
Aos 71 anos, Yuji Horii continua a pensar no futuro dos videojogos. O criador de Dragon Quest, que recentemente se tornou o primeiro designer de jogos a receber a Ordem do Sol Nascente do governo japonês, partilhou durante a convenção G-Star 2025 na Coreia do Sul algumas ideias surpreendentes sobre como pretende incorporar inteligência artificial nos seus próximos projetos.
A conferência decorreu entre 13 e 16 de novembro, e foi lá que Horii admitiu publicamente algo que muitos profissionais ainda hesitam em dizer, usa ChatGPT regularmente. Mas não é apenas um utilizador casual, está genuinamente impressionado com as capacidades da tecnologia.
“Recentemente, tenho pensado que a IA é incrível. Por exemplo, o ChatGPT. As várias consultas são muito lógicas”, afirmou o designer à Famitsu. A forma como estas ferramentas conseguem dar conselhos sobre diversos tópicos e lidar com perguntas de forma estruturada fascinou-o.
Mas para Horii, a verdadeira questão não é se a IA é impressionante, é como pode ser usada para criar experiências de jogo únicas.
Jogos de mistério com parceiros virtuais
A visão de Horii para jogos com IA vai além de simples assistentes ou sistemas de ajuda. Ele imagina algo muito mais integrado na própria mecânica do jogo. “Há muitas pessoas que os usam como parceiros de chat ou parceiros de conversa. Poderíamos usar esse tipo de IA, por exemplo, para jogar jogos de quiz ou jogos de mistério onde tens de encontrar o culpado”, comentou.
Os exemplos que deu são particularmente intrigantes. Imagina jogadores a conversarem com parceiros virtuais controlados por IA para resolver casos criminais, discutindo pistas e teorias como fariam com um colega detetive. Ou um assistente de IA que compila automaticamente informações de investigação, permitindo aos jogadores fazerem perguntas naturais sobre o caso em vez de navegarem por menus tradicionais.
“Podias encontrar o culpado enquanto falas com os teus subordinados. A IA podia fazer o interrogatório e dizer-te qual foi a resposta. Seria divertido se pudéssemos realmente resolver um caso enquanto conversamos”, explicou.

Quando questionado diretamente se gostaria de incorporar este tipo de IA nos seus futuros jogos, a resposta de Horii foi simples e direta: “Sim”.
Esta não é uma ideia completamente fora do nada para Horii. Em 1983, ele criou The Portopia Serial Murder Case, um jogo de aventura e mistério que se tornou extremamente influente. Foi este título que inspirou Hideo Kojima a entrar na indústria dos videojogos, e até Eiji Aonuma, o atual responsável pela série The Legend of Zelda, o considera uma influência importante.
The Portopia Serial Murder Case também serviu como base para a criação de Dragon Quest, Horii aplicou muitas das técnicas de interface e narrativa que desenvolveu no jogo de mistério ao RPG que definiria um género inteiro.
Curiosamente, a Square Enix já tentou experimentar com IA usando precisamente The Portopia. Em 2023, lançaram uma demonstração técnica que transformava o jogo clássico num chatbot com processamento de linguagem natural. Os resultados foram… mistos. A receção no Steam foi esmagadoramente negativa, com utilizadores a considerarem a experiência frustrante e pouco funcional.
Mas como Horii observou a IA evoluiu bastante desde então: “Recentemente, fiz um remake de Portopia usando IA, já que a IA está cada vez mais avançada. Não tenho a certeza se é possível, mas seria muito divertido ter um jogo de aventura onde os jogadores pudessem conversar com IA, resolvendo casos”.
A vontade de Horii em experimentar com IA não é surpreendente quando olhamos para a sua carreira. Este é o homem que essencialmente inventou o blueprint para JRPGs de consola, que criou um dos primeiros jogos de visual novel, e que continua ativamente envolvido no desenvolvimento de Dragon Quest aos 71 anos.
Criador de Dragon Quest afirma que vai continuar a estar envolvido na sua série até falecer
Na sua entrevista à Game Informer, Horii admitiu que o desenvolvimento mudou drasticamente desde os anos 80: “O Dragon Quest original tinha uma equipa de menos de 10 pessoas, mas agora temos uma equipa de 300 a 400 a passar anos e anos a fazer um jogo; para não mencionar o custo crescente de desenvolvimento também”.
Mas apesar destas mudanças massivas na indústria, Horii mantém o mesmo espírito de experimentação que o levou a criar The Portopia Serial Murder Case há mais de 40 anos. A diferença agora é que tem à disposição ferramentas que nem sequer existiam quando começou, e claramente não tem medo de as usar.









