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    Análise — Citrus

    Uma vez um amigo havia dito uma coisa interessante que me fez parar para pensar por alguns minutos e, após refletir sobre o diálogo que tivemos — bem curto, eu percebi que, enquanto falávamos sobre mangás de abordagem homossexual e obras que tentam refletir os relacionamentos entre duas pessoas do mesmo sexo, uma obra que realmente quisesse desenvolver o relacionamento dos personagens de uma forma natural e que tudo fosse bem transposto, que não fosse forçado, descobrimos que raramente nós conseguíamos citar obras que se focavam no desenvolvimento de relacionamentos pessoais entre duas pessoas ou demais personagens com características e personalidades críveis, humanas. Nossas mentes pregaram um grande labirinto e ficamos no mesmo ciclo vicioso de procurar em todas as obras que havíamos lido e raramente conseguíamos exemplos positivos além dos óbvios exemplos escritos e produzidos pela memorável Ratana Satis. Mas, foi nesse dia, meados de Agosto de 2015 que durante as nossas conversas, ele me apresentou uma obra que mudaria minha opinião mesmo dentro de um nicho. O Dia em que eu conheci Citrus.

    Disclaimer: Essa análise e conteúdo dedicado a Citrus foi postada originalmente e anteriormente no site Coop Geeks por Weslley de Sousa, esse que vos fala. Seu compartilhamento foi dedicado a informação e também a intenção de apresentar sua obra para as demais pessoas, além claro de presentar nossos leitores com assuntos interessantes que essa obra aborda.

     

    Representativo e na Medida Certa

    Citrus conta uma história que se propõe a desenvolver o relacionamento entre duas personagens femininas que por ironia do destino acabaram se tornando meio-irmãs, por conta de um relacionamento entre seus pais separados terem falhado anteriormente e seus atuais responsáveis estarem se relacionando. Por conta disso, Yuzu Aihara, deverá aprender a conviver com sua mais nova “parente” enquanto acaba descobrindo a sua sexualidade. Sentimentos despertam ao se deparar com “Mei Aihara”, que por coincidência, é também a presidente do conselho estudantil onde Yuzu estudará durante um bom tempo de sua vida.

    A autora de Citrus é Saburo Uta. Pouca informação temos sobre a autora, inclusive sobre suas qualidades de trabalho já que não muito se esteve presente na mídia além de obras como: “AKB0048 Heart-Gata Operation” e “Juuou Mujin no Fafnir” como desenhista, “Choukyou Kareshi” e “Yuri Hime Wildrose” como além de desenhista, sendo também a roteirista. O mangá foi publicado na Ichijinsha, especificamente na sua bimestral Comic Yuri Hime em Novembro, em 18 de 2012, uma antologia de publicações de quadrinhos japoneses “Yuris”, termo conhecido por abordar histórias homossexuais entre garotas. Licenciado pela Seven Seas Entertainment, publicadora de mangás localizada em Los Angeles.

     

    Progressivo e Realista

    A história começa em um ritmo um pouco mais lento do que comum e esperado em histórias de seu gênero, onde os personagens são apresentados ao público de uma forma um pouco rasa – deixando seus passados, trejeitos, personalidade e outras características que o definem como pessoa a serem exploradas no futuro. Mesma coisa acontece em Citrus, mas podemos dizer que ele vai ficando cada vez mais frenético dando eventuais pausas curtas para o desenvolvimento dos personagens. Apesar de forma superficial e não muito focada, as amizades são bem exploradas e até mesmo relações entre personagens são desenvolvidas através de pequenos diálogos, gestos, enquadramentos do mangá de suas cenas e o que eles pensam das situações em que estão inseridos. Pequenos dramas envolvendo sobre como lidar com a sexualidade acontecerão – o descobrimento – mas não na forma de questionamento sobre se isso é o certo ou errado no meio daquela sociedade que ela está inserida, e sim se aprofundando em querer estar cada vez mais perto daquela pessoa que ela está sentindo um afeto.

