O mangá de Taizan 5 não poupa ninguém. Takopi’s Original Sin (Takopii no Genzai) retrata a existência difícil, e muitas vezes torturante, de três crianças do ensino básico: Shizuka, negligenciada pela mãe e vítima de bullying constante na escola; Marina, a sua agressora, que vive sob a pressão do casamento falhado dos pais e os ataques da mãe instável; e Azuma, um rapaz que luta para nunca cometer erros na tentativa de ganhar o elogio materno.
A adaptação para anime, com seis episódios produzidos pelo estúdio ENISHIYA, marcou a estreia da produtora como estúdio principal numa série anime. Anteriormente, o estúdio tinha produzido comerciais para filmes de Makoto Shinkai e trabalhado em episódios de séries como Frieren: Beyond Journey’s End e Delicious in Dungeon.
Shinya Iino, diretor e responsável pela composição da série, admitiu ter ficado surpreendido com a reação internacional. “A série passa-se no Japão, num ambiente muito particular do sistema escolar japonês. Fica-me muito bem saber que ressoou com tantas pessoas fora do país”, afirmou em entrevista. O produtor Kotaro Sudo acrescentou que a resposta, tanto nacional como internacional, ultrapassou todas as expectativas da equipa.
A decisão de não suavizar os temas sensíveis foi deliberada. Iino deixou claro que era fundamental retratar o bullying, a negligência e a crueldade de forma realista, sem esconder ou atenuar nada do que estava no mangá original. Para Sudo, o tema central não é a violência ou os aspectos negativos, mas sim a importância da comunicação verdadeira, não através de mensagens digitais, mas face a face, como Takopi defende ao longo da série.
O contraste entre a fofura de Takopi e as histórias pesadas das outras personagens foi algo que marcou Iino desde a primeira leitura. “A minha primeira reação foi: o Takopi é tão giro! Os movimentos, os diálogos, as ações — tudo é divertido. Mas depois tens as histórias de Shizuka, Marina e das outras personagens, que são tão pesadas”, revelou. O designer de personagens Keita Nagahara recebeu elogios especiais por dar vida à expressividade de Takopi, algo impossível de captar apenas no papel.
A série inclui um aviso de conteúdo no início, algo raro em anime. Sudo explicou que era importante preparar os espectadores para o mergulho profundo nas personagens e nos seus destinos. O momento mais sombrio para Iino foi logo no primeiro episódio, com o que acontece em casa de Shizuka. “Foi muito importante retratá-lo fielmente, mas sem exagerar. Houve muita discussão interna sobre até onde devíamos ir”.
Para Sudo, a cena mais devastadora surge no episódio 5, quando Shizuka vai ver o pai. “Ela está tão expectante, tão animada. Quando ele abre a porta e ela diz ‘Papá!’, ele responde ‘Quem és tu?’ A expressão dela cai de repente. Foi provavelmente o momento mais difícil”.
Curiosamente, houve também momentos que geraram discussões inesperadas. No episódio 3, uma linha sobre um “tassel” tornou-se um meme na internet, e a equipa ficou genuinamente curiosa sobre como adaptar esse momento para o anime. Outro instante mais leve acontece no final, numa loja, quando Marina tenta dar um pontapé a Shizuka e esta simplesmente se desvia.
O ritmo da série beneficiou do formato de streaming. Ao contrário da televisão tradicional, que limita cada episódio a 24 minutos, a produção para a TBS através de streaming permitiu maior flexibilidade. “Não é uma série de TV, é um projeto de streaming. Isso deu-nos liberdade para criar as pausas e o timing dentro das cenas”, explicou Iino.
A abordagem de Iino à adaptação foi influenciada pela sua própria personalidade. “Não sou uma pessoa sombria e séria, e isso ajudou-me. Além disso, todas as personagens principais são crianças do ensino básico. Consegui distanciar-me emocionalmente porque não são meus contemporâneos — quase como um mais velho que as quer proteger”.
O processo criativo centrou-se sempre numa questão: “Quando os fãs do mangá original virem este anime, o que vão sentir? Vão achar bom?” Essa foi a bússola que guiou todas as decisões da equipa.
Sobre Takopi, Iino destacou o esforço constante da personagem em ajudar os outros, mesmo sem compreender a diferença entre o bem e o mal. “Takopi também é uma criança, tal como Shizuka e Marina. À medida que a história avança, Takopi percebe: ‘Ups! Talvez não tenha feito a coisa certa’, e tenta outra abordagem”.
Sudo chamou a atenção para a maturação de Takopi ao longo dos seis episódios. “No primeiro episódio, a única coisa na mente de Takopi é: ‘Porque é que Shizuka morreu? Porque é que ela tirou a própria vida?’ No final, Takopi não comete suicídio propriamente dito, mas sacrifica-se pelo bem dos outros. Queria que o público percebesse esse processo de pensamento e essa maturação”.
Quanto a Shizuka, a transformação é igualmente marcante. No início, completamente apática e a desistir da humanidade, algo muda depois do assassinato de Marina. “Ela percebe: ‘Vou tentar fazer-me feliz’. Passar de alguém completamente apático para alguém que deseja mudar é algo que quero que o público note”, afirmou Iino.
Sudo acrescentou que, no episódio final, Shizuka consegue finalmente expressar o grito que vinha do fundo do coração enquanto bate em Takopi com uma pedra. “Ela consegue finalmente encará-lo e ter uma conversa, interagir diretamente com Takopi em vez de ser apática”.
A mensagem final que Iino quer transmitir é clara: todas as personagens principais querem ser felizes, apenas ainda lá não chegaram. “Tentámos retratar como lutam e trabalham para alcançar a felicidade. Espero que os espectadores não desistam, mas continuem a lutar e a procurar a sua própria felicidade”.
Sudo reforçou a importância da comunicação: “Todos enfrentamos desafios, momentos sombrios e momentos de luz. Mas através da comunicação, todos devemos conseguir avançar. Mantenham sempre isso em mente”.
