Apesar de conhecer bem o sucesso da série Mario Kart e o seu peso na história da Nintendo, a verdade é que nunca tinha mergulhado a sério no pandemónio das corridas de Mário e dos seus companheiros. Talvez por isso, entrar em Mario Kart World tenha sido para mim uma grande surpresa, ainda por cima sendo o primeiro jogo que experimentei na nova Nintendo Switch 2.
A minha curiosidade nasceu precisamente desse ponto: pela promessa de uma nova geração de consola, com melhores gráficos, maior fluidez e novas funcionalidades. E qual a melhor forma de a pôr à prova do que com um dos nomes mais icónicos da marca, Mario Kart, que arrancou em 1992 com o clássico Super Mario Kart na Super Nintendo.
Ao participar nas primeiras corridas, uma das coisas que mais me surpreendeu em Mario Kart World foi o equilíbrio notável entre acessibilidade e complexidade. Em poucos minutos, já me sentia confortável ao volante, a usar itens com alguma eficácia e até a conquistar as primeiras vitórias. A condução é intuitiva e o sistema de drift, quando bem dominado, faz realmente a diferença, sobretudo nas curvas mais exigentes. Tal como sempre foi tradição na série, os itens continuam a desempenhar um papel crucial, capazes de virar o rumo de uma corrida num instante.
O jogo consegue ser bastante receptivo para quem está a começar ou a jogar de forma mais casual. Funcionalidades como a assistência na condução, a aceleração automática e outros pequenos ajustes tornam a experiência mais acessível e menos frustrante, permitindo que qualquer pessoa se divirta desde o primeiro momento.
Entre os modos de jogo que Mario Kart World tem para oferecer, comecei naturalmente pelo modo Grande Prémio, que encarei quase como uma espécie de escola de condução. Aqui escolhemos uma taça — cada uma composta por quatro pistas — e competimos contra 24 pilotos em diferentes níveis de dificuldade. Pode parecer simples à primeira vista, mas é neste modo que o jogo revela verdadeiramente o seu carisma. Cada taça tem um tema distinto e cada pista consegue surpreender tanto a nível visual como mecânico, deixando para trás os tradicionais circuitos fechados e dando lugar a pistas interligadas de forma muito mais orgânica.
Uma corrida pode levar-nos a flutuar por uma cidade futurista cheia de painéis magnéticos e na seguinte, atravessar uma zona rural onde temos animais a cruzar o caminho. No mesmo circuito ora estamos numa zona tropical como mais adiante já nos vemos envolvidos por ambiente totalmente asiático, criando uma diversidade constante, sem nunca se tornar repetitiva. Algumas pistas exigem maior precisão, com curvas apertadas e secções aéreas que desafiam o controlo. Outras optam pelo caos puro, repletas de rampas, obstáculos móveis e mudanças abruptas de terreno. O desafio cresce naturalmente com o aumento da dificuldade, e é nesse momento que o jogo começa realmente a testar os nossos reflexos, capacidade de adaptação e memória visual.
No entanto, foi no modo Eliminatória que senti a verdadeira adrenalina. Neste formato, as corridas ganham um ritmo completamente diferente. Em vez de simplesmente corrermos por um lugar no pódio, a prioridade passa a ser a sobrevivência. A cada volta, os últimos colocados são eliminados, o que muda drasticamente a forma como se joga. Já não basta ser rápido é preciso ser consistente, saber quando e como usar os itens e estar constantemente atento à posição em que nos encontramos. Um erro, um item mal jogado ou uma curva mal calculada pode deitar tudo a perder em segundos.
Os jogadores podem também usufruir dos modos Batalha de balões e moedas, Contrarrelógio e outros.
Este modo torna-se rapidamente viciante, especialmente porque transmite uma sensação de competição real, como se estivéssemos sempre a disputar uma final. A imprevisibilidade de cada corrida torna tudo mais intenso e impressionante. Dei por mim com vontade de voltar a este modo vezes sem conta, principalmente no modo online. A competição é incessante, mas é precisamente isso que torna o modo Eliminatória tão aditivo.
No que toca ao modo online, a sensação de competição atinge um nível totalmente diferente, especialmente no modo Eliminatórias. Correr contra jogadores experientes de todo o mundo eleva a intensidade das corridas a um novo patamar. É neste ambiente que colocamos realmente à prova tudo o que aprendemos nos modos offline contra os NPCs. As corridas estão longe de ser fáceis. A maioria dos adversários conhece as pistas de trás para a frente e domina os truques certos para nos dificultar a vida ao longo do percurso. Não há espaço para erros, e o caos, que já é habitual nos modos tradicionais, torna-se ainda mais impiedoso. O único ponto negativo é o tempo de espera para iniciar uma corrida. Em várias ocasiões, esperei perto de 10 minutos até conseguir entrar na primeira partida.
Já no modo multijogador, a experiência é bem mais imediata e descontraída. Podemos partilhar as corridas com amigos ou familiares, até quatro jogadores, mantendo toda a adrenalina das partidas, mas com um espírito mais descontraído sem perder a diversão.
A grande novidade de Mario Kart World é o seu modo livre que se tornou uma das formas mais agradáveis de explorar tudo o que o jogo tem para oferecer, sem a pressão típica da competição. É uma verdadeira alegria poder percorrer as pistas ao nosso ritmo, sem contagens decrescentes, sem adversários e sobretudo, sem a constante necessidade de chegar em primeiro lugar. Este modo oferece um espaço perfeito para explorar com calma, experimentar e desbloquear novos veículos e personagens, ou simplesmente apreciar o nível de criatividade e detalhe com que a Nintendo construiu cada cenário.
