Quando a Nintendo anunciou Kirby Air Riders para a Nintendo Switch 2, a primeira questão que levantei foi o porquê de lançar outro jogo de corridas quando já tinha chegado Mario Kart World no Verão? Embora pertençam ao mesmo género de jogo, depressa se percebe que Kirby Air Riders segue um caminho próprio, muito distante daquele que Mario Kart tem vindo a trilhar ao longo dos anos.

Assumo que não estava particularmente entusiasmado com esta “sequela”. Parecia-me apenas uma alternativa “cor-de-rosa” a um gigante já estabelecido. No entanto, depois de o jogar e explorar grande parte do seu conteúdo, acabei surpreendido e de uma forma muito positiva. Kirby Air Riders revelou-se um jogo cheio de personalidade, criatividade e, sobretudo, uma diversão genuína que não estava à espera de encontrar.

O menu colorido e interativo é direto e fácil de navegar

O primeiro aspeto que me atraiu foi a existência de um modo que dá importância à história. Não é, de todo, uma narrativa complexa ou dramática, mas vai bem além do que se espera num título deste género. A aventura desenrola-se no modo para um jogador, Pé na Estrada (Road Trip), que apresenta uma guerra cósmica como pano de fundo. Como referi, não há grandes reviravoltas, mas cumpre o essencial: contextualizar de forma coerente e divertida, o motivo pelo qual todas estas pequenas personagens estão a pilotar os diversos veículos disponíveis. É também uma excelente forma de experimentar grande parte do que o jogo oferece.

Além do Road Trip, encontramos logo no menu inicial três modos principais: Rali Rasante (Air Ride), Vista Aérea (Top Ride) e Prova Urbana (City Trial). Em termos de controlos, o jogo mantém a tradição da série, dependendo quase totalmente de um único botão, o B, que serve para abrandar, travar e ativar habilidades. Pode soar redutor, ter um esquema de controlos tão minimalista, mas na realidade, funciona muito bem. Quando começamos a dominar, a jogabilidade revela-se extremamente satisfatória e acessível, com uma complexidade subtil que não se encontra facilmente noutros jogos.

Kirby Air Riders é o sucessor do jogo da GameCube Kirby Air Ride.

Durante as corridas, não precisamos de acelerar manualmente, cada veículo move-se sozinho. Manter o botão premido abranda, mantê-lo pressionado por alguns segundos trava por completo e ao soltá-lo no momento certo, obtemos um impulso extra. A essência do jogo está exatamente nisto, travar para ganhar velocidade. Uma lógica aparentemente invertida, mas extremamente satisfatória quando interiorizada. Todo o ritmo baseia-se nesta dança entre travar, soltar e impulsionar, enquanto fazemos curvas apertadas, enfrentamos criaturas, copiamos habilidades e evitamos obstáculos.

Essência Wipeout por todo o lado

A partir do momento em que dominamos estas nuances, com a ajuda da própria escola de condução incluída no jogo, podemos aventurar-nos sem receio pelos diferentes modos de Kirby Air Riders.

O primeiro, Air Ride, funciona como corridas mais tradicionais, competimos contra até seis pilotos num ritmo frenético pelo primeiro lugar. As pistas são extremamente bem desenvolvidas, ricas em detalhe e variedade, com curvas imprevisíveis, loops e secções que se alteram dinamicamente, algo que remonta à clássica dinâmica de Wipeout mas aqui numa roupagem bem mais colorida e diversificada. Tal como vimos nos trailers e apresentações, reina um caos delicioso, com adrenalina constante enquanto tentamos alcançar o objetivo e, ao mesmo tempo, explorar e usar as habilidades de cópia que temos à disposição.

O Top Ride, por outro lado, oferece um desafio mais leve, mas ainda assim muito divertido. Como o nome indica, as corridas são vistas de cima, com controlos mais dependentes do analógico e de uma leitura imediata do terreno. Mantém as mecânicas já aprendidas, mas apresenta pistas próprias, mais curtas, diretas e rápidas de dominar. É um excelente complemento ao restante conteúdo, ideal para quem prefere algo menos intenso mas que continue a transbordar personalidade.

O modo urbano é um género de Battle Royale

Já o City Trial destaca-se como um dos modos mais cativantes, oferecendo uma experiência PvPvE até 16 jogadores. Somos colocados numa cidade aberta onde recolhemos power-ups, escolhemos veículos e nos preparamos para o mini-jogo final, o Stadium, que tem lugar no fim de cada ronda. É neste modo que Kirby Air Riders atinge o seu auge de intensidade caótica. Jogá-lo com várias pessoas na mesma sala é incrivelmente divertido e recompensador, ainda mais quando, durante a sessão, surgem bosses, catástrofes e outros eventos imprevisíveis. É uma evolução natural da fórmula original e, na prática, resulta ainda melhor nesta nova versão.

