
A Sony e a Tencent chegaram a um acordo temporário que suspende toda a promoção e testes públicos de Light of Motiram enquanto o processo judicial sobre alegada cópia da série Horizon prossegue nos tribunais americanos. Segundo documentos judiciais apresentados a 1 de dezembro, ambas as partes estiveram “envolvidas em discussões para resolver a atual disputa” e concordaram em adiar as audiências agendadas, mas com condições específicas que limitam severamente as ações da Tencent.
O acordo estabelece quatro condições principais que a Tencent terá de respeitar até à realização das audiências em janeiro de 2026. Em primeiro lugar, a extensão do prazo não poderá ser usada para argumentar que a Sony atrasou a solicitação de uma liminar preliminar. Esta cláusula protege a posição legal da Sony, garantindo que o adiamento não prejudica a sua estratégia processual.
A segunda condição é a mais impactante para o jogo em si, não poderá haver qualquer nova promoção ou testes públicos de Light of Motiram durante o período em que a moção para liminar preliminar estiver pendente. Isto significa que a Tencent fica impossibilitada de gerar buzz adicional para o título ou de recolher feedback através de betas abertas, estratégias comuns na indústria para jogos ainda em desenvolvimento.
A terceira restrição impede que a data de lançamento de Light of Motiram seja antecipada para antes do quarto trimestre de 2027. Esta cláusula é particularmente significativa considerando que o jogo estava inicialmente planeado para finais de 2025. A Tencent já tinha adiado o lançamento para 2027 após o início do processo, numa jogada que muitos interpretaram como uma admissão tácita dos problemas levantados pela Sony.
Por fim, a quarta condição estabelece que as entidades da Tencent não procurarão uma descoberta expedita relacionada com a moção para liminar preliminar. Isto limita a capacidade da Tencent de acelerar o processo de recolha de provas, mantendo o ritmo processual sob maior controlo do tribunal.
Com este acordo, os prazos processuais foram significativamente alterados. A Tencent tem agora até 17 de dezembro de 2025 para apresentar a sua resposta à liminar preliminar da Sony, em vez do prazo original de 3 de dezembro. A Sony, por sua vez, terá até 2 de janeiro de 2026 para apresentar a sua réplica em apoio à moção.
Ambas as partes solicitaram também à juíza Jacqueline Corley que ouça simultaneamente a moção para rejeitar o caso e a liminar preliminar numa única audiência marcada para 29 de janeiro de 2026, em vez da data anterior de 15 de janeiro. Esta consolidação das audiências poderá levar a uma resolução mais rápida do caso, embora seja igualmente possível que a complexidade dos argumentos prologue o processo.
A Sony iniciou este processo judicial a 25 de julho de 2025 no Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito Norte da Califórnia. Na queixa original, a PlayStation descreveu Light of Motiram como um “clone servil” de Horizon Zero Dawn e Horizon Forbidden West, alegando violação de direitos de autor e marca registada.
Anunciado Light of Motiram, uma clara imitação de Horizon Zero Dawn
O documento judicial é particularmente incisivo na sua linguagem. “A cópia de Horizon pela Tencent é tão flagrante que o público a descreveu como ‘louca,’ ‘insana’ e ‘sem vergonha'”, afirma a Sony no processo. A empresa acusa ainda a Tencent de ter usado “a sua imitação da icónica personagem principal de Horizon, ‘Aloy’, como peça central da sua estratégia de marketing e promoção pré-lançamento, causando deliberadamente que numerosos amantes de jogos confundam Light of Motiram com o próximo jogo da série Horizon ao encontrarem vídeos promocionais de gameplay e contas de redes sociais da Tencent”.
A Sony procura danos estatutários de 150.000 dólares por cada obra separada da franquia Horizon infringida, ou os “danos reais sofridos pela SIE como resultado dos atos de violação de direitos de autor dos Réus”, bem como outros danos monetários. A empresa também pede uma ordem judicial que impeça a Tencent de lançar o jogo.
