se comunicar com o resto do público gamer ocidental de uma maneira que eles sempre fizeram, assumindo o manto de jogos feitos no japão e buscando que essa familiaridade e comunicação entre nós, o publico consumidor e seus desenvolvedores, possam entrar em uma harmonia na qual nós finalmente possamos aproveitar o que nossos RPGs Japoneses ou outros jogos desenvolvidos pelo nosso querido Japão possam oferecer. E entre esses jogos, uma franquia que sempre se assumiu assim e nunca voltou atrás mas que, devido esse seu charme único e a exploração adulta e fantástica em torno da sua história e suas temáticas desenvolvidas de uma maneira friamente bem executada, recebemos o seu quinto jogo que não poderia ter sido melhor e único, assim também exemplificando porque precisamos ainda mais que o Japão continue sendo o seu “Japão” nos desenvolvimentos de jogos. Sejam bem-vindos a Persona 5.

     

    Persona 5 talvez consiga entrar para a lista de jogos a serem desenvolvidos em um longo período de tempo desde o último lançamento de sua série, por motivos que ficamos a aguardar cerca de oito a nove anos por seu lançamento. Suas preparações dão início quase que na mesma época de desenvolvimento do “Persona 4” quando a Atlus anunciou que prepararia um jogo que serviria, primariamente, como um grande veículo de pesquisa entre eles – e também entre o público, para o futuro desenvolvimento do próximo jogo da franquia Persona, desenvolvido pela mesma equipe que ficaria a cargo do quinto jogo. Esse jogo futuramente descobrimos ser “Catherine”, onde diversas pessoas envolvidas com a série Persona estiveram envolvidas, nós temos Katsura Hashino, produtor e diretor, Shigenori Soejima do qual ficou a cargo da direção de arte e também do design dos personagens e a trilha sonora comporta pelo time liderado por Shoji Meguro. O objetivo dessa equipe era criar algo que se diferenciasse da série Persona, almejando principalmente uma temática e audiência mais adulta. Um tiro arriscado mas que acabou por dar muito certo pelo sucesso que o jogo conseguiu ter em torno do público de videogames, tendo vendido mais de 500 mil cópias no mundo todo até o final de 2011, onde para nós possa parecer um número pequeno comparado com outros desenvolvimentos, mas que para a Atlus foi ainda acima das vendas esperadas e ficaram mais do que satisfeitos com o resultado. Sua recepção entre os críticos foi de forma geral positiva, tendo sua grande maioria elogiado muito as formas como o jogo executa suas discussões em torno de temáticas adultas mas também sendo criticado pela sua dificuldade alta. Dito isso, já podemos partir para o jogo que absorveria os frutos e experiências ganhas em Catherine e se tornaria um grande lançamento em apenas em seu primeiro mês. Vamos para Persona 5.

     

    O Jogo foi lançado agora em 2017, tendo seu lançamento constantemente adiado onde primeiramente deveria ter ocorrido em 2014 ainda para os consoles da geração passada, passando assim para 2015, futuramente para 2016 onde teve seu lançamento inicial no fim do ano apenas para o público japonês, meses depois sendo lançamento para o resto do mundo. Controlamos mais uma vez um protagonista silencioso onde nossas ações e comandos através de interações com outros personagens da história e daquele mundo no qual estaremos inseridos por durante um ano no calendário, importam muito para o desenrolar não somente da história e da narrativa que seguirá conosco através de toda a jogatina, como também para nossos relacionamentos. Para aqueles que desconhece, Persona é uma série spin-off de uma série chamada “Shin Megami Tensei” que curiosamente também é um Spin off de uma outra série chamada “Digital Devil Story”, uma novel de ficção científica criada por Aya Nishitani. Grande maioria dos jogos dessas séries possuem uma premissa de iniciar isoladamente histórias únicas com novos personagens mas captando elementos daquele universo e se aproveitando da mitologia que acerca esse mundo para novas situações que as suas narrativas pedem.

