A dupla Su Morishita, responsável pela popular série mangá Sinais de Afeto (A Sign of Affection / Yugisaki to Renren), partilhou recentemente detalhes sobre o processo criativo por trás do mangá que já conta com doze volumes publicados. Num evento da Kodansha House em Nova Iorque, Makiro-sensei, responsável pela história, e Nachiyan-sensei, a ilustradora, falaram sobre as origens da obra e os desafios únicos de criar uma narrativa centrada numa personagem com deficiência auditiva.
A série acompanha Yuki, uma estudante universitária surda que comunica através de língua gestual e que se apaixona após um encontro casual num comboio. O que torna A Sign of Affection especial é a forma como aborda a vida quotidiana, as relações e os desafios de uma jovem com deficiência auditiva sem cair em dramatizações excessivas.
Quando questionada sobre a inspiração inicial, Makiro-sensei admitiu que a pergunta, aparentemente simples, tem uma resposta mais complexa do que parece. Durante uma viagem à Alemanha, a dupla tentou explicar detalhadamente as razões por trás da escolha deste tema, mas foi depois dessa experiência que perceberam quantos momentos das suas vidas contribuíram para esta decisão. Makiro-sensei cresceu perto de uma escola para surdos e tinha uma vizinha com deficiência auditiva, o que lhe permitiu observar pessoas a comunicar através de língua gestual. Essa experiência deixou-lhe uma impressão duradoura sobre como aquela forma de comunicação era fascinante.
O momento decisivo aconteceu quando a dupla mudou de editora e o novo editor lhes perguntou sobre que tema gostariam de trabalhar a seguir. Ambas estavam deitadas numa cama a pensar em ideias quando Nachiyan-sensei sugeriu: “E que tal língua gestual?” A resposta foi imediata e positiva. Sentiam-se prontas para assumir um novo desafio e este tema parecia digno desse esforço.
A história da parceria entre as duas criadoras é igualmente curiosa. Conheceram-se no liceu, ambas aspirantes a mangaká que trabalhavam em projetos separados. Após a conclusão dos estudos, seguiram caminhos diferentes, casaram-se e estabeleceram vidas estáveis. Anos depois, com tempo livre disponível, Nachiyan-sensei leu Bakuman, um mangá sobre dois artistas que trabalham juntos, e propôs à amiga colaborarem numa obra conjunta. O que começou como um projeto comemorativo para criar memórias acabou por se tornar no início das suas carreiras profissionais como mangaká.
Trabalhar em dupla trouxe vantagens significativas. Makiro-sensei confessa não sentir qualquer desvantagem nesta forma de trabalho. Nos tempos difíceis de início de carreira, quando tentavam ser serializadas, enfrentaram os desafios juntas. Partilham o peso das responsabilidades, viajam juntas e complementam-se naturalmente sem se limitarem uma à outra.
Do ponto de vista técnico, criar A Sign of Affection apresentou desafios específicos. Nachiyan-sensei destaca a dificuldade de desenhar mãos, considerado um dos aspetos mais complicados no mangá. Como a língua gestual é central na narrativa, este obstáculo tornou-se ainda mais evidente, embora admita ter melhorado significativamente ao longo da série. Outro aspeto crucial é a direção do olhar das personagens. Para compreender língua gestual, é necessário ver a pessoa que está a comunicar, pelo que cada cena tem de mostrar claramente que as personagens estão a olhar umas para as outras.
Makiro-sensei sublinha que a base sólida da série está nas personagens. Se estas forem bem construídas, a comunicação flui naturalmente. Com Yuki, a intenção era criar alguém próximo do leitor, tornando a deficiência algo completamente normal. Yuki gosta de idols, de moda acessível e de boa comida, tal como qualquer outra pessoa. O objetivo era transmitir como a vida com uma deficiência é, na sua essência, normal.
A escolha de situar a história no ambiente universitário também foi deliberada. Makiro-sensei explica que, como a protagonista tem uma deficiência, a narrativa precisava de estar ancorada na realidade. Além disso, o contexto universitário permite explorar elementos mais maduros, como viver juntos, gerir dinheiro e manter contacto à distância. Se fossem estudantes do secundário, não poderiam incluir cenas com consumo de álcool, por exemplo.
Uma das cenas mais delicadas de escrever foi o encontro de Itsuomi com os pais de Yuki, onde ele descobre que eles não usam língua gestual. A razão prende-se com o facto de, em famílias que utilizam exclusivamente língua gestual, as crianças surdas poderem ter mais dificuldade em ler lábios. Os pais de Yuki tentavam incentivar essa capacidade. Makiro-sensei confessa ter ficado nervosa ao escrever esta cena, receando que pudesse ser interpretada negativamente ou magoar famílias com membros surdos.
Nachiyan-sensei, por seu lado, considera as cenas românticas as mais desafiantes de ilustrar. O seu objetivo é mantê-las românticas e bonitas, evitando qualquer tom vulgar, o que exige cautela e tempo de trabalho.
Quando questionadas sobre qual personagem se aproxima mais da sua personalidade, Nachiyan-sensei identifica-se com Yuki, enquanto Makiro-sensei se vê mais em Rin. Quanto às cenas mais emocionais, ambas concordam que é impossível escolher apenas uma, já que toda a série está centrada nas emoções das personagens.
A dupla su Morishita também é conhecida por outros trabalhos shojo como Shortcake Cake e Like a Butterfly.
Em Portugal o mangá Sinais de Afeto (A Sign of Affection / Yugisaki to Renren) está a ser publicado pela Distrito Manga.
Uma adaptação apra série anime de Sinais de Afeto (A Sign of Affection / Yugisaki to Renren) estreou em janeiro de 2024.
A animação é do estúdio Ajiado (Nintama Rantaro, Kujibiki Unbalance), a direção é de Yuta Murano (Kakushigoto), a história é de Yoko Yonaiyama (Ya Boy Kongming!) e o design de personagens é de Kasumi Sakai. A música é da responsabilidade de Yukari Hashimoto (Komi Can’t Communicate).