O mangá Hell’s Paradise: Jigokuraku tem-se destacado como uma das obras mais distintivas da nova geração de títulos shonen, combinando elementos de ação intensa com uma profunda exploração de iconografia religiosa e espiritual. Durante o evento Anime NYC, o criador da série, Yuji Kaku, e o produtor do anime, Kirito Iwashita, partilharam detalhes sobre o processo criativo por trás desta obra singular.
Kaku revelou que a rica simbologia religiosa e mitológica presente na série não resultou de investigação específica, mas sim de uma síntese natural dos seus interesses pessoais. “Peguei em tudo o que já apreciava e adorava e embrulhei tudo no mundo da obra. Em vez de procurar adicionar elementos que estavam fora da minha paixão, tudo no mundo vem de um lugar de paixão dentro de mim”, explicou o mangaká.
Uma das revelações mais surpreendentes da entrevista foi a influência do cinema de terror na obra. Kaku confessou que o horror é o seu género cinematográfico favorito, citando Texas Chainsaw Massacre como uma inspiração constante desde a infância. Esta influência manifesta-se particularmente nas cenas mais violentas da série, sendo que o criador destacou como favorita a sequência de luta do episódio 2, onde Gabimaru aparece “ensanguentado em combate”.
Além do cinema americano, Kaku mencionou o artista japonês Yamada Futaro como uma influência crucial para criar o elemento “cultista” e “fora do comum” que caracteriza Hell’s Paradise. Esta combinação de referências orientais e ocidentais contribui para a atmosfera única da obra.
Desafios técnicos da adaptação anime
Do lado da produção anime, Iwashita explicou que uma das maiores preocupações foi a adaptação do Hiboshi, o “Fogo Ascético” característico da série. “Era importante que fosse mais do que apenas fogo. Tinha de ir além da realidade do fogo. Fizemos muitos testes para tornar isso tão especial quanto possível”, revelou o produtor.
A escolha do estúdio MAPPA baseou-se na sua reputação de “ação fiável de alta qualidade”. A partir daí, a seleção do produtor Wataru Kawagoe levou à escolha da diretora Kaori Makita, que era já fã da série original e demonstrou grande entusiasmo pelo projeto.
Kaku descreveu o seu processo criativo como variável e por vezes desafiante. Nas cenas de combate, o mangaká explicou que frequentemente não tem uma ideia clara de quem vai vencer: “Sinto que há um elemento de trabalhar com a personagem enquanto a personagem tenta descobrir como vencer. Sincronizo-me com a personagem para descobrir a estratégia para derrotar o oponente”.
Para tornar as personagens principais, Gabimaru e Sagiri, mais relacionáveis para audiências modernas, Kaku dotou-as de valores morais que contrastam com o típico período Edo. “Era importante colocá-las no período Edo dentro dessa limitação, mas torná-las relacionáveis”, explicou.
Iwashita sublinhou que o objetivo da adaptação anime era evitar que Hell’s Paradise se tornasse “apenas mais uma sequência de ação”. O produtor enfatizou que “é realmente um drama humano que conduz a narrativa”, destacando momentos como a realização de Gabimaru sobre o seu amor pela esposa no primeiro episódio.
Entre as cenas favoritas mencionadas pelos entrevistados, Iwashita destacou o momento em que Yuzuriha demonstra compaixão durante a morte de Senta, revelando profundidade numa personagem que até então parecia centrada em si mesma.
A segunda temporada do anime está prevista para janeiro de 2026, prometendo “batalhas mais intensas” e “relacionamentos entre personagens mais profundos”, mantendo o mesmo nível de qualidade que tornou a primeira temporada um sucesso.
