
A ascensão das ferramentas de IA generativa criou um problema inesperado na indústria japonesa de videojogos, candidatos que apresentam trabalhos criados por inteligência artificial como se fossem seus. A situação tornou-se tão grave que uma empresa de média dimensão decidiu tomar medidas drásticas.
Durante uma entrevista ao Daily Shincho, um diretor de arte conhecido pelo pseudónimo B revelou que alguns destes candidatos foram efetivamente contratados, mas a fraude foi descoberta quando demonstraram ser incapazes de contribuir significativamente para a equipa com as suas competências reais.
Para evitar casos semelhantes, a empresa passou a exigir que os candidatos desenhem algo ao vivo durante as entrevistas. Embora o método garanta a autenticidade do trabalho apresentado, trata-se de um processo extremamente moroso para todos os envolvidos.
“É um enorme transtorno para os recrutadores, e parece que estamos a andar para trás, mas ouço dizer que várias outras empresas estão a fazer o mesmo”, afirmou B.
A ironia do combate à IA
O caso ganha contornos particularmente irónicos quando B revela que, apesar do rigoroso processo de triagem implementado, começou a ouvir conversas da direção sobre contratar especialistas em IA generativa ou usar a tecnologia internamente.
Embora o seu papel crucial como ilustrador e designer de personagens lhe confira alguma influência nas decisões, B sente que a sua posição dentro da empresa está gradualmente a enfraquecer.
“Também uso IA generativa como ferramenta suplementar no trabalho. Mas acredito firmemente que apenas criadores humanos conseguem produzir personagens e gráficos convincentes a partir do zero. É precisamente por isso que digo à direção que devemos contratar indivíduos talentosos. No entanto, a empresa está a caminhar no sentido de promover a IA generativa. Fico ansioso sobre o quanto realmente compreendem a minha perspetiva”, confessou.
Um problema crescente
A fraude com IA em processos de recrutamento não se limita ao Japão. Dados revelados pela Resume Genius indicam que 17% dos gestores de recursos humanos relataram ter encontrado entrevistas suspeitas com deepfakes até ao final de 2024, um aumento significativo face aos 3% do ano anterior.
O fenómeno reflete uma transformação mais ampla no mercado de trabalho, onde a digitalização dos processos de recrutamento criou oportunidades tanto legítimas quanto fraudulentas. Enquanto algumas empresas continuam a expandir o uso de ferramentas de IA para agilizar contratações, outras lutam para separar candidatos genuínos de impostores cada vez mais sofisticados.
A situação coloca uma questão fundamental sobre o futuro das profissões criativas, até que ponto a tecnologia que deveria ser uma ferramenta auxiliar pode minar a confiança necessária para contratar verdadeiro talento humano?