    Junto a isso, temos um lance psicológico acontecendo entre as personagens principais pois elas moram juntas, seus pais estão namorando e elas cada vez mais se preenchem de dúvidas sobre o certo ou errado do relacionamento delas. Tanto como “irmãs” quanto como futuras “amantes”, por mais que o lance de romance entre as personagens principais seja fortemente explorado em capítulos futuros. O mangá consegue te entregar alguns acontecimentos de forma bem estruturada; momentos construídos pelo enredo que querem te passar uma sensação de progressão como por exemplo, o primeiro capítulo: que te apresenta como a protagonista é uma pessoa que acaba sendo muito influenciada pela mentalidade da realidade na qual ela está inserida, mesmo que ela discorde ou simplesmente não se sinta confortável a aquele ambiente. Também temos, no primeiro capítulo, a construção do relacionamento da personagem com a sua “irmã” e como isso poderá mexer com o seu psicológico não só como uma colega de escola ou familiar, mas também como ela deverá lidar estando perto de uma pessoa que mexe bastante com os seus sentimentos, despertando um lado que ela nunca tinha conhecido antes.

     

    O Grande Chamativo de Citrus: Uma Personagem Principal e uma Protagonista

    Em Citrus, nós temos uma personagem principal e uma protagonista – sim, me refiro a Mei como sendo a personagem principal e a Yuzu como sendo a protagonista. Acompanhamos a história pela perspectiva da Yuzu, que nos é a grande protagonista da história e que Saburo Uta quer nos fazer se simpatizar pelos seus dramas adolescentes em volta do descobrimento da sexualidade, o jogo psicológico que acontece em sua mente no início do primeiro capítulo quando a forma que ela lida com situações que ela não vê outra escolha a não ser as mentiras, somente para estar inserida dentro de um padrão de convivência e também o relacionamento de seus pais e como ela tem que lidar tanto com a sua nova irmã, quanto o seu interesse amoroso que a partir de determinado ponto da história, um ponto não tão tarde assim, acaba se tornando o personagem principal do mangá – exato, falo de Mei.

    Sem dar Spoilers de qualquer coisa, posso dizer que a personagem acaba se tornando um grande foco para Saburo. Apesar dela ter que trabalhar todos os personagens da sua história, ela iria ter que focar o desenvolvimento em uma personagem para que além de simpatizarmos com ela, termos um certo ponto de vista diferente da história sem mudar o protagonista. Nós vemos que as resoluções vão sendo dadas para a Yuzu de uma maneira condizente a sua idade e quando digo isso, me refiro a como ela vai lidando com seus “problemas” e “dificuldades” junto de seus amigos e futuramente, com o suporte de Mei. Nós vemos a história quase que por inteira, por sua perspectiva – seus pensamentos, maneiras de agir. Mas em contraste a isso, nas entrelinhas, nós temos as ações e os silêncios de Mei que podem ser capaz de nos dizer muito, como principalmente, o assunto do próximo tópico.

     

    A Importância Gigantesca de “Mei” na História
    (Imagina a dor de cabeça em alguém que carrega o peso de importância da história nas costas?)

    A personagem começa de uma forma muito genérica para os padrões de animes e mangás, principalmente para os padrões de personagens desenvolvidos para relacionamentos homossexuais desse gênero Yuri – a típica líder do conselho estudantil que é severa quanto as regras do ensino e de comportamento local, fará de tudo para manter a ordem mesmo que tenha de ser fechada emocionalmente, não se abrir para as pessoas com regularidade – não se abrir de maneira nenhuma, as vezes. Todas as vezes, um background é construído para justificar ações radicais da personagem e coisas que iriam contra a sua personalidade construída aquele momento. Para Mei, isso é diferente – não de uma forma inovadora, mas podemos dizer que ela não é tão dentro do padrão quanto pensamos. Desde o início da história quando ficamos a saber mais do círculo de amizade que está em torno da Mei, sabemos mais de sua personalidade, como ela é realmente fixada em manter a ordem e a preservação do certo naquele território que ela se estabeleceu como líder e, acima disso principalmente, o quão importante para ela é realmente ser vista dessa forma. Não sabemos disso de instância, mas a história nos mostra isso através de interações da protagonista com os outros personagens que já a conhecem como por exemplo, Himeko, a vice-presidente do clube estudantil e que está ao lado de Mei desde que elas eram crianças.

