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    Criador revela os segredos por trás de Fire Force e a ligação surpreendente com Soul Eater

    O criador de Fire Force e Soul Eater partilha como construiu um mundo onde o fogo ganha vida de formas inimagináveis

    visual Parte 2 de Fire Force 3 (1)

    Atsushi Ohkubo, o mangaká responsável por Fire Force e Soul Eater, esteve recentemente numa entrevista durante o evento Kodansha House, onde partilhou detalhes fascinantes sobre o processo criativo por trás das suas obras. Entre histórias sobre design de personagens e as dificuldades de trabalhar exclusivamente com poderes baseados em fogo, o autor revelou muito do que acontece nos bastidores de um mangá de sucesso.

    Um dos maiores desafios de Fire Force passa por algo que pode parecer simples à primeira vista: criar habilidades únicas quando todas têm de estar relacionadas com fogo. Ohkubo explica que a sua abordagem não passa por pensar em variedade, mas sim em objetivos concretos.

    “Normalmente, o que me foco é: como posso fazer acontecer uma determinada coisa com a habilidade do fogo?”, conta. A espada de plasma de Arthur é o exemplo perfeito. O mangaká não começou por pensar numa espada de plasma, queria era descobrir como criar algo semelhante a um sabre de luz usando apenas fogo. A mesma lógica aplica-se a outras habilidades aparentemente impossíveis, como parar o tempo ou criar gelo. Primeiro vem a ideia do que quer fazer, depois encontra a forma de o executar através do fogo.

    Claro que esta limitação auto-imposta traz desafios. Mas também força a criatividade de formas inesperadas.

    visual parte 2 de Fire Force 3 (1)

    A religião como espelho da humanidade

    Fire Force destaca-se por colocar a religião e a fé no centro da narrativa, algo pouco comum em mangás shonen. Para Ohkubo, esta escolha tem uma razão clara, enquanto muitas histórias se focam no crescimento interno das personagens e nas suas relações, ele queria explorar também conceitos mais vastos e externos.

    “Queria explorar ideias mais amplas, como a humanidade ou estados superiores de consciência, como o reino do Evangelista. Estes são mundos externos criados pelos humanos enquanto coletivo”, explica. E quando se pensa em criações coletivas da humanidade, a religião surge naturalmente como elemento essencial dessa equação.

    Esta camada adiciona profundidade a um universo onde equipas de bombeiros combatem combustões humanas espontâneas, mas também permite explorar questões sobre fé, propósito e o que nos une enquanto sociedade.

    Quem conhece o trabalho de Atsushi Ohkubo reconhece imediatamente o seu estilo. Os dentes serrilhados, os sorrisos peculiares, tudo isto faz parte da identidade visual que o mangaká cultiva desde Soul Eater.

    Shinra, o protagonista de Fire Force, é um exemplo perfeito. Apesar de ser genuinamente boa pessoa, tem o estranho hábito de sorrir de forma perturbadora em momentos de stress. Este traço não só se tornou parte da sua personalidade, como também o torna instantaneamente reconhecível.

    “Quando penso nesta personagem na capa de um livro, queria que se destacasse e fosse icónica do meu trabalho”, refere Ohkubo. É esta consistência visual que cria uma linha identitária entre as suas diferentes obras.

    O planeamento de Fire Force: entre o mapa e a improvisação

    Sobre a estrutura geral da história, Ohkubo admite trabalhar numa zona cinzenta entre planeamento e improvisação. Tinha um mapa geral de como Fire Force se desenvolveria desde o início, mas a execução concreta ia sendo definida à medida que avançava.

    A ligação com Soul Eater, revelada no final, é particularmente interessante. Inicialmente, o autor queria manter tudo ambíguo, apenas com pistas suficientes para sugerir a conexão. Mas à medida que trabalhava no final, continuava a repensar como fazer tudo encaixar.

