Mais...
    InícioMangaJapão lança sistema de IA para caçar piratas de mangá e anime

    Japão lança sistema de IA para caçar piratas de mangá e anime

    Japão gasta MILHÕES em IA para para caçar piratas de mangá e anime

    Hell Mode screenshot PC computer gaming

    O Japão está a recorrer à inteligência artificial para intensificar a sua guerra contra a pirataria de mangá e anime. A Agência para Assuntos Culturais anunciou um investimento de 300 milhões de ienes, cerca de 2 milhões de dólares, num sistema de IA capaz de detetar páginas roubadas de mangá e identificar onde estão a ser distribuídas.

    A decisão surge após anos de luta frustrante contra sites de pirataria que proliferam mais rapidamente do que os moderadores humanos conseguem acompanhar. Keiko Momii, oficial da agência cultural, explicou à AFP: “Os detentores de direitos de autor gastam uma quantidade significativa de recursos humanos a tentar detetar manualmente conteúdo pirata online”.

    8,5 biliões de ienes em perdas anuais

    Os números são esmagadores. Segundo a Authorised Books of Japan, uma organização anti-pirataria, a distribuição ilegal online privou as editoras de aproximadamente 8,5 biliões de ienes por ano, o equivalente a 55 mil milhões de dólares. Estima-se que existam pelo menos mil websites a oferecer ilegalmente downloads gratuitos de conteúdo japonês, principalmente mangás.

    O sistema de IA funcionará através de deteção de imagens e texto, aprendendo a identificar páginas de mangá publicadas ilegalmente. Uma vez detetado o conteúdo, o sistema sinaliza potenciais uploads para as equipas de fiscalização. O próximo passo será expandir a deteção para sites estrangeiros, onde as editoras japonesas dizem que ocorre agora a maior parte da pirataria em grande escala.

    Cerca de 70% dos sites de pirataria que oferecem conteúdo japonês operam em línguas estrangeiras, incluindo inglês, chinês e vietnamita, segundo as editoras japonesas. Esta é precisamente a razão pela qual o foco do novo sistema está em operações internacionais, onde a aplicação da lei é tradicionalmente mais difícil.

    MangaDex e a vaga de takedowns

    O empurrão para a IA surge enquanto a indústria continua a lidar com pirataria generalizada. No início deste ano, o MangaDex foi forçado a remover centenas de séries de mangá e manhwa após uma vaga coordenada de avisos de takedown DMCA de editoras japonesas e coreanas. O caso demonstrou que mesmo plataformas populares não estão imunes à aplicação agressiva de direitos de autor.

    Em novembro, a conta oficial de Jujutsu Kaisen avisou que a gravação ou upload ilegal do seu novo filme podia resultar em multas até 10 milhões de ienes, aproximadamente 65 mil dólares, e potencial tempo de prisão. As editoras argumentam que fugas e uploads ilegais podem aparecer dentro de horas após o lançamento de um novo capítulo ou filme, frequentemente traduzidos e redistribuídos mundialmente antes dos lançamentos oficiais.

    Produção de Jujutsu Kaisen emite aviso após detetar gravações ilegais de Jujutsu Kaisen: Execution

    Mangamura: o caso que definiu o precedente

    O site Mangamura tornou-se o símbolo da magnitude do problema. Em abril de 2024, o Tribunal Distrital de Tóquio ordenou que Romi Hoshino, o antigo operador do notório site de pirataria, pagasse 1,7 mil milhões de ienes em danos a grandes editoras. Este veredicto marca o maior pagamento por violação de direitos de autor na indústria editorial japonesa.

    As editoras Shogakukan, Kadokawa e Shueisha tinham intentado conjuntamente uma ação judicial contra o Mangamura, procurando um total de mais de 1,9 mil milhões de ienes em danos, devido à pirataria ilegal de 17 títulos detidos pelas três editoras. Durante os seus dois anos de operação, o Mangamura hospedou aproximadamente 8200 cópias piratas de mangá, cerca de 73 mil volumes, que foram visualizadas por até 100 milhões de utilizadores por mês.

    A ironia é que Hoshino, que já cumpriu três anos de prisão pelo crime, anunciou publicamente em fevereiro de 2025 que não tem absolutamente nenhuma intenção de pagar a multa. Numa mensagem provocadora nas redes sociais, escreveu: “Bloqueio-os e pronto”, acrescentando que tinha convertido todos os seus fundos em Bitcoin e estava à espera deles armado e pronto. Citou Luffy de One Piece: “Vou tornar-me no rei dos piratas!”.