    Entramos na história de Persona 5 com nosso protagonista que é introduzido possuindo um histórico criminal em suas costas e sendo obrigado a se mover de onde originalmente ele estava devido esse recente problema, ficando aos cuidados de Sojiro Sakura, um homem adulto que cuida de um café onde você estará a morar por durante um ano no jogo. Aos poucos nós construímos um relacionamento com esse personagem onde gradativamente nós ganhamos o seu respeito e cada vez mais somos liberados por ele a sermos capazes de realizar maiores atividades, seja no período do dia ou no período noturno. Como se não fosse pouco, nosso personagem consegue mudar para uma escola porém esse ambiente não o vê com bons olhos devido sua ficha criminal, todos na escola conversam entre as escondidas onde podemos ouvir enquanto passamos por eles durante nossas viagens e caminhadas pela escola, sobre o que eles pensam sobre nosso personagem e são pensamentos e diálogos denegrindo nossa imagem, como essas pessoas não estão acostumadas a lidar com uma figura que possui um passado, supostamente, sombrio. Dessa maneira, Persona 5 estabelece que o tema central durante a sua narrativa será a “Liberdade”, uma busca por respiro em meio a esse ar ofegante e opressor, não somente daqueles que está de igual tamanho a nós, como os próprios adultos que nos veem de cima para baixo, oprimindo quem somos e diminuindo nossas capacidades apenas por sermos quem somos. E Durante nossa jornada nessa história, nos deparamos com outros personagens que passam por situações similares onde a sociedade os oprime e constroem expectativas em cima de seus seres que acabam por oprimir seus sentimentos, suas capacidades, quase como uma figura que espera tanto de nós mas que sabemos que não seremos capazes de superar tamanhos obstáculos de cara por ainda não sabermos lidar com toda aquela responsabilidade que nos é construída assim que nascemos, talvez.

     

    Os cenários de Persona 5 são vastos, diferentes dos jogos anteriores onde apesar de nós possuirmos a capacidade de explorar de forma limitada, porém ainda assim com diversas possibilidades, aqui nós entramos em cenários abertos em Tokyo, exploramos cada pedacinho de Shibuya em busca de empregos, atividades a se realizar para matar nosso tempo durante nossas explorações e busca por lidar com o dia-a-dia, ou até mesmo em busca de mais conhecimento para que possamos nos melhorar, pois algo que a série Persona constrói desde o seu terceiro são os status dos nossos protagonistas onde se diferem em algumas características pessoais que podem ser aprimoradas, seja nossa aparência e como as pessoas nos veem, seja nossa comunicação, nossa inteligência, nossa força, nossa resistência ou até mesmo nossa proficiência. Esses status importam pois em alguns momentos no jogo, nos deparamos com momentos onde podemos conversar com pessoas diferentes ou sermos capazes de arrumarmos empregos para que ao longo do jogo possamos ser recompensados com dinheiro, uma mecânica que nos ajudará a comprar itens ou equipamentos para que possamos lidar com os monstros e a parte que envolve combate no jogo – no qual já chegaremos lá. Se não estivermos com um determinado “Rank” nesses Status, podendo variar de “1” a “5”, não seremos capazes de iniciar um relacionamento com um personagem, não seremos capazes de entrar em um novo emprego ou até mesmo comprar certos itens ou entrar em determinados lugares. A busca pelo aprimoramento das nossas características pessoais importam para nossos relacionamentos e progressividade durante o jogo, a ponto de que está relacionada de uma maneira direta com os nossos resultados na parte de combate do jogo, no qual entraremos agora.

