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    A RAM agora custa mais do que algumas placas gráficas novas

    Os preços da memória atingiram valores proibitivos, ultrapassando o custo de GPUs modernas e deixando os entusiastas de PC em desespero

    Corsair Vengeance ram

    O mercado de componentes para PC está a atravessar uma crise sem precedentes. O que antes era uma das peças mais acessíveis numa configuração personalizada tornou-se num dos elementos mais caros. Estamos a falar de memória RAM que, em alguns casos, custa mais do que placas gráficas completamente novas da última geração.

    Os números não mentem, desde o início de novembro, os preços da RAM aumentaram, em média, mais 25%. Alguns kits de 64GB registaram subidas superiores a 50% no mesmo período. A situação é tão grave que, atualmente, uma placa gráfica como a Nvidia GeForce RTX 5070 ou uma AMD Radeon RX 9070 XT acabam por ser mais baratas do que kits de RAM de 64GB de marcas como a Corsair Vengeance.

    A escalada dos preços começou há alguns meses. Em novembro, já se falava de aumentos de até 250% nos preços da RAM, mas o que parecia grave na altura agora parece quase acessível.

    Esta situação está a criar um paradoxo no mercado, uma RTX 5070 Ti acaba por ser mais barata do que alguns kits de memória RAM. É uma inversão completa da lógica tradicional de construção de PCs, onde a placa gráfica era tipicamente o componente mais dispendioso.

    A raiz do problema está na procura massiva das empresas de inteligência artificial. Apenas três fabricantes, Samsung Electronics, SK Hynix e Micron Technology, controlam aproximadamente 95% da produção global de DRAM. Estas empresas descobriram que podem gerar lucros significativamente maiores ao vender para data centers de IA do que ao servir o mercado de consumo.

    O resultado é uma reorientação estratégica da produção. A Micron, por exemplo, decidiu encerrar a sua linha de produtos Crucial dirigida aos consumidores para se concentrar exclusivamente no mercado empresarial e de IA. Até as marcas tradicionalmente focadas em opções económicas estão a ser descontinuadas.

    A perspetiva de alívio não é animadora. Construir novas fábricas de produção de DRAM custa milhares de milhões de dólares e leva anos até ficarem operacionais. Alguns analistas apontam para 2027 ou mesmo 2028 como datas realistas para uma normalização do mercado, assumindo que não há novas alterações na procura.

    O impacto já se faz sentir em vários níveis do mercado, com os fabricantes de PCs pré-montados a emitiram avisos sobre aumentos de preços. Esta crise de memória vai muito além dos PCs de secretária, praticamente todos os dispositivos eletrónicos modernos dependem de DRAM, portáteis, smartphones, tablets, consolas, automóveis. Fabricantes como a Dell planeiam aumentar os preços dos PCs em pelo menos 15-20% já em meados de dezembro, enquanto a Lenovo avisou os clientes que as suas cotações atuais e guias de preços podem não se manter.

    A situação tornou-se tão crítica que mesmo gigantes como a Nvidia deixaram de fornecer VRAM aos seus parceiros fabricantes de placas gráficas, deixando-os à própria sorte para encontrar memória no mercado. Algumas empresas já começam a considerar recuperar chips de memória de sistemas antigos, prática reminiscente da escassez global de chips de 2021-2022.

    Para quem está a planear construir um PC ou fazer upgrades, as opções são limitadas. Os PCs pré-montados podem, ironicamente, oferecer melhor relação qualidade-preço neste momento, uma vez que os fabricantes ainda têm stocks comprados a preços anteriores. Outra alternativa é procurar promoções que incluam RAM em pacotes com motherboards, embora estas ofertas sejam cada vez mais raras.

    O mais preocupante é que não existe um fim à vista para esta situação. Com a corrida à IA a mostrar poucos sinais de abrandamento e a capacidade de produção limitada a apenas três fabricantes globais, o mercado de memória permanece refém desta tempestade perfeita de procura descontrolada e oferta limitada. Até que novas fábricas entrem em funcionamento ou a bolha da IA abrande, os consumidores terão de continuar a pagar preços premium por um componente que, até há bem pouco tempo, era considerado uma das partes mais acessíveis de qualquer PC.

    Helder Archer
    Helder Archer
    Fundou o OtakuPT em 2007 e desde então já escreveu mais de 60 mil artigos sobre anime, mangá e videojogos.

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