Com a enorme variedade de ambientes disponíveis, o modo livre transforma-se quase numa viagem de descoberta. Mas não se limita apenas a ser uma experiência contemplativa, há também várias atividades paralelas que acrescentam profundidade e desafio. Por exemplo, temos missões específicas que colocam à prova o nosso domínio da condução, medalhões da Peach estão escondidos pelos mapas à espera de serem encontrados, e os painéis exigem precisão e perícia para serem alcançados.
A variedade de personagens e veículos é também impressionante. O jogo conta com mais de 40 personagens, muitos dos quais podem ainda desbloquear diferentes trajes alternativos. Desde as figuras clássicas da Nintendo como Mario, Luigi, Peach e Yoshi, até escolhas mais inesperadas como a engraçada vaca Cow.
Quanto aos veículos, a diversidade também é notável. Entre karts, carros e motos, cada transporte apresenta características próprias que influenciam diretamente o desempenho em pista: aceleração, velocidade, peso e controlo. Esta variedade permite experimentar diferentes combinações e encontrar o estilo de condução que melhor se adapta a cada um ou a cada pista. Existem ainda outros pontos a ter em atenção, como o peso das personagens que influencia o desempenho do veículo.
Dentro as novidades destacam-se a mecânica de rebobinar e a possibilidade de conduzir nas paredes verticais e derrapar sobre superfícies. O rebobinar é uma adição extremamente útil que permite que voltemos atrás alguns segundos durante as corridas a solo. Seja para corrigir um erro ou para experimentar uma abordagem diferente, permitindo-nos aprender e melhorar as nossas táticas.
Já a possibilidade de conduzir nas paredes e derrapar sobre superfícies traz uma dimensão extra às corridas. Não só oferece novas formas de alcançar itens mais difíceis ou descobrir atalhos escondidos, como também abre novas oportunidades para ultrapassagens criativas e estratégias diferentes em cada circuito.
Outra adição que apreciei foi o modo fotografia. Com a possibilidade de parar a ação a qualquer momento, ajustar o ângulo da câmara e capturar o instante certo, é uma forma divertida de registar a nossa experiência em jogo. Embora não seja essencial à jogabilidade, é uma forma divertida captar o detalhe e valorizar a criatividade dos cenários e dos personagens.
Há imenso para apreciar em Mario Kart World, uma experiência que se destaca pela forma como consegue equilibrar a diversão constante e o tradicional com a inovação. Os modos de jogo oferecem variedade, adaptando-se tanto a jogadores casuais como a veteranos da série. O novo mundo interligado foi cuidadosamente transformado de forma orgânica e cheia de vida, com pistas que transbordam de criatividade e movimento. A juntar a isso, temos um incrível leque de personagens e veículos que junto às novas mecânicas, acrescentam mais conteúdo, liberdade e ferramentas para dominar as corridas.
Além dos itens tradicionais da série, como a carapaça verde e a bala de canhão, foram acrescentados novos itens como a flor de gelo, o martelo, o megacogumelo, entre outros.
Graficamente, Mario Kart World é um grande salto para a série e um excelente cartão de visita para a Nintendo Switch 2. Desde o primeiro momento em pista, é impossível não reparar no estilo visual que envolve cada corrida. Os cenários vibrantes, aliado a cores fortes e texturas, receberam ainda mais pormenor, com uma direcção artística que continua a equilibrar o estilo clássico da série com um nível de detalhe técnico impressionante. O mundo que nos rodeia consegue ser bastante vivo. Podemos ver isso com os ambientes a reagir às corridas, o tempo a mudar, os reflexos na água e pequenos elementos como folhas ao vento, neblina ou efeitos de luz acrescentam profundidade aos visuais.
Os personagens foram do mesmo modo melhorados, com modelos mais sofisticados, animações fluidas e expressões faciais que trazem mais vivacidade ao jogo. Tudo o que apontamos corre de forma suave, mesmo com múltiplos elementos em movimento e a velocidades elevadas, o que demonstra a evolução do novo hardware da Nintendo Switch 2.
Apesar da performance sólida, durante as partidas online que se tornam na maioria das vezes caóticas, notei algumas quedas de FPS, principalmente ligada à dock, ainda que não afete a fluidez de Mario Kart World.
A banda sonora de Mario Kart World dá continuidade a tradição da série, entregando uma combinação de temas clássicos com arranjos modernos e temas originais que acompanham extraordinariamente bem o ritmo do jogo. Cada pista apresenta a sua identidade sonora, com músicas que variam entre melodias alegres a melodias mais intensas que reforçam o desafio sentido nas corridas. Além disso, há uma maior variedade de efeitos sonoros, como o barulho das derrapagens, o som dos itens, dos elementos dos cenários e etc.
Mario Kart World revelou-se uma enorme surpresa. Com uma jogabilidade intuitiva, modos emocionantes, grande variedade de pistas e personagens, e um universo dinâmico e vibrante, o jogo tira pleno proveito do lançamento da Nintendo Switch 2 para oferecer uma experiência genuinamente divertida.
A introdução de novos modos e mecânicas demonstra um claro compromisso da Nintendo em evoluir a fórmula sem perder a natureza e o encanto da série. Seja a jogar a solo, com amigos ou em intensas corridas online, Mario Kart World proporciona longas horas de entretenimento, criatividade e competição. Fica claro que é um excelente começo para a nova geração da Nintendo e uma obra essencial para quem é fã de Mario Kart.
