A indústria dos mangá é conhecida mundialmente pelo seu rigor e qualidade, mas por detrás dos sucessos que conquistam milhões de leitores esconde-se uma realidade laboral implacável. Recentes declarações de dois dos mais conceituados criadores da Weekly Shonen Jump vieram expor as condições extremas em que trabalham os mangakás.
Eiichiro Oda, o criador de One Piece, dirigiu-se recentemente aos jovens aspirantes a mangaká com uma mensagem que, apesar de encorajadora, revela a dureza desta profissão.
Durante a cerimónia do Prémio Tezuka, que acontece duas vezes por ano e permite a novos criadores submeter manuscritos de 31 páginas, Oda foi direto ao assunto: “Submeter um manuscrito de 31 páginas deve ser fácil”. A afirmação pode parecer arrogante, mas tem por base uma realidade brutal. Se enveredarem por uma carreira como mangaká podem esperar criar 900 páginas por ano..
Oda’s message to aspiring young mangaka has been going viral in Japanese Twitter community.🔥 Here is my translation. https://t.co/MvFsw55O1k pic.twitter.com/vrt71xxAmx
— sandman (@sandman_AP) September 6, 2025
Esta rotina desenfreada não permite falhas. Yuki Tabata, criador de Black Clover, experimentou na pele o rigor da editora Shueisha quando se atrasou na entrega de um manuscrito devido a um evento em Barcelona. Após regressar ao Japão, foi obrigado a ficar num hotel próximo das instalações da editora para terminar o trabalho antes de poder ir para casa.
A pressão constante levou Tabata a transferir Black Clover da Weekly Shonen Jump para a Jump GIGA, uma revista com exigências menos rigorosas. Esta mudança simboliza a necessidade desesperada de “espaço para respirar” que muitos criadores sentem.
O caso não é isolado. Yoshihiro Togashi, autor de Hunter x Hunter, tornou-se um exemplo extremo das consequências desta cultura de trabalho implacável, com as suas constantes pausas na publicação devido a problemas de saúde relacionados com o stress laboral.
One Piece, com os seus 28 anos de publicação ininterrupta, representa um feito que dificilmente será igualado. No entanto, este sucesso teve um preço: anos de trabalho consistente sob uma pressão que poucos conseguem suportar. As palavras de Oda aos jovens aspirantes não são apenas um aviso, mas um reflexo da realidade de uma indústria que, apesar de criar algumas das histórias mais amadas do mundo, continua a exigir sacrifícios enormes dos seus criadores.
A Weekly Shonen Jump mantém-se como a revista de mangá mais prestigiada do mundo, mas as recentes revelações dos seus próprios criadores levantam questões importantes sobre a sustentabilidade deste modelo de trabalho e o bem-estar dos artistas que alimentam esta máquina imparável de mangá.
