Mais...
    InícioJogosAnálise: Shantae and the Seven Sirens

    Análise: Shantae and the Seven Sirens

    A Série Shantae está connosco já a algum tempo e a sua popularidade tem vindo a ganhar nome e dinamismo a cada dia. Quem diria que esta adorável, génio adolecente se tornaria numa figura bastante acarinhada, e num jogo de culto, apesar de ter surgido inicialmente numa plataforma em final de vida. Desde o seu título original no Game Boy Color a 2 junho de 2002, que Shantae e a sua série, têm sofrido algumas experimentações, quer sejam em conceitos como a mecânicas de jogo. Shantae and the Seven Sirens, é a mais recente entrada na série que pegou nos seus anteriores quatro episódios, moldou-os e adaptou-os, produzindo uma das melhores aventuras até a data.

    A nossa aventura começa uns meses após o final da anterior. A nossa heroína metade-génio, o seu tio, Bolo, e Sky são convidados para um festival protagonizado por entidades metade-génio numa estância de grande prestígio. Como se encontram num paraíso tropical e para descansarem os seus corpos e espíritos, também aproveitam a ocasião para tirar umas merecidas férias. Porém, esta realidade está longe de acontecer, isto porque quando Shantae e as suas novas cinco amigas sobem ao palco, para atuar no festival, todas menos a própria desaparecem misteriosamente. A jovem, pouco tempo depois encontra a sua arqui-inimiga, Risky Roots, em busca de um tesouro na ilha. Cabe a Shantae impedir que tal aconteça enquanto procura pelo paradeiro das suas amigas.

    A narrativa do jogo é a típica que estamos habituados, literalmente é funcional e pouco mais. As personagens também apresentam os mesmos moldes, sabendo muito bem quem são, atuando grande parte por intermédio das suas personalidades e características próprias. No entanto, como Shantae e o resto dos seus amigos, estão fora da Terra de Sequin, e estão num território desconhecido, também é adicionada uma leve camada de mistério no enredo, um fator pouco comum, nos anteriores jogos da série.

    Mesmo sendo simples, a história como já é hábito está carregada de humor. A impulsividade de Shantae face as outras personagens, tomou a maior fatia neste elemento. A nossa génio fora da lâmpada, ao longo desta aventura é confrontada quer pelos seus amigos, como pelos seus inimigos, para terem uma ideia o Squid Baron, procura pelas Dragon Bal– desculpem Dagron Balls. As outras metade-génio também apresentam personalidades distintas, cujas descobrimos mais a fundo no decorrer da aventura. São através destes pequenos, mas incisivos toques que a história e personagens de Shantae, conseguem singrar nesta indústria bastante competitiva.

    Ao contrário de Shantae Half Genie Hero, o jogo não adotou um género predominante de ação, voltando novamente a apostar em ambientes de RPG/Metroidvania. O jogador passará a maior parte do tempo a recolher habilidades para aceder a novas áreas. Ao contrário de muitos jogos, a dimensão não intimida o jogador. Através de um level design genial e áreas curtas conectadas de maneira consciente, o jogador sente conforto a explorar novas áreas e dominar técnicas.

    Cada vez que uma metade-génio é salva, recebe uma nova Fusion Magic. Estas atribuem ao jogador novas formas, que tornam a nossa energética dançarina de cabelos roxos num adorável tritão que se cola as paredes, ou uma broca para furar o solo. O jogador para aceder as estas habilidades, não tem de aceder menus, ou equipar formas. Basta simplesmente carregar ou manter premido o botão durante uma certa ação. Ao contrário da anterior aventura toda a jogabilidade é mais fluida, imersiva e ininterrupta, integrando-se no próprio ecossistema do jogo, e não criando o efeito de “uma semana da vida de Shantae” que sentimos em Half Genie Hero, quando por exemplo num momento colocava Shantae numa corrida de tapetes voadores, e no outro numa exploração de uma torre, mudando completamente de ambientes e jogabilidade.

    Outra das novidades em Shantae and the Seven Sirens, são as cartas de monstro, estas podem ser recolhidas aleatoriamente ao ser derrotado um monstro, e cada atribui uma nova habilidade passiva. Shantae pode equipar três destas para melhorar ainda mais o seu rol de recursos e poderes. Sinto que este elemento não atingiu o valor esperado, faltou-lhe um certo grau de maturidade, que já vimos noutros títulos com colecionáveis e sensivelmente muitas destas cartas apresentam os mesmos poderes umas das outras. Realmente sinto que neste paragrafo o jogo poderia ter desempenhado melhores funções, espero que esta característica não seja esquecida e volte a ser apostada em futuros lançamentos da série, porque mesmo simples revela já bastante potencial para a série.

    Contudo, outros elementos que são marca na série também voltam a ser resgatados em Shantae and the Seven Sirens, tais como as danças e obtenção de items. Quando Shantae recebe a magia das suas compatriotas, aprende uma nova dança. Ao invés das anteriores aventuras, aqui a nossa amiga não assume formas, mas sim adquire elementos que a ajudam na exploração da ilha. A nossa simpática heroína conseguirá danças para revitalizar a sua energia, ou avistar inimigos invisíveis por exemplo. No entanto como a aquisição destas são vitais para a progressão da aventura, o jogador muitas das vezes terá de fazer um leve backtracking, mas como as áreas apresentam muitos pontos comuns e existem alguns teletransportadores espalhados por toda a ilha, este elemento é quase uma mera formalidade.

