
A aposta da Netflix em Liam Hemsworth para revitalizar The Witcher falhou redondamente. Os números da quarta temporada, estreada a 30 de outubro, revelam um declínio acentuado que coloca em causa o estatuto da série como uma das principais produções da plataforma.
Segundo dados oficiais divulgados pela Netflix através do site TUDUM, a temporada 4 alcançou apenas 7,4 milhões de visualizações nos primeiros quatro dias. Para contextualizar a gravidade da situação, a segunda temporada tinha conseguido 18,5 milhões no mesmo período, e a terceira, apesar de já mostrar sinais de declínio, ainda registou 15,2 milhões.
A substituição de Henry Cavill por Liam Hemsworth no papel de Geralt de Rivia era vista como uma jogada arriscada, e os números confirmam os receios. A Netflix apostou forte na promoção desta mudança, mas nem o marketing agressivo nem o nome dos Hemsworth foram suficientes para convencer espectadores a regressar.
As críticas também não ajudaram. A temporada carrega uns modestos 60% no Rotten Tomatoes por parte da crítica especializada, uma descida face a temporadas anteriores. As pontuações do público estão ainda mais divididas, sugerindo que nem os fãs mais leais estão satisfeitos com o rumo que a série tomou.
Quando comparada com outros sucessos recentes da Netflix, a situação torna-se ainda mais preocupante. Bridgerton alcançou 22,7 milhões de visualizações na primeira semana da segunda temporada. Stranger Things registou 21,9 milhões. Até produções mais recentes como Griselda (20,6 milhões) e The Perfect Couple (20,3 milhões) deixaram The Witcher completamente para trás.
Mais embaraçoso ainda, a série consegue apenas superar ligeiramente títulos que acabaram cancelados. Shadow and Bone, que a Netflix não renovou, teve 6,2 milhões na segunda temporada. The Witcher mal consegue distanciar-se destes números.
Os dados do FlixPatrol, que rastreia os tops 10 da Netflix em cada país, mostram que a série está a ter dificuldades para manter posições elevadas. A Europa continua a ser o mercado mais forte, juntamente com a Índia e o Médio Oriente, mas mesmo nessas regiões o desempenho está abaixo das expectativas.
Nos Estados Unidos, a situação é particularmente má. Dados da Samba TV indicam que o primeiro episódio da quarta temporada foi visto por 577 mil agregados familiares americanos, uma queda de 35% face à terceira temporada, que tinha alcançado 885 mil. Para uma série que a Netflix pretendia transformar numa das suas bandeiras, são números devastadores.
Vale a pena recordar que a primeira temporada, lançada em 2019, tinha gerado um entusiasmo enorme. Embora os dados dessa época não sejam diretamente comparáveis com os atuais (a Netflix mudou a forma como mede audiências), os 76 milhões de visualizações reportados na altura colocavam The Witcher entre os maiores sucessos da plataforma, apenas atrás de Bridgerton.
O declínio constante desde a segunda temporada levanta questões sobre decisões criativas tomadas ao longo do caminho. A saída de Henry Cavill, que publicamente manifestou frustração com alterações à história original dos livros de Andrzej Sapkowski, foi o momento mais visível de tensão nos bastidores. Mas os problemas começaram antes.
A terceira temporada já tinha sido dividida em duas partes, uma estratégia que fragmentou a audiência e prejudicou o momentum da série. Essa divisão pode explicar parcialmente os números mais baixos, mas não justifica a queda abrupta que se verifica agora na quarta temporada, que foi lançada de uma vez só.
Curiosamente, The Rats, um filme derivado que a Netflix lançou discretamente ao lado da quarta temporada, só agora está a começar a aparecer nos tops diários de alguns países. A produção foi originalmente concebida como série infantil antes de ser transformada em filme, e o seu lançamento silencioso sugere que a Netflix já não tem grandes expectativas para o universo de The Witcher.
A plataforma já confirmou que a quinta temporada será a última. As filmagens terminaram e a produção está em pós-produção, mas face aos números catastróficos da quarta, a decisão de encerrar a saga parece cada vez mais acertada.
A história de The Witcher na Netflix é um estudo de caso sobre como uma série pode descarrilar rapidamente. Do potencial para se tornar no próximo Game of Thrones à realidade de uma produção de segunda linha que mal consegue manter audiências, o caminho foi rápido e doloroso.