    Assim como todos os jogos da série, nossos personagens se deparam com uma situação onde eles conhecem as “Sombras”, seres desconhecidos que cada vez mais ficamos a saber como eles funcionam, o que eles são e como eles se comportam em reflexo a todas as pessoas que nos deparamos no mundo “real”. Em determinado momento do jogo, entramos em uma realidade que nada mais é do que um grande espelho dos sentimentos advindos do lado sombrio de um personagem, elemento que já acompanha a série desde o seu primeiro jogo lá do Playstation 1 mas que a cada número principal da série é tratado narrativa de uma maneira específica e diferenciada de sua própria maneira. Para que sejamos capazes de combater esses monstros e superarmos seus obstáculos, nos invocamos as nossas “Personas” que são manifestações de nossas personalidades, nossos medos e aflitos vindouros de nossos corações para que assim nós transformemos nossas fraquezas e também potenciais em uma forma de combater esses monstros. É assim que entramos em contato com o RPG tático no estilo mais clássico mas que talvez seja uma das maravilhas da série devida sua complexidade em uma característica que para alguns seja simples. Nós podemos atacar, defender, escolher itens de cura e manusear nossas táticas de combate assim como todo RPG japonês fazia e a série tem feito ao longo dos anos. Porém, temos o elemento Persona onde cada um possuí características únicas de ataque que possamos aproveitar para abordar nossos inimigos, seja ataques físicos que custaram uma pequena quantia de HP, seja ataques mágicos de fogo, terra, gelo, ar, que custaram uma quantia determinada e variável de MP. Em determinados ataques, somos capazes de explorar a fraqueza dos inimigos onde ao atingirmos com seus elementos fracos, somos capazes de receber mais um turno para que possamos aumentar nossas possibilidades de abordagem aos inimigos.

    Mas no que importa os nossos relacionamentos com essa parte de combate? Cada vez mais que nos relacionamos com os personagens em algo que o jogo chama de “Confidants”, pessoas específicas nos quais criamos laços e podemos realizar relacionamentos românticos caso queiramos, nós crescemos o poder das Arcanas que são condizentes com aqueles personagens. Arcanas representam tipos específicos de Personas que podem estar interligada com pessoas e personalidades do seu gênero e tipo, assim como também as Personas e demônios que encontramos. Cada vez que aumentamos essas arcanas, nós aumentamos a possibilidade de, em determinado ponto do jogo sermos capazes de fusionar Personas com o intuito de criarmos novas, suas criações virem mais poderosas por terem uma relação com os laços que formamos e são condizentes as respectivas Arcanas. Porém, outro elemento interessante que está presente em Persona 5 e retorna após a sua estranha despedida em “Persona 2: Eternal Punishment”, nós somos capazes de conversar diretamente com nossos inimigos demônios/sombras, e tentar convencê-los de entrar para a nossa Party como uma das possibilidades de invocações em forma de Persona, assim como também somos capazes de pedir itens ou até mesmo informações sobre a região no qual estamos. Somente nosso personagem principal é capaz de realizar múltiplas invocações de diferentes Personas, existindo uma explicação dentro da história para isso.

     

    Durante todos os jogos da série, nós aprendemos que problemas sociais envolvendo o cotidiano de adolescentes vem sendo o foco primordial de desenvolvimento desses jogos. Apesar de nós termos a presença de um elemento de combate estilo RPG em sua forma mais clássica, contendo batalhas contra monstros de mitológicas e crenças diferentes, misturadas e concentradas em um âmbito que as insere de maneira inteligente dentro das mecânicas e também história, relações pessoais continua sendo o foco da série. No primeiro jogo e nas duas partes do segundo, nós temos relacionamentos entre pessoas que já se conhecem, porém que ainda sim possui temáticas adultas, pesadas e sérias a serem abordadas nos relacionamentos dessas pessoas – seja entre si, ou entre aqueles que estão ao seu redor. Qualidade de escrita e gostos pessoais a parte, esses elementos narrativos que serão fundamentais para o desenvolvimento do seu relacionamento com todos aqueles ao seu redor, ainda será um fator importante a se destacar, já que nossos relacionamentos influenciam diretamente nas nossas capacidades e desenvoltura durante os combates. E para aqueles que desgostaram do quão “light” o tom da série acabou aderindo e sente saudades dos toms mais adultos e temáticas mais sérias sendo abordadas de maneira inteligente como nos primeiros jogos, talvez vá se identificar e sentir um alívio por esses elementos estarem de volta após um longo tempo.