    Relacionamentos e descoberta de desejos sexuais por outras pessoas, nunca foi um segredo para Mei ou algo que ela não queira falar sobre, mas ela não torna isso um foco – podemos dizer que, assim como muitas coisas na sua vida, ela desistiu desse lado para focar em passar uma imagem autoritária, opressiva e de ordem. E ISSO é um contraste perfeito a ser construído em cima da personagem quando você tem Yuzu como protagonista e também o seu par romântico. Muitos momentos da história, notamos como ela é fria com Yuzu, dizendo que ela é um importuno e que não deveriam ter essa relação, quando na verdade eram seus sentimentos internos se conectando a ela de alguma forma e vemos mais disso quando em um momento da história conhecemos o pai da Yuzu e finalmente, o motivo dela ser tão obcecada pelo controle. Mei é importante para a construção da história não só por ser um grande espelho e reflexo do que é a Yuzu e o que ela quer, como também uma ferramenta que construirá todos os personagens ao seu redor através de suas interações com Yuzu e seus sentimentos quanto a ela e sua nova família. Apesar de o mangá utilizar muito do recurso “conveniência”, vemos o quão importante o personagem da Mei ser alguém recluso, fechado e continuar assim mesmo após se aceitar e decidir ir a fundo no seu relacionamento com Yuzu, é para a história pois é justamente isso que lentamente vai também envolvendo personagens secundários que estão naquele ciclo e tem muito a dizer sobre eles, aqueles que eles amam e que se envolvem e também sobre a obra em si e o que ela quer te passar.

     

    Expectativas para o Anime e Considerações Finais

    O Anime de Citrus está prestes a ser lançado, apesar de não termos uma confirmação de data e muito menos quem estará na direção e coordenação desses episódios, ainda é incerto inclusive o seu próprio formato, nós podemos esperar que de Citrus uma qualidade narrativa é existente e muito bem executada, dificilmente conseguiremos nos decepcionar com aqueles que estiverem com as mãos na rédea sobre o anime. Pessoalmente, eu preferia o formato de filmes ou OVAs, pelo simples motivo de que apesar do tempo de tele ser curto e até mesmo existir a possibilidade de que cenas e desenvolvimentos sejam ou cortados ou encurtados para que o processo de produção não se desenvolva completamente em cima de poucos detalhes – afinal, Citrus é uma obra que foca muito em seus detalhes como ditos na análise, é possível que por eles terem um ambiente fechado e mais centrado na hora de trabalhar, além de claramente terem o necessário para distribuirem os recursos exatos no desenvolvimento do anime, seja em traços ou trilha sonora, os episódios possuem uma chance de saírem com uma qualidade superior ao de uma série de televisão onde seus recursos são escassos para uma qualidade de animação superior.

    Apesar disso, jamais negarei uma série de Televisão de Citrus – o que parece ser mais evidente de que acontecerá, pois apesar disso, eu acredito no fundo do meu coração de que os responsáveis executarão um bom trabalho como uma adaptação pois, felizmente, nada desmanchará ou substituir o que já foi realizado por Saburouta em seus quadrinhos.

     

     

    Citrus é uma história sobre duas personagens que vão se descobrindo aos poucos, tanto fatos escondidos dentro de si como uma da outra. A conexão das personagens vai ficando cada vez mais forte e intensa, exatamente o que a história precisa para que outros personagens despertem de seus buracos – que mesmo dentro deles, possuem suas peculiaridades e particularidades que prestamos atenção nos detalhes cativantes de construção dado a eles. Além disso, a trama está em constante movimento, seja eles momentos aleatórios com pequenas mensagens e dicas do que ela quer dizer e o significado dela estar ali, quanto a importância narrativa para o desenvolvendo daqueles personagens.

