The Outer Worlds, é a mais recente aposta no mercado da Obsidian Entertainment, um estúdio criado em 2003 que após a dissolução da Black Isle Studios, decidiu fundar esta empresa. A Obsidian Entertainment é conhecida por ter no seu currículo obras lendárias como Fallout New Vegas, ou Star Wars: Knights of the Old Republic II: The Sith Lords. É com base nestas e grande parte de aprendizagens anteriores que teceram uma aventura que tem tanto de irreverente como interessante neste mercado.

The Outer Worlds convida o jogador a viajar até um futuro alternativo, governado por um regime totalitário, no qual a presidência americana claramente tomou outros rumos e entidades. Neste universo o Presidente Roosevelt nunca foi eleito, e consequentemente as suas medidas anti corporativas e reformas sociais contra monopólios nunca foram implementadas. O proletariado é visto simplesmente como uma ferramenta hilariantemente dispensável, e descartável para a sociedade em prol de empresas adquirem mais poder e domínio.

Devido a esta asfixiante realidade, a humanidade rapidamente se espalhou por outros sistemas solares em busca de melhores oportunidades e condições de vida. Como as viagens espaciais demoram décadas até chegar a destinos longínquos, os seus tripulantes são congelados criogenicamente até chegarem ao seu destino. Este devia ser o rumo que a tripulação da nave Hope, estaria destinada a trilhar até ao sistema solar Halycon. No entanto, ficou à deriva por mais de meio século, sem contacto exterior. Felizmente, ou infelizmente dependendo do ponto de vista de cada um, o jogador é acordado do seu sono profundo pelo excêntrico cientista Phineas Welles. Depois de criarmos à nossa personagem, através de um eficiente, mas igualmente muito limitado editor de personagens, é incumbida a missão de despertar os outros tripulantes, mas para que tal aconteça, antes teremos de nos aliar a um grupo rebelde, lidar com criaturas, e um exército de Marauders, cegos por um governo materialista.

Em The Outer Worlds, o jogador adota uma perspetiva em primeira pessoa enquanto interage com o ambiente quer seja em conversas ou combate. Os cenários citadinos estão carregados de humor negro, pois onde quer se se olhe não faltarão cartazes, mascotes incentivando propagandas e políticas antissociais. Depressa o jogador se irá aperceber que neste ambiente não existe nem certo ou errado, nada é tão simples como preto no branco, até porque é moralmente ambíguo, e teremos de escolher vencedores e vencidos. Não vão faltar casos onde não nos vamos orgulhar do desfecho de muitas situações causadas. Infelizmente este fator é muito abafado pelas próprias personagens com quem interagimos, pois, estas estão presas a uma condição psicológica extrema de aceitação, ou seja, mesmo que a vida ou trabalho seja duro, opressivo, e até incrivelmente injusto, acabam por se habituar e até abraçar com unhas e dentes a mesma. Obviamente que este apontamento não é novidade num jogo ou história, e já foi explorado em vários outros média, no panorama dos videojogos muito recentemente foi referido em Persona 5, quando os Phantom Thieves invadiram o palácio de Okumura. Devido a este pessimismo consciente, o jogo envereda por caminhos muito negros, atuando até como uma crítica social atual, e ao comunismo em diversas partes da sua história. Também foi refrescante experienciar uma história onde não existe um vilão central na mesma.

A narrativa consegue cativar o jogador, não só pelo desfecho como também pelo ambiente próprio do jogo. Infelizmente, e mesmo com a viagem entre vários planetas, esta aventura foi muito curta para standards RPG, e não demora muito a ser concluída, pois, serão precisas cerca de 35 horas mesmo com as quests opcionais realizadas. Contudo, The Outer Worlds, possui mecânicas e um certo charme que não só lhe atribuiu uma identidade muito própria como o separou da maioria de outras apostas no mercado. Para começar o seu aspeto, o jogo mesmo sendo situado num mundo futurista, apresentou uma sonoplastia e visuais incrivelmente reminiscentes dos anos 60. Muito curiosamente este pode ser outra referência oculta antiregime já que esta década ficou conhecida por várias manifestação tais como a manifestação francesa de maio de 68, ou nesse mesmo ano no Brasil contra um regime militar. Esta estética, anos 60, acompanhará o jogador em todos os pontos da aventura desde os seus ambientes, como até aos próprios menus, nestes a Tia Cleo, nos recompensará com novas estatísticas e uma habilidade extra cada vez que alcançarmos um nível.

