A remoção em massa de videojogos com conteúdo adulto de plataformas como Steam e Itch.io levou o político japonês e antigo deputado Zenko Kurishita a denunciar publicamente os métodos de censura das empresas de cartões de crédito. Numa entrevista recente ao Denfaminicogamer, Kurishita descreveu estes mecanismos como deliberadamente invisíveis e exploratórios da ignorância pública.
Kurishita, conhecido por ter combatido as restrições legais ao tempo de jogo das crianças em 2020 e por defender consistentemente a liberdade de expressão, considera que o problema mais perigoso desta censura reside na sua natureza oculta. Embora a questão só recentemente tenha ganhado atenção mundial, no Japão é uma realidade desde 2022, quando começaram as pressões sobre plataformas de conteúdo adulto como a DLsite.
O político explica que empresas como a Visa e Mastercard, sendo companhias privadas com enorme poder sobre os pagamentos digitais, operam sem transparência sobre as suas verdadeiras intenções. Para além de declarações vagas sobre proteger a reputação da marca, não divulgam os seus princípios ou critérios de forma clara.
Baseando-se na comunicação com partes afetadas pelas restrições, Kurishita revela que mesmo as plataformas não recebem razões ou regras claras. Pelo contrário, são confrontadas com ultimatos de curto prazo que as forçam a errar pelo lado da segurança, procedendo a eliminações massivas de conteúdo. Não conseguem descobrir que conteúdo específico causou o problema e são obrigadas a agir rapidamente para não perderem as opções de pagamento mais utilizadas.
As pessoas com quem falei em várias plataformas dizem-me que simplesmente lhes comunicam: a partir da próxima semana, já não poderão usar os nossos serviços de pagamento. E nem sequer é comunicado diretamente pela Visa ou Mastercard, é transmitido indiretamente através de adquirentes ou processadores de pagamento, explica o político.
Esta comunicação indireta e mensagens vagas são, segundo Kurishita, deliberadas e constituem a parte mais problemática da questão. O antigo deputado considera particularmente preocupante o facto de ninguém assumir responsabilidade, especialmente no que está a acontecer na Steam.
A responsabilidade pela censura é deliberadamente dispersa para ser difícil de identificar. De facto, a Visa e Mastercard negam estar diretamente envolvidas. São elas que criam as regras, mas são os adquirentes e processadores sob o seu controlo que as fazem cumprir, afirma Kurishita.
A complexidade da estrutura torna impossível identificar claramente quem regula o quê ou com que propósito. Essa incerteza é a parte mais assustadora e a essência do problema. Precisamente por ser tão difícil de ver, a maioria das pessoas não percebe quão séria é esta ameaça. E as empresas estão a explorar essa falta de conhecimento para manter o seu poder, o que não é saudável.
Para Kurishita, a solução passa por aumentar a consciencialização e diversificar as opções de pagamento, especialmente no Japão, que considera um país muito dependente em termos de infraestrutura de pagamentos. Se gigantes como a Visa e Mastercard enfrentassem concorrência real e a ameaça de perder quota de mercado, provavelmente não conseguiriam fazer movimentos tão agressivos.