
Enquanto o X de Elon Musk continua a perder utilizadores no Ocidente, do outro lado do mundo está a nascer uma alternativa que pode mudar o panorama das redes sociais. A Pommu, lançada pela Eisys (a empresa por trás da gigante DLsite), está a atrair ilustradores e criadores de conteúdo otaku numa velocidade surpreendente.
Basta dar uma vista de olhos pelos primeiros dias de atividade para perceber o apelo, centenas de artistas já migraram trabalhos para lá, muitos deles fugindo das restrições cada vez mais apertadas que sentem noutras plataformas. O ITMedia, um dos principais portais tecnológicos japoneses, notou que o feed está repleto de ilustrações que provavelmente teriam problemas de visibilidade ou até bloqueios no X.
A plataforma oferece algo que a distingue, um interruptor bem à vista que permite alternar entre dois modos de navegação. Com um simples clique, os utilizadores escolhem se querem ver apenas conteúdo para todos os públicos ou se preferem aceder também a trabalhos destinados a audiências adultas. Simples, transparente e eficaz.
O conceito não é novo para quem conhece o ecossistema DLsite. A DL Channel, uma espécie de fórum comunitário mais antigo, já tinha esta solução. Mas funcionava de forma menos dinâmica, mais parecida com os velhos fóruns de internet. A Pommu trouxe este conceito para o formato de rede social moderna, com timeline ao vivo e interação instantânea.
Para muitos artistas japoneses, ter uma alternativa viável deixou de ser luxo para se tornar necessidade. Nos últimos anos, as políticas de moderação do X tornaram-se um pesadelo difícil de navegar. Trabalhos perfeitamente legais e aceites no Japão veem-se bloqueados, contas suspensas sem aviso prévio, e o alcance orgânico de publicações relacionadas com anime ou mangá diminuiu drasticamente.
A DLsite sabe disto melhor que ninguém. Há meses que travou uma batalha com empresas de cartões de crédito internacionais que queriam forçar censura aos conteúdos alojados na plataforma. A resposta da empresa? Criar um sistema de pagamento próprio, o viviON, e cortar relações com essas instituições financeiras. A Pommu usa precisamente este sistema para os registos, numa clara demonstração de independência.
Crescer com a comunidade
Ser transparente sobre as limitações é raro no mundo das startups tecnológicas, mas a equipa da Pommu não está a fingir que tem um produto acabado. Deixaram claro que a plataforma está em fase demo, que faltam funcionalidades básicas, e que querem ouvir o que os utilizadores têm a dizer. Há formulários abertos para sugestões e a promessa de que o feedback vai moldar as próximas atualizações.
Esta abordagem humilde pode ser precisamente o que distingue a Pommu de gigantes corporativos onde mudanças acontecem de cima para baixo, sem consultar quem realmente usa a plataforma. Os primeiros utilizadores sentem que têm voz ativa na construção de algo que pode vir a ser relevante.
Não é a primeira vez que comunidades nicho criam os seus próprios espaços quando sentem que as grandes plataformas já não as servem. Aconteceu com o Mastodon quando o Twitter começou a mudar de mãos, aconteceu com o Discord quando fóruns tradicionais se tornaram obsoletos, e pode estar a acontecer agora com a Pommu.
A diferença é que desta vez a plataforma não foi construída por entusiastas com orçamento limitado. A Eisys tem recursos, experiência no mercado de conteúdo digital e, mais importante ainda, uma base de utilizadores consolidada que já confia na marca DLsite há anos.
Se a Pommu conseguir manter o equilíbrio entre liberdade criativa e moderação sensata, pode tornar-se no lar permanente para milhares de artistas que há muito procuravam uma alternativa credível. E se conseguir escalar para além do mercado japonês, mantendo os seus princípios, o X pode ter finalmente encontrado concorrência séria num nicho que há muito negligenciava.








