
A terceira temporada de One-Punch Man continua a mergulhar em águas cada vez mais profundas. O episódio 6, intitulado Motley Heroes, que estreou a 16 de novembro, estabeleceu um marco indesejável ao tornar-se o episódio anime com a pior classificação de sempre no IMDb. Com uma avaliação que oscila entre 2.0 e 2.7 de 10 pontos, o episódio não apenas define um novo mínimo para a série, mas também para a indústria anime em geral.
A queda vertiginosa da série é particularmente dolorosa quando se recorda que a primeira temporada, produzida pelo estúdio Madhouse em 2015, foi aclamada pela sua animação fluida e dinâmica. O episódio melhor classificado da primeira temporada alcançou 9.5 pontos, enquanto o pior da segunda temporada registou 7.3. A temporada atual apresenta números dramaticamente diferentes: o episódio mais bem avaliado conseguiu apenas 5.2 pontos, e agora o sexto capítulo quebra todos os recordes negativos.
Falhas técnicas evidentes expõem problemas de produção
Os problemas de animação tornaram-se impossíveis de ignorar. Um dos erros mais evidentes ocorre numa cena em que Atomic Samurai fala com Puri-Puri Prisoner de costas para a câmara. Se o brilho do ecrã for aumentado, torna-se claramente visível que o topo do cabelo do herói foi literalmente cortado pela equipa de animação, algo que o fundo escuro tentava camuflar. Este tipo de descuido básico sublinha a falta de supervisão e atenção ao detalhe.
Ao longo da temporada, os deslizes multiplicaram-se. O design notoriamente feminino de King the Ripper e a cena estranha de Garou a descer uma encosta tornaram-se memes que circulam pelas redes sociais. O ritmo narrativo também sofre, com o episódio 6 a dedicar praticamente toda a sua duração a personagens estáticas a discutir estratégias, sem praticamente nenhuma animação real. Críticos e espectadores apontaram que existem cenas inteiras onde os lábios das personagens nem sequer se movem, transformando o que deveria ser um anime de ação numa apresentação de imagens fixas com vozes.
A situação é ainda mais frustrante quando se considera que os fãs aguardaram seis anos desde o final da segunda temporada em 2019. Apesar do longo hiato, a produção só começou efetivamente meses antes da estreia em outubro de 2025. O diretor Shinpei Nagai tentou implementar técnicas que combinavam animação 3D e 2D para economizar tempo, mas o calendário apertado tornou impossível testar adequadamente estas abordagens.
Não faltaram avisos. O próprio diretor admitiu antes da estreia que a temporada não conseguiria igualar a qualidade da primeira. Ainda assim, ninguém estava preparado para uma queda de qualidade tão acentuada. O produtor Atsushi Fujishiro, da J.C. Staff, prometera uma produção à altura das expectativas, mas a realidade revelou-se muito diferente.
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Debate sobre responsabilidade divide comunidade
O animador francês Vincent Chansard, conhecido pelo seu trabalho em One Piece, ofereceu uma perspetiva importante sobre a controvérsia. Segundo o profissional, o problema não reside apenas no estúdio J.C. Staff, mas numa indústria que prioriza calendários impossíveis em vez de qualidade. Os animadores enfrentam prazos absurdos impostos por comités de investidores, com pouca autonomia criativa e recursos limitados.
As redes sociais explodiram com reações dos espectadores. Muitos descreveram o episódio como vinte minutos de bocas a mexer e monólogos internos, com diálogos desinteressantes e praticamente nenhuma animação. O arco da Associação de Monstros, considerado um dos melhores do mangá de Yusuke Murata, merecia uma adaptação épica mas está a receber um tratamento que alguns comparam ao desastroso Berserk de 2016.
A classificação continua a descer à medida que mais espectadores votam no episódio. Alguns fãs pedem que a produção seja transferida para estúdios como MAPPA, Bones ou Ufotable, enquanto outros exigem que a Bandai Namco peça desculpas aos criadores originais ONE e Murata.
Resta saber se os próximos episódios conseguirão reverter esta tendência. Com batalhas importantes do arco ainda por adaptar, existe a possibilidade de a J.C. Staff ter investido mais recursos nos confrontos principais. No entanto, dado o padrão estabelecido até agora, essa esperança parece cada vez mais ténue. A série que redefiniu anime de ação em 2015 agora luta para recuperar nem que seja uma fração da sua antiga glória.









