A Agência Nacional de Polícia do Japão anunciou um projeto piloto que começará no próximo ano, utilizando inteligência artificial para identificar indivíduos com potencial para cometerem atos terroristas através da análise das suas publicações nas redes sociais. A iniciativa surge na sequência dos recentes ataques contra figuras políticas japonesas, incluindo o assassinato do antigo primeiro-ministro Shinzo Abe e a tentativa de homicídio contra Fumio Kishida.
O sistema de IA será programado para procurar publicações que contenham ameaças de violência ou elogios ao terrorismo, analisando posteriormente o histórico de publicações do utilizador para identificar padrões comportamentais. Com base nesta análise, a tecnologia atribuirá um valor de risco a cada pessoa, permitindo às autoridades priorizarem os casos mais graves.
A medida responde a um problema real de segurança pública. Antes de uma aparição pública de Kishida na estação JR Funabashi, na prefeitura de Chiba, em julho passado, a polícia detetou uma publicação que ameaçava: “Mato-o se ele vier”. Após investigação, o autor da mensagem alegou estar embriagado quando a escreveu, mas recebeu uma advertência formal.
Segundo a Agência Nacional de Polícia, foram identificadas cerca de 900 publicações similares apenas no mês anterior às eleições deste ano. A análise manual de todas estas ameaças representa um enorme consumo de recursos humanos, justificando a implementação da automatização através de IA.
O sistema será treinado para reconhecer tanto palavras diretas como “bakudan” (bomba) como termos de gíria online em constante evolução, incluindo “56su” (matar) e “4ne” (morrer). Esta capacidade de adaptação à linguagem digital pretende acompanhar a forma como os utilizadores contornam filtros através de códigos e abreviações.
A Agência Nacional de Polícia especificou que o programa visa particularmente atacantes solitários, não afiliados a organizações terroristas. Este perfil corresponde ao caso do homicida de Shinzo Abe, cujas ações se enquadram tecnicamente na definição de terrorismo apesar de não estar associado a grupos extremistas.
A medida gerou reações mistas entre os utilizadores japoneses das redes sociais. Alguns comentários expressaram preocupações com a privacidade e liberdade de expressão, com comparações a sistemas distópicos ficcionais como o filme Minority Report ou o sistema Sibyl da série anime Psycho-Pass.
Outros utilizadores questionaram a eficácia da medida, argumentando que verdadeiros terroristas dificilmente divulgariam publicamente as suas intenções, enquanto alguns manifestaram curiosidade sobre a sua própria classificação de risco no sistema.