A plataforma de streaming Kick foi rápida a responder à morte do streamer francês Jean Pormanove com o banimento de todos os co-streamers envolvidos nas streams controversas. A medida surge após crescente pressão das autoridades francesas e de críticos que acusam a plataforma de não ter intervindo atempadamente.
Raphaël Graven, de 46 anos, conhecido online como Jean Pormanove, morreu a 18 de agosto. Nos dias que antecederam a sua morte, foi alegadamente submetido a “dez dias e noites de tortura” pelos streamers Naruto e Safine. Vídeos virais que circulam nas redes sociais mostram Pormanove a ser agredido, estrangulado e atingido com armas de paintball durante as transmissões ao vivo.
Podemos ler no comunicado:
Lamentamos profundamente o falecimento de Jean Pormanove e apresentamos as nossas sinceras condolências à sua família, amigos e comunidade.
Todos os co-streamers que participaram nesta transmissão em direto foram banidos enquanto a investigação continua.
Estamos empenhados em cooperar plenamente com as autoridades durante este processo. Além disso, terminámos a nossa relação com a antiga agência de redes sociais francesa e estamos a realizar uma revisão completa do nosso conteúdo em francês.
A nossa prioridade é proteger os criadores e garantir um ambiente mais seguro na Kick.
Dès lors Owen a convaincu JP de se lancer avec lui en stream IRL avec son ami Safine. C’est là que les sévices physiques ont commencé, petit à petit, avec de nouveaux paliers de violences tous les mois. pic.twitter.com/a9Arl58IWM
— OuaisGᴜᴇsʜ ☭ (@GueshCtrl) August 18, 2025
Um dia após a morte, as autoridades francesas abriram uma investigação judicial. Clara Chappaz, ministra francesa dos assuntos digitais e IA, afirmou que Pormanove tinha sido “humilhado e maltratado durante meses ao vivo na Kick” e criticou a falta de intervenção da plataforma.
A conta francesa da Kick confirmou agora que todos os streamers que participaram nas transmissões foram banidos enquanto a empresa conduz uma investigação interna própria. “Estamos empenhados em cooperar plenamente com as autoridades neste processo”, declarou a plataforma.
A empresa anunciou também o fim da colaboração com a sua antiga agência de redes sociais francesa, após enfrentar críticas por publicações que usavam imagens de Pormanove para promoção. A Kick está a realizar uma revisão completa das suas operações francesas para prevenir incidentes similares.
Críticas às políticas de moderação
A resposta não silenciou os críticos. Sarah El Haïry, Alta Comissária francesa, condenou a Kick por não ter intervindo mais cedo. “As plataformas têm uma responsabilidade imensa na regulamentação do conteúdo online para que os nossos filhos não sejam expostos a conteúdo violento”, escreveu na rede social X.
Entretanto, um dos alegados agressores de Pormanove, Owen ‘Naruto’ Cenazandotti, afirmou ser agora vítima de uma “campanha de ciberbullying”. O seu advogado anunciou que será apresentada uma queixa contra aqueles que o assediaram desde a morte de Pormanove.
A ministra Chappaz confirmou a 20 de agosto que “está em curso uma investigação sobre as alegadas ações dos streamers na sequência de denúncias do Mediapart, conduzida pelo serviço de polícia judiciária de Nice sob várias acusações”.
Em janeiro de 2025, Naruto e Safine foram brevemente detidos sob suspeita de produzir transmissões ao vivo que exploravam indivíduos vulneráveis, tendo sido libertados no mesmo dia.
“A justiça realizará o seu trabalho para fazer avançar esta investigação e esclarecer as circunstâncias trágicas da morte de Jean Pormanove… Todas as plataformas têm a responsabilidade legal de remover conteúdo claramente ilegal do qual têm conhecimento”, explicou a ministra.
O streamer estrela da Kick, Adin Ross, pediu “consequências severas” na sequência da morte de Pormanove. Ross revelou também ter falado com o rapper Drake e que, em conjunto, irão cobrir as despesas do funeral do streamer.
A situação reavivou preocupações antigas sobre as políticas de moderação da Kick. Embora a plataforma tenha feito esforços para se distanciar de conteúdo controverso nos últimos anos, as autoridades francesas exigem agora salvaguardas mais rigorosas na sequência da morte de Pormanove.
