
Sundar Pichai, CEO da Google, não tem ilusões sobre o futuro do trabalho. Numa entrevista ao programa Newsnight da BBC, o executivo da empresa avaliada em 3,5 biliões de dólares afirmou que nenhuma profissão ficará imune ao impacto da inteligência artificial, incluindo a sua. Na verdade, Pichai foi mais longe, sugeriu que ser CEO é uma das funções mais fáceis de substituir por IA.
A mensagem de Pichai é clara e algo perturbadora, a automação não se vai limitar a cargos de entrada ou tarefas repetitivas. Muitas pessoas acreditam que apenas representantes de serviço ao cliente ou analistas júnior estão vulneráveis à automação, mas o CEO da Google é categórico quando afirma que todos os papéis serão tocados pela tecnologia.
Pichai disse à BBC: “A IA é a tecnologia mais profunda em que a humanidade alguma vez trabalhou, e tem potencial para benefícios extraordinários, e teremos de trabalhar através de disrupção social”. A frase chave aqui é disrupção social. Não se trata de pequenos ajustes no mercado de trabalho, mas de uma transformação fundamental na forma como a sociedade funciona.
Quanto ao seu próprio emprego, Pichai foi surpreendentemente franco: “Acho que o que um CEO faz é talvez uma das coisas mais fáceis para uma IA fazer um dia”. A admissão é significativa. Se até o líder de uma das maiores empresas tecnológicas do mundo reconhece que a sua função pode ser automatizada, nenhum cargo pode ser considerado verdadeiramente à prova de IA.
Adaptar ou ficar para trás
Apesar do tom sombrio, Pichai argumenta que o foco deve estar na adaptação, não no despedimento. Aqueles que aprenderem a usar ferramentas de IA terão as maiores vantagens no mercado de trabalho do futuro: “Acho que as pessoas que aprenderem a adotar e adaptar-se à IA terão um desempenho melhor. Não importa se queres ser professor, médico. Todas essas profissões estarão por aí, mas as pessoas que terão sucesso em cada uma dessas profissões são as pessoas que aprenderem a usar estas ferramentas”.
Jovens profissionais que estão a entrar no mercado de trabalho podem questionar se escolheram o caminho certo de carreira. Afinal, estão a sair da universidade para um mercado de trabalho cada vez mais incerto. Pichai abordou estas preocupações diretamente, mas a sua resposta pode surpreender.
“Com base no que vejo, não mudaria nada da forma como sempre pensámos,” disse Pichai quando questionado sobre como os pais devem aconselhar os filhos. “Acho que vai haver uma grande variedade de disciplinas que acabarão por importar. Encorajaria a próxima geração a abraçar a tecnologia. Aprende a usá-la no contexto do que fazes”.
A mensagem subjacente é que não existe um curso superior mágico ou profissão que garanta imunidade à influência da IA. Em vez de tentar prever quais empregos serão mais seguros, os jovens devem focar-se em aprender a integrar a IA nas suas competências, independentemente da área escolhida.
Há algo profundamente irónico nas declarações de Pichai. Por um lado, diz que a IA criará novas oportunidades e permitirá que as pessoas se concentrem em trabalho mais criativo, estratégico e que requer discernimento. Por outro, admite abertamente que a tecnologia irá eliminar certos papéis e transicionar outros de formas que hoje são difíceis de imaginar.
Quando questionado sobre comentários de Dario Amodei, CEO da Anthropic, que alertou recentemente que a IA poderia perturbar metade de todos os empregos de colarinho branco de nível inicial em apenas cinco anos, Pichai respondeu: “Respeito isso,” e sublinhou que o debate público sobre estes riscos é essencial.
Na mesma entrevista à BBC, Pichai também alertou os utilizadores para não confiarem cegamente no que a IA lhes diz. À medida que a tecnologia evolui e se infiltra em mais domínios, o pensamento crítico será essencial para discernir a verdade de potencial desinformação. Este conselho é particularmente relevante considerando que a própria Google está a construir e a promover estas ferramentas.

IA agente: a próxima grande evolução
Pichai revelou que acredita que nos próximos 12 meses veremos a evolução da IA para realizar tarefas mais complexas de forma autónoma, onde o modelo de IA atua como um agente em nome do utilizador: “Mais à frente, isso significa que há momentos em que pode ajudar-te a tomar uma decisão, como poderia ser, devo investir nesta ação, fazer a pergunta3 Ou o meu médico está a recomendar um tratamento, e como devo pensar sobre os prós e contras desse tratamento”.
Esta visão de IA como agente pessoal representa uma mudança fundamental na forma como interagimos com a tecnologia. Em vez de ferramentas que usamos ativamente, a IA tornar-se-ia num assistente que age independentemente nas nossas vidas, tomando decisões ou fornecendo análises complexas em nosso nome.
As declarações de Pichai inserem-se num debate mais amplo entre líderes tecnológicos sobre o que a IA significa para o emprego. Alguns preveem um apocalipse de empregos, outros imaginam uma utopia de trabalho zero e rendimento universal elevado.
Paradoxalmente, a ascensão da IA também está a criar novas categorias de emprego que não requerem necessariamente graus universitários. Segundo dados do ZipRecruiter, treinadores de IA ganham em média mais de 64 mil dólares por ano, e engenheiros de prompts ganham mais de 110 mil dólares anuais. Estes papéis, inexistentes há apenas alguns anos, representam oportunidades para aqueles que conseguem adaptar-se rapidamente às novas tecnologias.
A questão de saber se a IA trará benefícios extraordinários ou disrupção catastrófica permanece em aberto. O que é claro nas declarações de Pichai é que a mudança é inevitável, abrangente e imparável. A escolha que resta aos trabalhadores é simples: adaptar ou ficar para trás. E mesmo essa adaptação não garante segurança a longo prazo, apenas melhores hipóteses de sobrevivência num mercado de trabalho em transformação radical.









