Depois da surpreendente recepção a Dragon Quest III HD-2D Remake, os fãs aguardavam com grande expectativa a chegada de Dragon Quest I & II HD-2D Remake. Agora reunidos num só pacote, estes dois jogos lançados recentemente para Consolas e PC procuram revitalizar dois dos JRPGs mais simples, mas também mais emblemáticos, da história do género. Tal como o seu sucessor, oferecem uma viagem equilibrada e nostálgica, preservando o encanto clássico com uma apresentação visual e técnicas modernizadas.
Em Dragon Quest I assumimos o papel do descendente do lendário Erdrick, determinado a salvar a princesa e a restaurar a paz no reino de Alefgard, ameaçado pelas trevas do terrível Dragonlord. A narrativa é direta e desprovida de grandes reviravoltas políticas ou filosóficas mas é a clássica história de um herói que herda o legado dos seus antepassados e parte para libertar uma terra amaldiçoada. Esta simplicidade, longe de ser um problema, dá-lhe um charme particular. Cada passo por Alefgard sente-se como uma peregrinação, carregada de propósito e de acontecimentos trágicos. As personagens principais, especialmente os antagonistas, têm uma presença marcante que ressoa com a tradição da série.

Dragon Quest II, por sua vez, constrói-se sobre este legado, expandindo ainda mais o mundo e a sua narrativa. Vários anos depois dos eventos originais, seguimos os descendentes de Erdrick numa jornada que une três reinos contra uma nova ameaça. Ao contrário da aventura do primeiro, esta segue uma história de herança e de união. A camaradagem entre os protagonistas e o sentimento de continuidade familiar dão-lhe um toque humano e caloroso.
Naturalmente que o tratamento visual em HD-2D ajudou a revitalizar ambas as histórias de forma exemplar. Cenas recriadas, novas linhas de diálogo e breves momentos com vozes adicionam uma camada emocional a enredos que, no seu formato original, eram bastante minimalistas. Destaque especial para o novo reino subaquático de Dragon Quest II, uma adição visualmente deslumbrante e mecanicamente interessante, povoada por novos personagens e vilões com carisma.
Ainda que possam parecer simples, ambas as narrativas continuam a ter aquele toque encantador que definiu a era de ouro dos JRPGs. Há nelas uma magia que evocam os contos cinematográficos dos anos 80, algo como Legend ou The NeverEnding Story, um tipo de fantasia que hoje raramente se encontra, e que aqui é celebrada com emoção.

Falando da jogabilidade, Dragon Quest I & II HD-2D Remake é um exemplo notável de como um remake deve ser feito. Mantém-se fiel à estrutura original em 8 bits, mas reconstrui-a com cuidado, elegância e sensibilidade atual.
O seu sistema de combate continua a seguir o tradicional formato por turnos mas agora apresenta uma fluidez e responsividade que o tornam muito mais envolvente. O primeiro Dragon Quest, que originalmente era uma experiência puramente a solo, ganha agora batalhas com múltiplos inimigos, introduzindo um ritmo mais estratégico e dinâmico. A imprevisibilidade da ordem dos turnos e do dano mantém-se, mas a interface redesenhada, com menus mais nítidos e animações suaves, faz com que cada confronto pareça natural e gratificante em vez de datado.
Ao longo dos dois jogos, podemos encontrar pergaminho que nos dão novas habilidades, uma novidade em relação aos originais.
Como em Dragon Quest III HD Remake, foram colocadas várias melhorias de qualidade de vida: sistema de auto-save, aumento da velocidade de combate e até auto-batalhas para reduzir o tempo durante o “grind”. Estas opções não comprometem de todo o desafio, apenas o tornam mais justo e menos moroso. A Artdink e a Square Enix (Team Asano) mostram novamente um profundo respeito pelas obras originais, modernizando-as sem as descaracterizar.