    É um mangá bem desenhado, bem enquadrado – apesar de ter um capítulo em específico que a Saburo parece não ter tido tempo o suficiente para desenhar e o que vemos lançado é literalmente os primeiros tralos daquele capítulo ali, bem dirigido e, mesmo não objetivo no que quer passar, bem conciso. Ele trabalha um pouco com algumas conveniências, mas elas possuem um motivo para estarem acontecendo por mais que, colocadas em situações no nosso mundo, sejam um pouco forçadas mas fator esse que não diminui em nada o desenvolvimento daqueles personagens. É uma série que, apesar de ter o relacionamento gay como um tema central e também ser a preferência sexual daqueles personagens, não é nem de perto o grande foco da história por mais que ele seja repleto de cenas com amassos, beijos e até mesmo insinuações sexuais. Apesar disso, qualquer adolescente pode ler pois é altamente recomendável.

     

    Espero que vocês tenham gostado da análise e, principalmente, que tenha surtido uma criação de interesse naqueles que desconheciam da obra até então e que possam aproveitar o hype criado em torno da produção desse anime, para assistir a sua série de mangá e ficar por dentro do que está acontecendo na série até o seu atual momento. Contamos com a participação de vocês nos comentários, interações e discussões saudáveis e, principalmente, não deixem de acompanhar o trabalho duro da OtakuPT com nossos lançamentos diários de notícias e semanais nos conteúdos especiais dedicados a vocês, leitores.

     

    Obrigado pela presença.

    Tchau!

    Helder Archer
    Helder Archer
    Fundou o OtakuPT em 2007 e desde então já escreveu mais de 50 mil artigos sobre anime, mangá e videojogos.

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    Mateus Gott
    Mateus Gott
    13 , Julho , 2019 4:27

    Pra mim Citrus já poderia ter acabado. Atualmente é só enrolação

    Thelasthope
    Thelasthope
    13 , Julho , 2019 4:27

    Depois dessa analise me interessei mais pela obra. Como vai ganhar anime, vou ve-lo antes do manga, caso seja mal adaptado irei pro manga definitivamente.

    João Veiga Otaku Reformado
    João Veiga Otaku Reformado
    13 , Julho , 2019 4:27

    Antes demais devo dizer que gostei bastante do texto Wesley, acho que falou tudo que era necessário sobre Citrus.
    Agora falando um pouco do que acho da obra, acredito que não seja novidade para ninguém que Citrus é um de meus mangas favoritos eu realmente gosto MUITO dessa obra. Foi quase que praticamente o primeiro contacto que tive com uma obra Yuri, pelo menos foi o 1° manga, até então eu tinha apenas presenciado alguns momentos “Yuri” em animes e ai o meu interesse despertou até que encontrei Citrus para mim o melhor manga yuri que lê até hoje.
    Sou muito fã de obras do género sempre estou procurando por novas para ler, mas até hoje nenhuma me deixou tão animado como Citrus tem feito, as personagens são bem construidas e faceis de simpatizar a ponto de nos importarmos com elas, criando assim um envolvimento com a trama da obra nos deixando preocupados com os problemas que elas têm de enfrentar e como iram resolver os mesmos. O traço é limpo e muito bonito deixando tudo muito mais “emocionante”.
    Enfim não irei me prolongar muito mais dado que o Wesley descreveu muito bem a obra e assim como ele eu recomendo fortemente para quem ainda não leu e claro estou ansioso pelo anime, acho que nunca fiquei tão ansioso pelo lançamento de um anime *-*

    Ps: Achei bacana a menção a Ratana Santis eu demorei para ler as obras dela, mas depois de ter começado só parei de ler até estar em dia com elas e devo dizer que gosto muito do trabalho dela.

    Lucio
    Lucio
    13 , Julho , 2019 4:27

    Pretendo ver o anime antes….só pra ver se me interesso de vez porque sei que a obra é boa, se o anime segundo os leitores for bom só lerei o que ele não adaptar, mas se bem que pretendia ler tudo então acho que só não o vi ainda para poder aproveitar o anime.
    Mas uma vez eu ainda li alguns caps e posso dizer realmente é uma ótima obra.