    O meu único senão em Shantae and the Seven Sirens, e Metroidvanias no geral, está no mapa. Além de confuso não assinala as áreas onde é necessário usar um item ou uma habilidade, obrigando o jogador a recordar áreas. O pior é que na maior parte das vezes vai andar a percorrer os mesmos corredores, ainda mais porque muitos dos seus visuais partilham imensos conceitos comuns, apresentando as mesmas paisagens e inimigos. Felizmente as masmorras não só incluem um mapa próprio como ao obter este documento numa das arcas de tesouro podemos ver onde se situam aos pontos para salvar a partida, e o quarto onde se encontra a sereia a abater. As masmorras como um todo fizeram-me sentir que estava mais perto de um Legend of Zelda, do que um jogo de Shantae. A mesma não só é temática ao item que recolhemos, como nos confrontos com as sereias temos de usar a habilidade adquirida para vencer.

    Shantae and the Seven Sirens, também volta a apresentar lojas (com uma versão alternativa do Wii Shop Channel) de items. O jogador ao longo da aventura amealha gemas que pode usar para adquirir mais poderes e magias. O problema com este elemento, é que torna o jogo absurdamente demasiado fácil. A quantia não é muita para tornar Shantae muito cedo numa criatura bastante poderosa! Quer em magias, ou ataques de cabelo. Este fator se for abusado retira muito desafio a aventura, e pode tornar a mesma mais aborrecida. Tendo em conta a herança da Apple Arcade, penso que este elemento foi colocado para expandir a sua base de utilizadores, Shantae and the Seven Sirens, como um todo não envera pela mesma dificuldade de títulos como o Shantae original ou Shantae and the Pirates Curse.

    Como se a resistência de Shantae já não fosse elevada, a jovem ainda recolhe comida de inimigos derrotados que lhe enche a energia quase toda de imediato, e existem ainda várias lulas em toda a ilha. Ao recolhermos quatro destas criaturas e as levarmos a uma Squidsmith podemos aumentar a saúde da heroína para mais um coração. Para os jogadores que esperam um bom desafio, recomendo não abusarem demasiado de todos estes componentes.

    Graficamente Shantae and the Seven Sirens, é lindo! Os cenários são detalhados e vibrantes, todas as personagens estão carregadas de carisma e frescura, e as animações estão geniais, sempre com aquele toque de atenção aqui e ali. Basta simplesmente estar atento a própria Shantae. A nossa amiga quando está repleta de saúde dança e está alegre, quanto mais baixa for a sua saúde também será o seu ritmo de dança e as expressões também serão mais dolorosas e sofridas, são estes pequenos pontos que por vezes fazem a diferença. Pela primeira vez na série, Shantae apresenta pequenos vídeos animados criados para o jogo pelo aclamado Studio Trigger. Aqui confesso que senti um sabor agridoce, os vídeos embora curtos estão geniais, mas as animações e personagens sofrem demasiado do “efeito Trigger”, sendo que certas expressões exageradas e lutas cheias de explosões não se enquadraram muito bem num ambiente colorido de desenhos animados mais juvenil. Também a arte não se enquadrou tão bem como devia, com o que estamos a acompanhar no ecrã, um efeito que por vezes até senti artificial quando comparado a qualidade do resto do pacote.

    A banda-sonora de Shantae and the Seven Sirens, resgata novamente valores contemporâneos, mesmo com um novo compositor. O jogo além de pincelar os seus ambientes como melodias dignas das mil uma noites, quase sempre adicionou um leve toque de chiptunes bem característicos de títulos 8 bits. Além de contagiantes estão muito bem enquadradas em toda a ação, quer sejam momentos mais cómicos ou intimidantes. Também o número de vozes aumentou passando de grunhidos, palavras ou expressões a alguns diálogos. Para os interessados o jogo também está localizado em português do brasil, no entanto apenas o texto, já que na globalidade temos meramente vozes em inglês.

    Tecnicamente esta versão PC Steam está superior à sua anterior aventura. Para começar, o jogo finalmente suporta nativamente resoluções 4K nesta plataforma, que obviamente elevam os seus visuais a quase um desenho animado interativo, suporta também alguns efeitos novos nas luzes e sombras. Porém não sei se acontece com as anteriores de consola, mas nesta versão os carregamentos são exageradamente longos para um jogo nesta natureza, existem por vezes áreas que demoram mais de 15 segundos a carregar e isto vindo de uma unidade NVMe, um fator que achei deveras estranho, simplesmente apenas aborreceu, porque não transmitiu a mesma simbiose que já foi descrita nas outras áreas deste jogo.

    Shantae and the Seven Sirens, mantem-se fiel aos seus valores clássicos, enquanto tenta atribuir novos elementos a série como personagens e formas de jogar. Felizmente a sua herança de smartphone não foi sentida nesta transição para os PC. Apenas pequenos reparos como loadings demorados entre áreas e alguma simplicidade de jogo traduziram-se como os seus piores defeitos. Shantae and the Seven Sirens, dá mais uma razão para Shantae dançar a sua energética e carismática dança de ventre, estamos perante uma das suas melhores aventuras. Apenas não alcança o primeiro lugar no pódio porque nesse lugar está o sublime Shantae and the Pirates Curse. Assim sendo e concluindo esta análise, informo que Shantae and the Seven Sirens, é detentor de medalha de prata de tona dourados, deixo também a minha recomendação para se deixarem contagiar por esta aventura. RET-2-GO!

    Muito obrigado a Wayforward pela cópia PC Steam fornecida para análise.

    Bruno Reis
    Bruno Reis
    Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.

    Artigos Relacionados

    1 COMENTÁRIO

    Subscreve
    Notify of
    guest

    1 Comentário
    Mais Antigo
    Mais Recente
    Inline Feedbacks
    View all comments
    viitinh
    viitinh
    30 , Junho , 2020 12:55

    to quase zerando e muito bom mesmo

    - Publicidade -

    Notícias

    Populares