No final da partida, somos transportados para o Stadium, onde nos aguardam desafios aleatórios que devemos escolher. Alguns são corridas contra o tempo, outros exigem eliminar pilotos ou cumprir objetivos muito específicos. Existem mais de quinze destes desafios, todos também acessíveis de forma independente fora do City Trial. No conjunto, este acabou por se tornar o modo onde mais tempo passei e aquele que mais recomendo para jogar acompanhado. Ainda assim, fica um pequeno lamento, teria sido ótimo ver mais conteúdo dedicado a este modo, como novos mapas que explorassem cidades diferentes e aumentassem ainda mais a variedade.

O modo multijogador funciona sem contratempos. De todos os modos, à exceção do Road Trip, podem ser jogados por até quatro jogadores, e o desempenho mantém-se sólido em jogo local. A taxa de fotogramas permanece quase sempre nos 60 fps com a Nintendo Switch 2 ligada à TV, apesar de pequenas quebras durante os momentos mais caóticos no modo City Trial.

Não nós falta acessórios para personalizar os nossos pilotos

O jogo beneficia ainda de um elenco repleto de personagens carismáticos do universo Kirby, que vamos desbloqueando à medida que participamos nos vários modos de Air Riders. Cada piloto pode ser combinado com uma máquina específica e, juntamente com as habilidades próprias de cada um, surgem combinações variadas e interessantes. É claro que a equipa de Masahiro Sakurai procurou criar pilotos e veículos distintos para estimular a experimentação e o pensamento estratégico, tornando as corridas mais profundas do que parecia à primeira vista.

A personalização vai ainda mais além. Podemos equipar os personagens com acessórios como chapéus de feiticeiro, orelhas de animais ou laços, tornando-os visualmente mais apelativos. O mesmo acontece com as máquinas, que podem ser modificadas através de fundos, autocolantes, acessórios e outros elementos que lhes dão um toque pessoal e distintivo.

Kirby Air Riders carrega claramente o ADN de Sakurai. Isso nota-se nos menus interativos, no cuidado colocado nas animações e no design colorido que imediatamente capta a atenção. Até a acessibilidade e a personalização respiram a identidade típica do criador.

Há modos para todos os gostos

Tal como a sua jogabilidade, Kirby Air Riders apresenta uma forte personalidade visual, adotando um estilo artístico muito próximo dos títulos mais recentes da série Kirby. Ainda assim, não atinge exatamente o mesmo nível de detalhe desses jogos mais atuais. Onde este título verdadeiramente se destaca é durante as corridas, os efeitos visuais são consistentes e chamativos, desde os rastos deixados pelos veículos às habilidades que se manifestam em pleno movimento, dando sempre uma sensação de dinamismo e velocidade. As cutscenes do modo história também surpreendem pela qualidade, com um estilo visual que remete para o que assistimos recentemente nos filmes de Super Mario Bros., trazendo uma energia cinematográfica que eleva o conjunto.

Esta sequela apresenta mais pistas e máquinas do que no original.

No campo sonoro, mantém a tradição da série, melodias alegres e dinâmicas que acompanham a ação com naturalidade. Cada pista tem o seu próprio tema, reforçando a identidade vibrante e divertida que o jogo procura transmitir. Por fim, vale destacar que o jogo inclui vários idiomas, e entre eles, o Português do Brasil, algo que, infelizmente, se tem tornado cada vez menos comum em lançamentos recentes. É uma inclusão que devia ser regra e não exceção, garantindo que mais jogadores se possam sentir representados e confortáveis no seu próprio idioma.

Kirby Air Riders conseguiu fazer aquilo que não estava à espera, afirmar-se não como um simples jogo ao estilo de Mario Kart, mas como uma experiência de corridas com identidade própria, cheia de criatividade e personalidade. Entre a jogabilidade refrescante, os modos de jogo variados e a atenção ao detalhe com o toque de Sakurai, resulta num jogo impressionante que sabe exatamente aquilo que quer ser: rápido, caótico, acolhedor e incrivelmente divertido.

Seja a solo, em família ou entre amigos, Kirby Air Riders é mais uma ótima adição ao catálogo da Nintendo Switch 2 e uma prova de que há espaço para inovação mesmo dentro de géneros tão consolidados.

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