Quando Elden Ring Nightreign foi anunciado, confesso que fiquei intrigado e, honestamente, um pouco cético. Um roguelike ambientado no universo melancólico de Elden Ring? Não era exatamente o que eu esperava da FromSoftware depois do DLC Shadow of the Erdtree. Afinal, o jogo ficou conhecido por ter um mapa mais aberto, exploração recompensadora e um a sensação de progressão quase artesanal. Ainda que o spin-off não alcance a mesma profundidade ou densidade do mundo e da narrativa do original, consegue entregar uma experiência dinâmica com o foco no desafio constante perto da qualidade de Elden Ring.
Como seria de esperar, temos uma narrativa menos focada e igualmente diluída. Existem fragmentos de lore centrados nos personagens e no mundo do jogo, mas nada com o mesmo peso ou profundidade. É um jogo mais focado na ação e no desafio imediato, do que na contemplação ou construção de um mundo. Acredito que parte dos fãs esperassem mais uma oportunidade para mergulhar novamente nas camadas simbólicas e filosóficas típicas da FromSoftware, mas, por outro lado, penso que a produtora esteja também à procura de novos públicos que preferem experiências mais diretas e rápidas como costumamos ver nos roguelikes.

As diferenças na jogabilidade tornam-se imediatamente evidentes na estrutura de Elden Ring: Nightreign, que adota por completo a abordagem dos famosos roguelike. Desde o início, somos convidados a escolher entre vários personagens jogáveis — cada um com estilos de combate, atributos e habilidades distintas. Por enquanto existem oito personagens, uns centrados na força bruta e no ataque à distância, outros especializados no uso de magias e ainda aqueles mais ágeis, que se destacam na furtividade e em ataques rápidos. Esta variedade não só oferece diversidade na forma como combatemos e exploramos o mundo, como também incentiva a experimentação entre partidas, uma vez que cada personagem reage de forma diferente aos desafios aleatórios que vão surgindo no mapa.
A ação desenrola-se inteiramente em Limveld, uma única região que apresenta pequenas variações a cada sessão. A disposição das áreas muda consoante as expedições criando combinações inesperadas entre os ambientes de fantasia sombrios que já tivemos oportunidade de contemplar em Elden Ring. Mudanças como estas trazem uma sensação constante de novidade, conferindo uma imprevisibilidade visual a cada sessão. Contudo, apesar da diversidade, a essência da jogabilidade mantém-se focada na nossa capacidade de adaptação, conforme os acessórios, armas e itens que encontramos nos cenários ou quando derrotamos os oponentes.
Alguns dos chefes mais icónicos da série Souls, como o Nameless King ou o Centipede Demon, aparecem em Nightreign.
A cada nova expedição somos “obrigados” a tomar decisões rápidas e eficazes. O local onde “caímos”, acaba por influenciar bastante no caminho que vamos seguir. Por isso é fundamental focar-nos no essencial para que consigamos criar uma build eficaz. Para sobrevivermos aos 3 dias e duas noites, devemos eliminar os inimigos para conseguirmos subir de nível, procurar locais para aumentar o número de frascos de cura ou até adquirir buffs que expandem as capacidades da personagem que escolhemos.
Além disso, nota-se uma diferença marcante na forma como nos movemos pelo mundo. As personagens deslocam-se a uma velocidade impressionante, atravessando os cenários de Limveld com uma agilidade apropriada para o conceito aqui implementado. Isto porque o ritmo do jogo exige urgência constante, e aqui o tempo é um inimigo invisível mas sempre presente. Cada segundo é valioso e a rapidez com que conseguimos explorar, combater ou simplesmente fugir pode ditar o sucesso das nossas partidas.

É uma abordagem inspirada na lógica dos battle royale onde o mapa se fecha aos poucos, forçando-nos a mover para um território mais seguro. Em Elden Ring Nightreign, esta pressão obriga-nos a estar atentos e a prepararmo-nos para as grandes batalhas contra os chefes principais de cada noite. É uma boa forma de manter o ritmo constante e os jogadores sempre em movimento, sem espaço para complacência.
Tudo isto têm o propósito de nos preparar para o objetivo principal, os confrontos contra os soberanos Night Lords, criaturas que foram criadas especialmente para este título. Os seus combates são exigentes e acarretam um risco significativo: se formos derrotados, a sessão termina de imediato e com isso, todo o progresso é perdido, obrigando-nos a recomeçar quase do zero. Uma mecânica que reforça a tensão em cada batalha, colocando uma pressão constante sobre cada jogador, onde cada erro pode custar uma hora inteira de jogo.
No entanto, o jogo não é totalmente impiedoso. À medida que progredimos vamos desbloqueando relíquias que podem ser equipados nas personagens antes do início de cada expedição, oferecendo vantagens permanentes. Estes elementos funcionam como modificadores de atributos, como maior resistência, velocidade ou dano mágico, e por vezes, conferem pequenas habilidades ativas ou efeitos únicos aos ataques.

Outra diferença em Nightreign é ser totalmente focado no multijogador online. O jogo foi claramente desenhado a pensar na cooperação, permitindo sessões tanto a solo como em grupo com mais dois jogadores. Embora seja possível jogar sozinho, a experiência ganha uma nova dimensão quando partilhada com outros dois companheiros. As partidas tornam-se mais dinâmicas, estratégicas e, acima de tudo, mais divertidas, sobretudo porque os desafios se tornam mais geríveis quando enfrentados em equipa.
A solo, a experiência é significativamente mais tensa e exigente, os inimigos são implacáveis, os bosses exigem uma precisão quase cirúrgica e os Night Lords representam verdadeiros picos de dificuldade que na maioria das vezes são impossíveis de derrotar sem apoio.
Nightreign foi lançado dia 30 de Maio de 2025 e já vendeu mais de 3,5 milhões de cópias.
O problema mais comum neste género é que depois de um certo número de sessões, se começa a notar alguma repetição. Apesar da base roguelike conseguir manter o interesse nos primeiros dias, torna-se evidente que tanto o conjunto de personagens jogáveis como o ciclo de jogabilidade começam a carecer de variedade a longo prazo.
Não deixa de ser uma proposta cativante, que se torna ainda mais envolvente quando jogada com amigos. Para garantir a longevidade e manter a comunidade investida, será importante alimentar o jogo com atualizações regulares, incluindo novos personagens jogáveis, mais armas e artefactos, novos tipos de inimigos e, claro, Night Lords inéditos.

No que diz respeito ao caráter visual, o jogo mantém a excelência artística da FromSoftware. Mesmo com áreas mais reduzidas, a direção de arte continua incrível, com cenários marcantes e atmosferas densas, cores opressivas e inimigos que, apesar de não tão memoráveis quanto os do primeiro jogo, ainda carregam uma imagem suficientemente ameaçadora. A banda sonora continua a ser um exemplo do género, seguindo a mesma linha sombria e épica que fica facilmente no ouvido, embora adaptada para um novo ritmo.
Elden Ring: Nightreign é uma abordagem curiosa ao universo melancólico de Elden Ring, trocando a profundidade por acção rápida e estrutura roguelike sem perder a sua dificuldade implacável. Continua a ser divertido, especialmente com amigos, mas ao fim de um tempo pode sofrer com repetição e falta de variedade. Com mais conteúdo, pode efetivamente tornar-se numa experiência mais recompensante.