Os últimos meses de 2025 marcaram um período histórico para o anime em Portugal. Entre setembro e novembro, três grandes produções japonesas chegaram aos cinemas nacionais, provando que o interesse por este tipo de entretenimento está longe de estagnar. Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – Castelo Infinito, Chainsaw Man – O Filme: Reze Arc (Chainsaw Man – The Movie: Reze Arc) e Jujutsu Kaisen: Execução (Jujutsu Kaisen: Execution) estabeleceram novos padrões de bilheteira e confirmaram Portugal como mercado relevante para distribuição de anime.
Demon Slayer pulveriza recordes
A estreia de Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – Castelo Infinito a 11 de setembro de 2025 redefiniu o que é possível para anime nos cinemas portugueses. Com uma receita de aproximadamente 462.800 euros e 60.357 bilhetes vendidos no primeiro fim de semana, este primeiro capítulo de uma trilogia tornou-se imediatamente o filme de anime mais visto de sempre em Portugal.
O número é ainda mais impressionante quando contextualizado, apenas nos três primeiros dias de exibição, Castelo Infinito superou todos os filmes anime estreados em 2024 no país, somados. O recorde anterior pertencia a Jujutsu Kaisen 0, que em 2022 havia arrecadado cerca de 229.904 euros. Ao fim de sete semanas em cartaz, o filme ultrapassou os 936 mil euros de receita total.
Dirigido por Haruo Sotozaki e produzido pela Ufotable, Castelo Infinito adapta o arco final do mangá de Koyoharu Gotouge. A história desenrola-se após os eventos da quarta temporada da série, quando os membros do Corpo de Caçadores de Demónios são separados e arrastados para a fortaleza dimensional de Muzan Kibutsuji. Ali, enfrentam os temíveis Upper Moons numa batalha decisiva que marca o clímax da narrativa.
Chainsaw Man deixa marca na estreia
Menos de dois meses depois, foi a vez de Chainsaw Man – O Filme: Reze Arc chegar aos cinemas portugueses. Originalmente previsto para 30 de outubro, o lançamento foi antecipado para 23 de outubro. No primeiro fim de semana, o filme arrecadou cerca de 77.877 euros com a venda de 10.561 bilhetes.
O estúdio MAPPA manteve-se à frente da animação, mas com mudança na direção. Tatsuya Yoshihara, que havia dirigido episódios da primeira temporada, assumiu o comando substituindo Ryu Nakayama. O arco Reze é considerado pelos fãs do mangá de Tatsuki Fujimoto como um dos mais memoráveis, combinando ação explosiva com desenvolvimento emocional das personagens.
A história centra-se em Denji, que após se transformar em Chainsaw Man e juntar-se à Divisão Especial 4 dos Caçadores de Demónios, conhece Reze, uma jovem que trabalha num café. O que parece ser um encontro casual revela-se bem mais complexo, misturando romance com a brutalidade característica da série.
Jujutsu Kaisen regressa aos cinemas
A 27 de novembro estreou Jujutsu Kaisen: Execução, um projeto diferente dos anteriores. Trata-se de uma compilação editada que reúne o arco do Incidente de Shibuya, que marcou a segunda temporada do anime, com os dois primeiros episódios da terceira temporada intitulada The Culling Game Part 1. No primeiro fim de semana, o filme ganhou 65.046 euros com 9.879 bilhetes vendidos.
Este modelo de compilação cinematográfica não é inédito. Ainda assim, para os fãs da série criada por Gege Akutami, o filme oferece uma oportunidade única de ver em grande ecrã momentos cruciais da história, antes da estreia completa da terceira temporada prevista para janeiro de 2026 na Crunchyroll. O arco do Incidente de Shibuya é particularmente apreciado pelos fãs pela sua narrativa intensa e consequências devastadoras para as personagens.
A animação continua nas mãos do estúdio MAPPA, com direção de Shōta Goshozono e argumento de Hiroshi Seko. A história acompanha Yuji Itadori e outros personagens numa batalha sem precedentes quando um véu desce sobre Shibuya durante as celebrações de Halloween, aprisionando civis e criando o cenário para confrontos decisivos.
Um mercado em ascensão
Os resultados destas três estreias demonstram a maturidade crescente do mercado português de anime. Há uma década, a presença de anime nos cinemas nacionais era esporádica e limitada. Hoje, distribuidores como a Big Picture Films e a Sony Pictures apostam em lançamentos simultâneos ou próximos das estreias internacionais, com formatos premium como IMAX e 4DX.
Os números de bilheteira também refletem uma mudança de perceção. Anime deixou de ser visto como nicho para se estabelecer como opção mainstream de entretenimento. A prova está na capacidade destes filmes de competirem diretamente com blockbusters ocidentais. No fim de semana de estreia de Demon Slayer, o filme foi o mais rentável em Portugal, superando todas as outras estreias. Para os estúdios de animação japoneses, estes resultados validam a aposta em produções cinematográficas de grande orçamento.
A questão já não é se haverá mercado para anime em Portugal, mas sim até onde esse mercado pode crescer.
