A cultura pop asiática, com o Japão à cabeça e a Coreia do Sul e a China a ganharem um destaque cada vez maior, tornou-se um fenómeno global. Termos como mangá são hoje familiares em qualquer canto do mundo, mas a verdade é que o universo da ficção asiática, seja ela visual ou literária, é muito mais rico e complexo do que aparenta.
Com a explosão das plataformas digitais, novos formatos ganharam vida e outros, antes de nicho, foram catapultados para a fama. Para quem não está familiarizado, a sopa de letras pode ser confusa. Qual a diferença entre mangá, manhwa e manhua? E o que distingue uma light novel de uma webnovel? Este guia pretende ser uma bússola para navegar neste oceano de criatividade, explorando as origens e as características que tornam cada formato único.
A tríade dos comics asiáticos: Uma questão de geografia e estilo
Embora partilhem a mesma ideia de contar uma história através de imagens sequenciais, os três grandes formatos de comics asiáticos são definidos pela sua origem. Essa diferença geográfica dita não só o nome, mas também o estilo e as convenções de leitura.
Mangá: A influência japonesa
O Mangá (漫画) é a palavra japonesa para banda desenhada e, sem dúvida, o formato mais influente a nível mundial. Nascido no Japão, é tradicionalmente publicado a preto e branco, o que permite aos artistas focar-se na expressividade das linhas e no dinamismo da composição. A sua característica mais marcante, no entanto, é o sentido de leitura: da direita para a esquerda, uma herança da escrita tradicional japonesa. As histórias são primeiro publicadas em capítulos, em grandes revistas de antologia como a famosa Shonen Jump, e só depois compiladas nos volumes encadernados (tankōbon) que encontramos nas livrarias.
Manhwa: A onda coreana digital
O Manhwa (만화) é o seu equivalente sul-coreano. A sua popularidade explodiu internacionalmente graças ao formato digital. Ao contrário do seu primo japonês, o manhwa moderno é quase sempre totalmente a cores e pensado de raiz para ser lido num ecrã. O sentido de leitura é o ocidental, da esquerda para a direita. A grande revolução do manhwa é o Webtoon, um formato de publicação digital onde a história flui numa longa tira vertical, perfeita para a rolagem contínua em telemóveis. Esta adaptação genial ao consumo móvel é a sua imagem de marca.
Manhua: A expressão chinesa
O Manhua (漫画), por sua vez, é o termo chinês para banda desenhada. Abrange a produção da China Continental, Hong Kong e Taiwan. Tal como o manhwa, a sua versão digital ganhou uma popularidade imensa e também adota, na sua maioria, a publicação a cores e o sentido de leitura da esquerda para a direita. As plataformas online são o seu habitat natural, com muitas obras a adotarem o formato de rolagem vertical que se provou tão bem-sucedido.
Outras formas de narrativa visual e literária
Para lá do trio principal, existem outros formatos que enriquecem ainda mais este ecossistema criativo, cada um com as suas regras e particularidades.
4-Koma: A arte do humor em quatro passos
O 4-Koma (4コマ漫画), ou “mangá de quatro quadros”, é uma tira cómica japonesa com uma estrutura muito específica. Consiste em quatro painéis verticais que seguem uma fórmula narrativa clássica chamada Kishōtenketsu:
- Ki (Introdução): Apresenta a situação.
- Shō (Desenvolvimento): Desenvolve a situação.
- Ten (Viragem): Introduz um elemento inesperado, o clímax.
- Ketsu (Conclusão): Apresenta o desfecho, normalmente a piada.
Este formato é perfeito para humor rápido e é muitas vezes usado como um extra divertido no final dos capítulos de mangás mais longos.
Do romance tradicional à Webnovel
No campo da literatura, a Ásia também oferece uma variedade de formatos que vão muito para além do romance tradicional (Novel). A Light Novel (ライトノベル), por exemplo, é um fenómeno no Japão. São romances “leves”, escritos numa linguagem mais acessível e direta, a pensar num público jovem-adulto. O seu grande atrativo são as ilustrações em estilo mangá que surgem ao longo do texto. Muitas das mais famosas séries anime e mangá nasceram, na verdade, como light novels.
Mais recentemente, a Webnovel tomou o mundo de assalto. Como o nome sugere, são romances publicados diretamente na internet. Os autores lançam capítulos à medida que os escrevem, muitas vezes moldando a história com base no feedback instantâneo dos leitores. É um formato mais cru e com menos filtros editoriais, o que resulta numa enorme liberdade criativa. As webnovels de maior sucesso acabam frequentemente por ser editadas e publicadas como light novels ou romances tradicionais, num percurso do digital para o físico.
Visual Novel: Quando a leitura se torna um Jogo
Por fim, a Visual Novel (VN) é um género que esbate a fronteira entre literatura e videojogos. Originária do Japão, é uma forma de ficção interativa. A história é contada principalmente através de texto, mas é enriquecida com imagens estáticas (cenários e personagens), uma banda sonora e, por vezes, vozes. A interação do jogador limita-se a tomar decisões em momentos cruciais, que conduzem a diferentes caminhos na narrativa e a múltiplos finais. Embora seja tecnicamente um jogo, a experiência está muito mais próxima da leitura de um livro, onde o leitor tem o poder de influenciar o destino dos personagens.