    Uma coisa deve ser dita: Persona 5 nos mostrou ao lado de recentes obras orientais que JRPGs ainda estão em voga e o mercado japonês de jogos ainda pode nos surpreender com coisas boas, mesmo após anos de espera e anos de desenvolvimento. Podemos apreciar em sua forma mais original o que é o ambiente japonês, como funciona a sua filosofia de design e para aqueles que já estão habituados com esses elementos e retornam para a série após longos anos de desenvolvimento, se sentirá em casa por finalmente estar com o controle em mãos experienciando mais uma das criações belas que o Japão pode nos proporcionar.

     

    Outro toque a se destacar na série é o quão bem a sua trilha sonora consegue ser desenvolvida e orquestrada, assim como o quão bem as músicas conseguem encaixar – revelando um ótimo e excelente trabalho na direção artística e também sonora que o jogo possuí. Músicas que remetem a filmes e animes clássicos de espionagem devido a temática e referências claras a coisas como “Lupin” – sendo referenciado de forma clara com o nome da Persona que nosso protagonista invoca em seu despertar, por exemplo. Jazz e Blue se formam presente na trilha sonora do jogo, construindo uma ambientação que contrasta de maneira exemplar com o cotidiano rotineiro que enfrentaremos pela frente. Mesmo em suas músicas escolhidas para construir dias onde nós temos uma construção ambiental mais simplória, calma e serena, onde nosso único companheiro será gotas de chuva e uma ida e volta da escola.

    Destaque deve ser dado para as músicas cantadas onde Shoji Meguro e a cantora Lyn trabalham em conjunto na construção de uma ambientação, seja nos combates onde, por exemplo, escutamos a música “Last Surprise” ou em raros momentos quando ouvimos “Life Will Change” que já ganhou um gigantesco destaque dentro da comunidade de fãs da série, sem contar com a excelentíssima música de abertura “Wake up, Get Up, Get Out There!” que nos introduz de maneira estilosa e com uma singela trilha que conversa bastante não somente com a própria ambientação do jogo como também com a caracterização dada para cada personagem ao longo da série, não somente nesses minutos curtos de abertura.

     

    Persona 5 é um jogo que, com muito estilo em sua bagagem, nos mostra como os jogos japoneses ainda podem nos surpreender e como a própria série consegue manter um excelente ritmo em suas costas ainda debatendo temáticas de maneira séria, resgatando e referenciando inúmeros elementos tanto narrativos quanto mecânicos dos primeiros jogos da série. Personagens bem construídos com dramas e representações adultas e debatidas de maneira esplêndida que nem mesmo jogos ocidentais conseguem reproduzir em boa parte de suas abordagens. Combates gostosos e que tentam nos ensinar cada vez mais conforme nossos erros, talvez aderindo a nova filosofia de jogos que vem sido construída com o tempo. Um jogo que para fãs da série, sem sombra de dúvida, é recomendadíssimo e talvez um forte candidato a Melhor jogo de 2017.

    Helder Archer
    Helder Archer
    Fundou o OtakuPT em 2007 e desde então já escreveu mais de 50 mil artigos sobre anime, mangá e videojogos.

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    Lucio
    Lucio
    13 , Julho , 2019 4:23

    Muito bom weslley ( o inveja do tempo que vc tem T-T) parece realmente um jogo que eu gostaria de jogar, aliás essa franquia mesmo me chama a atenção, tem até o anime que na época eu nem vi mas quem sabe não dou uma olhada.

    Scar
    Scar
    13 , Julho , 2019 4:23

    Adquiri o meu na primeira semana de lançamento no ocidente o jogo até o momento se mostrou ótimo, trilha sonora perfeita e personagens cativantes. Fiquei surpreso pois só depois de 10 horas de jogo é q vc realmente começa o verdadeira jogo onde o mundo se expande e vc vê as infinidade de coisas que é possivel fazer. O unico ponto que pode ser um pouco negativo é a questão do tempo vc tem que aproveitar e escolher bem oq deseja fazer, é impossível fazer tudo no jogo vc ten que escolher focar no social com outros personagens, lutas ou aprimoramento proprio.

    P5 é um jogo obrigatório pra quem curte o bom e velho rpg.

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