Lançado originalmente em 2006 pela Bethesda, The Elder Scrolls IV: Oblivion marcou um ponto de viragem nos RPGs ocidentais. O sucessor direto de Morrowind, procurou oferecer um mundo mais acessível, visualmente impressionante para a época e ainda mais aberto à exploração. Na altura, foi aclamado pela liberdade concedida ao jogador, pelo sistema de facções que permitia múltiplas linhas narrativas e pela sua escala ambiciosa, combinando uma narrativa épica com pequenos detalhes da vida quotidiana no mundo de Cyrodiil. Apesar de algumas críticas, nomeadamente às interações artificiais dos NPCs e à dificuldade desbalanceada dos inimigos, Oblivion consolidou-se como um clássico e inspirou muitos dos RPGs que se seguiram.
Desta forma, a produtora decidiu trazer de volta este clássico, agora no formato remasterizado, intitulado The Elder Scrolls IV: Oblivion Remastered para as consolas e PC. Todavia, na minha perspectiva, poucas alterações foram feitas na jogabilidade, a verdadeira transformação reside na componente gráfica, que atualiza e moderniza vários aspetos que já se sentiam datados desde 2006.

Começando pela narrativa, esta inicia de forma simples, mas eficaz: o jogador assume o papel de um prisioneiro, uma fórmula recorrente na série, e vê-se envolvido nos últimos momentos de vida do Imperador Uriel Septim, interpretado por Patrick Stewart (X-men e Star Trek), que lhe confia a missão de encontrar o seu herdeiro perdido. A partir daqui, abre-se a narrativa, onde surgem vários portais por todo o reino, libertando demónios que ameaçam destruir tudo ao seu redor.
O ponto forte de Oblivion reside na liberdade narrativa. Podemos acompanhar a campanha principal ou perder-nos em várias missões secundárias, como as da Irmandade Negra, da Guilda dos Ladrões ou da Guilda dos Magos, cada uma com enredos próprios tão envolventes que, por vezes, superam o objetivo principal. Por outro lado, a escrita, embora competente, não alcança a densidade política e filosófica que muitos de nós experienciamos em Morrowind.
Na jogabilidade, Oblivion Remastered destaca-se pela densidade e flexibilidade. O sistema de classes permite-nos escolher arquétipos clássicos ou criar uma personagem personalizada, combinando diferentes habilidades. É fascinante poder abordar os combates de várias formas: furtivamente, com arcos e adagas; magicamente, com feitiços elementares ou invocações; corpo a corpo, com espadas, machados e martelos; ou até socialmente, através de persuasão e diplomacia.

Ainda assim, dois problemas persistem: a dificuldade desequilibrada contra certos inimigos que por vezes gera situações absurdas, como bandidos equipados com armaduras de elite e a rigidez do combate, que ainda se sente nos movimentos e nos ataques, mesmo nesta versão remasterizada.
Este remastered acrescentou algumas melhorias de qualidade de vida, incluindo a possibilidade de correr, menus mais intuitivos e a adição de uma mira mais funcional para o uso das magias e arcos.
A exploração mantém intacta a sensação de aventura. O mundo de fantasia medieval de Oblivion Remastered apresenta-se vasto e diversificado, onde cada cidade, floresta, montanha ou templo em ruínas parece esconder algo digno de descoberta. Uma gruta abandonada pode revelar um baú com tesouros, enquanto um caminho secundário pode conduzir a encontros inesperados ou a pequenas histórias contadas através de diários esquecidos, detalhes ambientais ou personagens enigmáticos.
O jogo continua a surpreender pela forma como dá vida ao seu mundo, lembrando as obras de de J. R. R. Tolkien, mas essa abundância pode ser uma armadilha para os menos organizados. Após algumas horas de exploração, podemos sentir-nos perdidos, com dezenas de tarefas inacabadas e com a sensação de sobrecarga devido ao excesso de possibilidades.

Este remaster procura revitalizar The Elder Scrolls IV: Oblivion sem lhe retirar a identidade. Os gráficos foram modernizados, com texturas em alta definição e um sistema de iluminação que transforma completamente a atmosfera dos ambientes. As animações e a inteligência artificial foram igualmente melhoradas, tornando os NPCs mais expressivos e com comportamentos mais naturais, ainda que em certos casos continuem estranhos. A interface também foi redesenhada, tornando a navegação mais intuitiva para os jogadores. Além disso, o jogo integra agora as expansões Knights of the Nine e Shivering Isles, garantindo continuidade narrativa sem quebrar o ritmo da experiência.
Contudo, a versão para a PlayStation 5 de The Elder Scrolls IV: Oblivion Remastered apresenta problemas de desempenho que deixam a desejar em determinadas situações. Apesar das melhorias gráficas, o jogo tem dificuldade em manter uma taxa de quadros estável, especialmente em áreas abertas ou com grande densidade de elementos no cenário. Alguns problemas gráficos específicos incluem glitches visuais, como tonalidades azuladas ou esbranquiçadas em certas áreas, assim como inconsistências na iluminação e nas texturas.
Foram acrescentadas novas linhas de diálogo e novas vozes por raça para tornar as interações mais naturais e variadas.
A imersão é também reforçada pela banda sonora que nesta versão mantém toda a sua qualidade. Composta por Jeremy Soule, a música captura a atmosfera do reino, alternando entre temas épicos, durante os combates, e melodias suaves que tornam a exploração mais envolvente. Nesta versão remasterizada, não existem composições novas, mas a qualidade do áudio foi significativamente aprimorada, com um som mais limpo que permite apreciar cada detalhe com maior precisão.
Quase duas décadas após o lançamento original, The Elder Scrolls IV: Oblivion Remastered consegue reviver com sucesso a magia do clássico, entregando um mundo aberto vasto e detalhado, repleto de histórias paralelas e oportunidades de exploração. A nova roupagem gráfica confere uma nova vida ao reino de Cyrodiil, tornando a aventura mais imersiva e visualmente apelativa. Ainda assim, não está isento de falhas técnicas na PlayStation 5 e limitações pontuais na jogabilidade que foram herdadas do produto de 2006.