A exploração foi do mesmo modo refinada. As cidades têm agora mais vida, as masmorras apresentam uma atmosfera mais rica e as transições entre zonas são mais agradáveis. A navegação no mapa é intuitiva, e a melhor sinalização elimina frustrações sem sacrificar o sentido de descoberta.
Já Dragon Quest II brilha pela gestão de grupo. Controlar três personagens, coordenar magias e equilibrar recursos torna a experiência tanto desafiante como recompensadora, potenciada por pequenos ajustes e pelo novo equilíbrio de classes. A adição da Princesa Matilda, acrescenta variedade estratégica às batalhas e reforça o dinamismo da equipa. A nova zona subaquática é outro aspeto entusiasmante, não só visualmente, mas traz também novas mecânicas e uma vertente refrescante à exploração.
Apesar de todas as melhorias, os remakes mantêm intacta uma qualidade essencial, a paciência. Evoluir, derrotar chefes e acumular ouro para comprar itens e equipamentos continuam a ser o centro da experiência de Dragon Quest. São remakes que não tentam seguir modas, nem transformar-se num RPG completamente moderno. Em vez disso, procura aquele equilíbrio raro entre a nostalgia e o conforto, entre o respeito pelo passado e a conveniência do presente.
Visualmente, Dragon Quest I & II HD-2D Remake é um deleite para os nossos olhos. Os produtores voltam a exibir o poder da estética HD-2D, agora mais refinada do que nunca. Este estilo visual, que combina pixel art tradicional com técnicas atuais de iluminação e profundidade, atinge aqui uma harmonia perfeita entre o clássico e o mais recente.

Cada local do jogo parece uma pequena pintura em movimento. As vilas irradiam cor e vida, as florestas respiram com o balançar das folhas e o brilho do sol, e as masmorras ganham um carácter próprio graças ao contraste entre luz e sombra. A iluminação é especialmente trabalhada de forma notável, o modo como a luz se reflete na água ou o brilho das tochas nas paredes de pedra criam uma atmosfera envolvente.
Além disso, as texturas e o detalhe reforçam essa sensação de profundidade. As pedras, os pisos e as superfícies naturais têm uma definição subtil, mas eficaz, que nunca entra em conflito com o estilo retro. Há também uma fluidez nas animações que dá energia às batalhas e aos feitiços, sem comprometer a estética clássica.
Nestes remakes, foram adicionadas novas missões secundárias e novos finais que aprofundam a narrativa.
Quanto ao som, o trabalho é do mesmo modo exemplar. As lendárias composições de Koichi Sugiyama, agora apresentadas em versões orquestradas, mantêm toda a sua força e emoção. Continuam a soar intemporais, capazes de evocar tanto a nostalgia dos veteranos como agradar a novos jogadores.
Os temas de exploração e combate são energéticos e inspiradores, enquanto os temas mais suaves mantêm a serenidade típica da série. A meu ver, a banda sonora não procura reinventar-se, mas sim amplificar o espírito original e fá-lo aqui com graciosidade.
O design sonoro é outro ponto importante a destacar. O som do vento nas planícies, o crepitar das tochas, o eco dos passos em masmorras são detalhes subtis que tornam o mundo mais tangível. Para completar, temos voz presente em alguns eventos importantes do jogo, tanto em japonês como em inglês. Ambas as versões têm qualidade, com interpretações que acrescentam emoção e humanizam as personagens, tornando as cenas nitidamente mais memoráveis.
Não se esperava menos de Dragon Quest I & II HD-2D Remake. A qualidade dos dois jogos é realmente impecável, com melhorias nos aspetos mais importantes e uma recriação visual e sonora que respeita o legado da série. Estes remakes não se limitam a atualizar clássicos de há mais de trinta anos, dão-lhes uma nova vida, tornando-os novamente relevantes e emocionantes para uma nova geração de jogadores.
Cada pormenor, desde o refinamento da jogabilidade ao esplendor do estilo HD-2D, demonstra o profundo respeito da Square Enix pelo passado e a sua capacidade de o reimaginar com sensibilidade. É um título grandioso, que nos faz recordar duas aventuras heroicas carregadas de emoção, descoberta e batalhas desafiantes. Dragon Quest I & II HD-2D Remake é, sem dúvida, uma celebração das origens do género e um lembrete do porquê de Dragon Quest continuar a ser o coração dos JRPGs.