    Cloudflare multada em 500 milhões de ienes

    Este ano, a Cloudflare foi multada em 500 milhões de ienes por hospedar conteúdo infrator ligado a títulos japoneses como One Piece e Attack on Titan. A multa contra uma empresa norte-americana demonstra que o Japão está disposto a ir atrás de fornecedores de infraestrutura, não apenas dos operadores diretos de sites piratas.

    Pirataria de mangá no Japão: Cloudflare condenada a pagar 3,2 milhões de dólares

    A IA não é a única arma no arsenal anti-pirataria do Japão. Documentos judiciais recentes revelaram que a Aniplex e a Toho obtiveram recentemente uma ordem de intimação contra o X, antigo Twitter, para identificar vários dos seus utilizadores suspeitos de serem leakers. As empresas identificaram-nos através da incorporação de marcas de água quase invisíveis e créditos falsos nas versões de TV dos episódios.

    Se estas marcas de água fossem detetadas online antes do tempo de lançamento do streaming, a Aniplex e a Toho podiam reduzir os seus suspeitos. Este método causou controvérsia por potencialmente sinalizar indivíduos que podem não ser leakers mas que inadvertidamente partilharam leaks.

    A Netflix garantiu recentemente uma intimação contra o Discord pelo utilizador alegadamente responsável por uma das piores fugas de anime de sempre, afetando títulos como Dandadan. Em agosto, a Netflix e a Crunchyroll foram alvos de uma das maiores leaks de anime de sempre. Projetos ainda não lançados como Terminator: Zero, Dandadan e Ranma 1/2 foram partilhados online, com as marcas de água desfocadas.

    WEBTOON e a tecnologia Toon Radar

    A WEBTOON desenvolveu a sua própria tecnologia proprietária chamada Toon Radar, que incorpora informação invisível nos webtoons para identificar a fonte de fugas. A empresa tem enfatizado a sua abordagem de tolerância zero à pirataria, regularmente apresentando intimações. Este ano, a WEBTOON processou dois indivíduos suspeitos por 700 mil dólares e anunciou que foi responsável pelo encerramento de 70 sites de pirataria que valiam 1,2 mil milhões de visitas anuais.

    Dono do OKToon Condenado a 3 Anos de Prisão e 449 mil euros por Pirataria de Webtoons

    A iniciativa japonesa foi inspirada por um projeto semelhante na Coreia do Sul e, se for bem-sucedida, poderá também ser aplicada a outros filmes e música ilegalmente partilhados. Num comunicado, a Agência para Assuntos Culturais disse: “Há limitações em encontrar sites piratas com o olho humano, pois leva tempo e custos. Gostaríamos de desenvolver contramedidas eficazes para reduzir sites piratas e proteger os detentores de direitos”.

    O plano de 130 mil milhões para dominar o mundo

    O investimento em IA anti-pirataria insere-se numa estratégia mais ampla. Na sua estratégia revista Cool Japan divulgada em junho, o governo disse que pretende aumentar as exportações destes ativos culturais para 20 biliões de ienes até 2033. O governo japonês pretende quadruplicar as vendas anuais no estrangeiro de anime, mangá e jogos, atingindo 130 mil milhões de dólares até 2033, um valor quase o dobro das exportações anuais de automóveis.

    O Japão, berço de mangás e animes como Dragon Ball e franquias de videojogos como Super Mario e Final Fantasy, vê as indústrias criativas como um motor de crescimento a par do aço e dos semicondutores.

    Japão pressionado a reforçar apoio às indústrias de videojogos, anime e mangá

    Limitações da abordagem de IA

    O plano está longe de ser infalível. Especialistas alertam que a IA pode ainda não ter a sofisticação necessária para fazer julgamentos de direitos de autor fiáveis. Como nota o South China Morning Post, a aplicação torna-se difícil quando sites piratas são hospedados no estrangeiro, especialmente em jurisdições não dispostas ou incapazes de investigar ou processar infratores.

    A tecnologia pode também, se treinada incorretamente, sinalizar falsamente websites inocentes. Há também questões sobre até que ponto a IA consegue distinguir entre uso transformativo legítimo, paródia ou crítica, e pirataria pura e simples. O sistema terá de aprender a navegar estas águas cinzentas sem sufocar a criatividade legítima ou a liberdade de expressão.

    Helder Archer
    Helder Archer
    Fundou o OtakuPT em 2007 e desde então já escreveu mais de 60 mil artigos sobre anime, mangá e videojogos.

    Artigos Relacionados

    Subscreve
    Notify of
    guest

    0 Comentários
    Mais Antigo
    Mais Recente
    Inline Feedbacks
    View all comments
    - Publicidade -

    Notícias

    Populares