Um elemento particularmente controverso do caso prende-se com as negociações anteriores entre as duas empresas. Segundo o processo da Sony, a Tencent terá apresentado uma proposta para colaborar num jogo de Horizon em 2024, que foi rejeitada pela PlayStation. Pouco depois, a Tencent anunciou Light of Motiram, levantando suspeitas sobre se a empresa chinesa teria usado o conhecimento adquirido durante as negociações falhadas para desenvolver o seu próprio título.
“No início deste ano, a Sony teve discussões com a Tencent tentando resolver informalmente a sua preocupação de que Light of Motiram violava os seus direitos de propriedade intelectual”, detalha o processo. “A Tencent procurou novamente licenciar a propriedade intelectual de Horizon. A Sony comunicou (novamente) de forma clara e inequívoca que não licenciaria os ativos de Horizon à Tencent, opôs-se a Light of Motiram, e insistiu que fosse retirado. A Tencent desde então sinalizou que rejeitou as exigências da Sony e seguiria em frente”.
A Tencent, por seu lado, tem defendido vigorosamente a sua posição. Em documentos anteriores apresentados ao tribunal, a empresa argumentou que a Sony procura “uma tentativa imprópria de cercar um canto bem trilhado da cultura popular e declará-lo domínio exclusivo da Sony”. A defesa da Tencent sustenta que Horizon não é original e apresenta “tropos consagrados pelo tempo abraçados por dezenas de outros jogos”, incluindo Far Cry e The Legend of Zelda.
Num argumento técnico, a Tencent também alegou que a Sony está a processar a entidade errada e declarou que “a fama não cria uma marca registada; para se qualificar como marca registada, uma marca deve servir como identificador de origem para um bem ou serviço particular”. Esta linha de defesa procura desmantelar as alegações de violação de marca relacionadas com a personagem Aloy.
Sony chama “disparate” à defesa da Tencent e acusa gigante chinesa de jogar às escondidas
A Sony respondeu a estas alegações em outubro, chamando a defesa da Tencent de “disparate” e acusando a empresa de “jogar um jogo de conchas” para proteger Light of Motiram. A PlayStation argumentou que o jogo “põe em risco o sucesso contínuo de Horizon” e que a heroína Aloy tornou-se um “identificador de marca”, com a utilização de uma personagem similar em banners do Steam e cabeçalhos de websites a criar “confusão” entre os consumidores.
Light of Motiram foi revelado em novembro de 2024 pela Polaris Quest, uma subsidiária da Tencent. O jogo foi imediatamente comparado a Horizon Zero Dawn devido aos seus inimigos mecânicos semelhantes a animais, visuais-chave e conceito geral. A Tencent descreve o título como um jogo de sobrevivência em mundo aberto onde os jogadores exploram um mundo dominado por máquinas colossais e constroem bases de operações.
O contexto mais amplo desta disputa legal insere-se numa longa história de empresas chinesas a ser acusadas de ignorar regras de propriedade intelectual. A Tencent, apesar de ser uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, tem enfrentado repetidamente alegações de copiar jogos e conceitos ocidentais, embora raramente tenha sido levada aos tribunais com esta escala de exposição mediática.
A série Horizon tem sido um dos maiores sucessos da Sony desde o lançamento de Horizon Zero Dawn em 2017. O jogo vendeu mais de 20 milhões de cópias e a sua sequela, Horizon Forbidden West (2022), foi igualmente bem-sucedida comercial e criticamente. A Sony está atualmente a desenvolver Horizon 3, tornando a proteção da marca particularmente importante para os planos futuros da empresa.
A decisão da Tencent de aceitar estas condições restritivas sugere que a empresa pode estar a reavaliar a sua estratégia. Suspender toda a promoção e testes públicos durante meses é um golpe significativo para qualquer jogo em desenvolvimento, particularmente num que já foi adiado dois anos completos desde a sua janela de lançamento original.