Estas podem partir de simples aumentos de vida, até à nossa capacidade por empunhar armas de fogo ou armas brancas com mais eficiência. O combate é outro dos pontos-chave onde The Outer Worlds, brilha em todo o seu esplendor, pois, herda diversas mecânicas dos seus criadores noutras obras em que estiveram evolvidos. O sistema de pontos fracos de Fallout, sofre uns incrementos na forma como atua. Ao invés destes, o jogo envereda por uma mecânica do mais interessante. Cada inimigo tem vários partes do seu corpo que podem ser feridas, se atingirmos os seus braços estes disferem ataques mais fracos, se acertamos nas suas pernas os seus movimentos tornam-se mais lentos, e finalmente se atingirmos na sua cabeça, ficam cegos por um curto espaço de tempo. Ao contrário de Fallout o jogo também é mais rápido e incentiva o jogador a ter mais precisão nas zonas onde disfere danos. Este último recurso é incrementado com o suporte de uma habilidade de abrandamento de tempo, que recompensa os jogadores com dano extra.

Quer as armas brancas como as de fogo, os equipamentos todos deterioram-se com o seu uso e dano, e para tal o jogador deve visitar uma bancada de trabalho para proceder à sua reparação. Este sistema de uso, incentiva o jogador a empunhar várias categorias de armas, proceder a estratégias, e como interage com o inimigo. De salientar que mesmo esteticamente parecer num shooter na primeira pessoa, não deve ser encarado totalmente como tal, por exemplo, aqui disparos na cabeça serão pouco significativos, e não delinearmos estratégias eficientes. Nas bancadas de trabalho o jogador ainda pode melhorar os seus armamento e equipamentos através das peças que encontra nos seus inimigos e em várias arcas dispersas nos planetas. Muitas destas estarão trancadas e precisaremos de melhorar a nossa capacidade de hacking para as acedermos.

Esta é apenas uma das qualidades que o jogador precisará ter em mente cada vez que alcançar um nível. A nossa personagem possui uma certa quantidade de atributos que precisamos ter em mente quando usarmos os nossos pontos fornecidos. Embora as mais importantes sejam os danos e saúde da nossa personagem, teremos de ter bem ciente que necessitará também de carisma para conquistar a confiança das outras personagens, ou melhorar atributos de hacking para permitir a compra em máquinas, abrir portas e cofres que contêm itens e loot precioso.

The Outer Worlds, é uma aventura visualmente sublime. Os seus ambientes e estética estão muito bem conseguidos, cada planeta tem condições e relevo que o condiciona e separa do anterior. O único senão neste ponto visual remete para a caracterização e modelos de personagens npcs. As texturas são um pouco arcaicas para padrões mais modernos, e as suas animações poderiam ser melhor trabalhadas. Esta versão para PC Steam está muito bem otimizada, o jogo flui sem quaisquer problemas a 4k 60fps, sem quaisquer quedas em nenhum momento, mesmo com todos os efeitos no máximo tais como sombras ou oclusão ambiental no escalão mais elevado, ou seja, em ultra. Embora suporte taxas de quadros mais elevadas, o desempenho e a qualidade gráfica obviamente terão de ser sacrificadas, sem surpresa este efeito foi notório quando colocámos taxas superiores a 60 fps. Quanto ao som, embora seja envolvente apenas surge em pequenas partes-chave da história. Devido a este fator e como passamos grande parte do jogo a explorar ambientes este efeito é completamente inexistente resumindo-se a grunhidos, disparos e gritos.

The Outer Worlds, é uma aventura intensa e emblemática que mesmo não apresentando a mesma dimensão e escopo de outras propostas no mercado, consegue o seu destaque no mesmo por enveredar por estilo, mecânicas e estética muito próprias. Os videojogos podem ser também portadores de mensagens de crítica social como qualquer outro média. Este titulo neste registo não envergonha, pelo contrário até refere um período reminiscente que cada vez mais e de forma assustadora reflete a realidade atual.

Bruno Reis
Vindo de vários mundos e projetos, juntou-se à redação do Otakupt em 2020, pronto para informar todos os leitores com a sua experiência nas várias áreas da cultura alternativa. Assistiu de perto ao nascimento dos videojogos em Portugal até à sua atualidade, devora tudo o que seja japonês (menos a gastronomia), mas é também adepto de grandes histórias e personagens sejam essas produzidas em qualquer parte do globo terrestre.
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1102
1102
3 , Novembro , 2020 3:55

Sem querer ser chato, esse jogo tem personagem demais pra jogo de menos.

Bruno Reis
Bruno Reis
Reply to  1102
6 , Novembro , 2020 3:17

Como assim?