    Luis Felipe Zortea
    Luis Felipe Zortea
    24 , Abril , 2021 15:19

    Esperando o dia que o OtakuPT vai tomar vergonha na cara e fazer análise de um mangá Yaoi. Com tanto mangá Yaoi por aí, e ficam fazendo análise de yuri. E yuri ruim, ainda por cima.

    João Oswald
    João Oswald
    5 , Junho , 2022 22:35

    Citrus só não é para mim… Mas funcionou para mim, e isso não tira o fato dele não ser muito bom.
    Citrus é uma obra “ok”, e posso dizer isso em quase todos os aspectos que compõem esse mangá, e acho que está tudo bem ser só “ok”. Não necessariamente um mangá voltado ao público jovem japonês, mas especificamente garotas jovens japonesas, terá o objetivo de ser super complexo em seu subtexto, ou mesmo nos apresentar uma grande saga, com grandes reviravoltas, e acho que é justamente isso que quem critica quadrinhos precisa entender, nem tudo precisa ser grandioso.

    A simples felicidade do cotidiano
    Ao longo de minha leitura, fui percebendo que a maior qualidade que Citrus tem a oferecer é seu ritmo descontraído, nos mostrando os dilemas, dificuldades e alegrias de uma jovem, no auge dos seus 16 ou 17 anos, e tenho certeza de que em algum nível, esse mangá trouxe um sentimento nostálgico em alguém. Até mesmo para mim, que não me identifico em nada com os acontecimentos e tramas ali apresentados, senti um pouco de nostalgia dessa época de colégio, onde nossa maior preocupação era fazer a lição de casa, ou então saber se a pessoa de quem gostamos também gosta da gente. Esse estilo de abordagem (ou gênero), o famoso “Slice of Life”, muitas vezes consegue nos evocar esse tipo de sentimento, uma nostalgia misturada com uma paz interior, que torna a leitura algo extremamente agradável, uma leitura sem compromisso, sabe? Quando nos sentamos ali no final da tarde, depois de um dia de trabalho, pegamos uma xicara de chá ou café e lemos um capítulo de uma história “boba” e descontraída… Pena que o Uta não se contentou com isso.

    O loop das tramas mal desenvolvidas
    Para uma história ser de fato uma história, se faz necessário um conflito, certo? Um inimigo a se enfrentar, um medo a se superar, algo que mova o personagem para frente, que movimente a história, o problema é que quando o conflito se torna banal, eu não sei até que ponto se faz necessário sua criação.
    Em Citrus, durante toda a leitura, conseguimos observar que o mangá é divido em vários arcos, e esses arcos por sua vez, sempre tem um “grande” conflito a se superar, o problema aqui é que esses conflitos nunca são de fato conflitos relevantes para a história que o Uta quer contar. Como por exemplo o arco da irmã Taniguchi, onde ela ameaça a Yuzu ser expulsa da escola devido ao seu jeito de se vestir, e a grande resolução desse arco foi um discurso de 10 palavras que a Yuzu fez, que comoveu o coração da irmã da Harumi. Eu fiquei capítulos acompanhando aquele arco, achando que ele serviria para algo! Para desenvolver um personagem, para apresentar um conflito que realmente impactasse a relação entre a Yuzu e a Harumi, mas nada disso realmente ocorreu. E essa estrutura é repetida a exaustão durante todo o mangá, onde se passa um breve momento de paz, e de repente ocorre um “grande” conflito a se superar, e esse conflito é superado 5 ou 10 requadros e pronto! Esse conflitos quase nunca servem para de fato trazer alguma riqueza narrativa para a obra, para desenvolver algum personagem ou movimentar a trama, são somente conflitos criados única e exclusivamente para alongar a publicação do mangá. Citrus facilmente poderia ter 5 volumes, ou até menos, caso Uta quisesse de fato desenvolver somente o ponto chave da obra, que é a relação da Yuzu com a Mei, relação essa que tem seus altos e baixos (mais baixos do que altos).

