A Keidanren, uma das mais poderosas e influentes federações empresariais do Japão, enviou uma mensagem classificada como urgente ao governo japonês no passado dia 6 de outubro. Na mensagem é dito que é necessário apoio imediato, substancial e de longo prazo para as indústrias de conteúdo do país, que incluem videojogos, anime, mangá, cinema e música.
A pressão não surge do nada. A Keidanren aponta para números impressionantes: as exportações de conteúdo japonês cresceram de tal forma que o seu valor no mercado internacional já ultrapassou as exportações de semicondutores do país. Estamos a falar de uma mudança profunda na economia japonesa.
A federação, que representa os interesses de gigantes empresariais como a Toyota e a Mitsubishi, já tinha argumentado em 2023 que o conteúdo popular deveria tornar-se o motor central da economia nipónica. Na altura, o governo respondeu com o lançamento da Nova Estratégia Cool Japan, que posicionou anime e videojogos como indústrias fundamentais para o país.
Os dados oficiais da estratégia governamental de 2024 mostram claramente essa aposta. Mas agora, menos de dois anos depois, a Keidanren avisa que isso não é suficiente.
A questão central prende-se com a crescente influência global das propriedades intelectuais japonesas e, simultaneamente, com o aumento feroz da concorrência internacional. A federação alerta que o Japão corre o risco de ficar para trás se não houver uma colaboração mais forte entre o setor privado e o público.
A Keidanren diz que o governo deve levar isto mais a sério do que nunca e fornecer apoio estratégico imediatamente, com planos que se estendam por vários anos. Não se trata de medidas pontuais, mas sim de um compromisso sustentado.
As propostas apresentadas pela Keidanren são abrangentes e específicas. Entre as prioridades está o reforço no combate à pirataria, particularmente no caso do mangá, que continua a ser massivamente copiado e distribuído ilegalmente em plataformas digitais.
Outro pedido passa pelo financiamento de processos de localização e marketing global. Tornar conteúdo japonês acessível e apelativo para mercados internacionais requer investimento considerável em tradução, adaptação cultural e campanhas promocionais direcionadas.
A federação quer também ver investimento direto no desenvolvimento de novos jogos. A indústria dos videojogos japonesa enfrenta custos de produção cada vez mais elevados e prazos de desenvolvimento mais longos, o que exige capital para manter a competitividade face a estúdios ocidentais e chineses.
No que toca ao anime, a situação é particularmente delicada. A Keidanren pede apoio específico para garantir contratação de pessoal de animação e melhorar as condições de produção. A indústria do anime é conhecida pelos horários extenuantes e salários baixos dos animadores, o que tem levado a uma escassez crescente de profissionais qualificados.
O contexto internacional ajuda a perceber a urgência. A China está a investir pesadamente nas suas próprias indústrias de animação e jogos. A Coreia do Sul tornou-se uma potência em entretenimento digital. O monopólio cultural do Japão nestes setores já não é garantido.
A Nova Estratégia Cool Japan tinha prometido transformar estes setores em pilares económicos, mas a implementação prática tem sido criticada por falta de ambição e recursos.