    O processo criativo de Ohkubo parte sempre de fenómenos da realidade, o que está a acontecer no mundo e como expressaria isso através do mangá. Soul Eater inclina-se fortemente para a fantasia pura, enquanto Fire Force está mais próximo da nossa realidade, incorporando elementos científicos. Na narrativa de Ohkubo, a nossa realidade termina com um desastre natural e torna-se o mundo de Fire Force. Este mundo também acaba num desastre, dando origem ao universo de Soul Eater. É como se o autor tivesse uma alavanca que controla o quanto a história se afasta da realidade em direção à fantasia.

    Fire Force 3 anime visual

    As personagens que ficaram por explorar

    Com um elenco tão vasto, é inevitável que algumas personagens acabem por ficar em segundo plano. Ohkubo confessa que gostaria de ter tido mais tempo para desenvolver várias personagens secundárias, mas não queria que as suas histórias interferissem com a narrativa principal de Shinra.

    O Capitão Obi é mencionado especificamente como alguém cuja história de fundo seria fascinante explorar. No entanto, há um problema, muitas destas personagens são adultos, e aprofundar as suas histórias passadas afastaria Fire Force do território shonen. Todas essas ideias existem na mente do autor, mas ficaram de fora por uma questão de foco narrativo.

    As relações familiares, literais ou figurativas, são um pilar de Fire Force. A decisão de centrar a história em bombeiros levou naturalmente ao foco no trabalho de equipa, e Ohkubo decidiu retratar toda a equipa como uma família. Obi e Hinawa funcionam como figuras paternas, Maki como uma irmã mais velha.

    Curiosamente, esta dinâmica também se reflete no lado dos antagonistas. A relação entre Charon e Haumea espelha a de um pai e um filho, criando um contraste intencional com o grupo principal. Ambos os lados têm as suas “famílias”, o que torna o conflito mais complexo e humano.

    As influências que moldaram um mangaká

    Quando questionado sobre as suas influências, Ohkubo não hesita: foi Akira Toriyama, com Dr. Slump e Dragon Ball, que o fez apaixonar-se pelo mangá e decidir tornar-se mangaká .

    Mas as influências vão além do mangá. Cineastas como Tim Burton e David Lynch tiveram um impacto profundo na forma como Ohkubo constrói os seus mundos e expressa as suas histórias. A visão particular destes realizadores sobre o mundo reflete-se claramente no estilo único que o mangaká desenvolveu.

    Fire Force 3 anime poster CCXP24

    O equilíbrio entre seriedade e humor

    Apesar de Fire Force abordar temas pesados, há momentos de humor genuíno espalhados pela narrativa. Para Ohkubo, isto acontece naturalmente porque, nas suas próprias palavras, é “uma pessoa muito tola”.

    Descreve-se quase como um pregador de partidas, admitindo que por vezes pode ser demais. Ao escrever, tenta suprimir esse lado brincalhão para não interferir com a linha principal da história. Mas não consegue, nem quer, eliminá-lo completamente.

    Vê aqui a abertura de Fire Force 2

    O legado de um estilo único

    Trabalhar com assistentes e ver jovens mangakás inspirados pelo seu trabalho é algo que enche Ohkubo de orgulho. Quando decidiu tornar-se mangaká, sabia que seria um caminho difícil, mas estava determinado a ser um artista único. Trabalhou conscientemente para desenvolver e manter o seu próprio estilo.

    Ver a nova geração de artistas influenciados pelo seu trabalho e a ter sucesso faz com que sinta que todo o esforço valeu a pena. “Sinto que o meu trabalho importou”, conclui.

    Além do mangá, Ohkubo também emprestou o seu talento para design e arte a videojogos como Lord of Vermillion, Bravely Default e Bravely Second: End Layer, expandindo a sua influência para além das páginas impressas.

    Helder Archer
    Helder Archer
    Fundou o OtakuPT em 2007 e desde então já escreveu mais de 60 mil artigos sobre anime, mangá e videojogos.

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