    A relação de poder em Citrus (ou não)
    Sim, Mei é uma personagem que abusa sexualmente de sua irmã, e sim, isso nunca é abordado de uma maneira minimamente seria ao longo do mangá. A relação de Yuzo e Mei me lembra muito um caso de “síndrome de Estocolmo”, onde a vítima se apaixona pelo seu agressor, e essa relação de poder fica bem explicita no mangá, mas não me entenda mal, em nenhum momento Uta quis ter uma discussão sobre relações de poder na sociedade japonesa, ele apenas achou legal desenhar uma mulher abusando sexualmente da outra.
    No decorrer da história, essas cenas vão ficando cada vez mais raras, até porque com o tempo Yuzu vai se apaixonando por Mei, e vice-versa, mas isso não exclui o fato de que essa relação disfuncional entre as duas não foi bem escrita, existiam várias maneiras de desenvolver esse romance, mas o autor escolheu o caminho mais fácil, onde após ser abusada sexualmente, Yuzu automaticamente vira lésbica e desenvolve um amor incondicional por Mei, e quando você pensa nisso de maneira mais crítica, você percebe o quão simplório isso é, não? Perceba, o problema aqui não é o fim, e sim os meios! Não seria muito melhor se, por exemplo, a Yuzu ficasse chocada com o fato da Mei ter virado sua irmã, e ainda por cima ter sido abusada por ela, com isso, ela fica relutante em sua convivência com sua nova irmã, e aos poucos elas vão se aproximando, e a Yuzu vai percebendo que a Mei só age dessa maneira, devido a sua criação muito exigente, onde desde a infância teve uma responsabilidade muito grande em suas costas, e para aliviar essa pressão, Mei encontrou em Yuzu o “corpo perfeito” para isso? Em poucas palavras eu consegui ajustar todo o argumento (argumento é o nome técnico de um roteiro resumido) desse mangá, o que não é um bom sinal, nem de longe.

    Páginas incompletas ou arte entediante?
    Como eu venho falando a um tempo em diversas outras análises, tanto a forma como o conteúdo devem sempre andar de mãos dadas para que um bom mangá se forme, mas eu tenho minhas dúvidas sobre a “forma” de Citrus. Não sei se foi só comigo, mas o design de personagens dessa obra é extremamente genérico, e muitas das personagens se parecem muito com as outras, como por exemplo a Yuzu e a Matsuri, elas tem, em essência, o mesmo design, os mesmos olhos, a mesma estrutura facial, só mudando o corte de cabelo, e isso me incomodou muito ao longo da minha leitura, mas não é só isso, o design das demais personagens também não é muito original, eu já vi por ai milhares de “Mei” em outros animes e mangás, então faltou uma certa criatividade do autor para construir melhor o design de suas personagens. Forma e conteúdo, não podemos esquecer disso, forma e conteúdo!
    O environment design desse mangá também é muito simplista, os cenários me parecem muito planos, sem uma profundidade que nos passe a impressão de que as personagens realmente estão inseridas naquele local. Os cenários desenhados, desde a casa da Yuzu até a escola, tudo me parece muito sem vida, é apenas um plano de fundo para que as personagens conversem. A melhor palavra que define os cenários desse mangá é “plano”, não há muito mais o que eu possa falar.

    Apesar de tudo, eu gostei! Fazer o que…
    Citrus está longe de ser a melhor obra de seu gênero, tão pouco consegue fazer o básico direito, como desenvolver um bom romance, que é a objetivo principal desse mangá, mas isso não tira o fato de que sua leitura é algo relaxante, algo simples, que te leva bons sentimentos. Antes de iniciar a leitura de Citrus, eu havia acabado de terminar Boa noite Punpun, ou seja, eu estava esgotado emocionalmente, e ao longo da minha leitura com Citrus, eu consegui sentir coisas que não estava sentido com Punpun, como por exemplo essa paz que citei acima. Uma analogia que posso fazer é o seguinte: Pense em Citrus como aquela sensação de chegar em casa, cansado do trabalho, você toma seu banho, come sua janta, e se encolhe debaixo da coberta em uma noite fria de sexta-feira… É uma sensação boa, não? É isso que sinto com Citrus.

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