Inko Midoriya - My Hero Academia

Neste último sábado, 13 de dezembro de 2025, a saga de Izuku Midoriya chegou oficialmente ao fim, junto com a história da série anime My Hero Academia. Com oito temporadas e 170 episódios, a série anime estreou em 3 de abril de 2016 com produção do estúdio Bones e foi exibida no decorrer de nove anos e oito meses.

Baseado no mangá criado por Kohei Horikoshi, o mangá foi finalizado em agosto de 2024, após uma década de serialização que rendeu 42 volumes. O mangá da série está a ser publicado em Portugal pela editora Devir, já no Brasil o mangá da série foi finalizado recentemente pela JBC, que é um selo de mangás da editora Companhia das Letras.

Sinopse de My Hero Academia

Izuku Midoriya quer acima de tudo ser um herói, mas não tem nem uma gota de super-poderes. Sem a possibilidade de frequentar a Escola Superior U. A. para super-heróis, a sua vida parece ter chegado a um beco sem saída.

É então que um encontro com All Might, o maior herói de todos os tempos, lhe dá a oportunidade de mudar o seu destino…

My Hero Academia - Deku Screenshot

Desde os anos de 1960 o conceito do que define o que é ser um super-herói foi disputado entre os personagens e histórias criados pelas editoras Marvel e DC Comics, indo desde a trindade Superman, Batman e Mulher-Maravilha e passando por Capitão América, Homem-Aranha e X-Men. No decorrer de todos estes anos as histórias dos personagens destas duas editoras americanas se utilizavam da nossa realidade para debater quem eram os heróis, quem eram os vilões e moldando o imaginário de milhares de pessoas em todos estes anos.

Ao mesmo tempo que os heróis americanos deixavam a sua marca como entretenimento Nerd através dos quadrinhos (e posteriormente na TV e no cinema), no Japão os mangás e animes davam seus primeiros passos para ganhar seus próprios conceitos do que significa ser um heroi. Com obras como Astro Boy (criado por Osamu Tezuka), Kamen Rider (de Shotaro Ishinomori), entre muitas outras obras da demografia Shonen, os mangás e animes davam uma visão parecida do significado de herói. Eis que em julho de 2014 surge na Weekly Shonen Jump a estreia o mangá My Hero Academia.

Misturando conceitos dos quadrinhos americanos e uma visão do leste-asiatico sobre a cultura dos super-heróis, My Hero Academia começa com a clássica saga do personagem comum que recebe poderes e a responsabilidade de se tornar um herói, tendo como guia por um mestre decadente e destinado a enfrentar um mal maior. Izuku Midoriya começa a história da série como essa pessoa comum por não possuir poderes em um mundo em que 80% da população possui algum tipo de poder específico. Logo nos três primeiros episódios da primeira temporada somos apresentados a Izuku Midoriya de uma forma impressionante, revelando a característica que viria a ser o ponto de partida para o conceito que definiria o que é ser um super-heróis. No decorrer das oito temporadas de My Hero Academia, Izuku Midoriya é moldado através das muitas situações de perigo, dos companheiros que conhece e dos vilões que enfrenta. É interessante que no decorrer da história protagonista de My Hero Academia não é totalmente linear, seguindo uma mesma linha de pensamento, o Izuku que começa a história possui um pensamento completamente diferente no final sobre a sociedade e sobre o que significa agir como super-herói, mas a base permanece a mesma no decorrer de toda a série.

Como contraponto a Izuku Midoriya temos como antagonista Tomura Shigaraki. Aqui temos um personagem que também não segue uma linha linear e que possui os mesmos tipos de experiências que Izuku Midoriya no decorrer da história. A diferença entre os dois é justamente as oportunidades e as orientações de bases de filosofia de vida que eles passam a utilizar como guia para suas ações. No decorrer da história vemos como Shigaraki possui muitas características de um jovem comum, mas que as algumas linhas de pensamento que ele passa a seguir com suas experiências de vida e de pessoas a sua volta acabam levando ele para um lado mais violento e extremista.

Trailer de anúncio de My Hero Academia 6

Através da visão de Izuku Midoriya e de Tomura Shigaraki somos apresentados no decorrer de toda a história de My Hero Academia a uma guerra de ideias sobre uma complexa sociedade que, mesmo em um mundo fictício, faz muita alusão ao mundo real. É interessante que essa batalha de ideias é muitas vezes mais violenta do que as cenas de luta que existem no decorrer da obra. Em que é possível se ver uma hora pendendo para o lado dos heróis e em outros momentos concordando com algumas ideias dos vilões. A forma como a narrativa da série trabalha esses assuntos busca o tempo todo obrigar o público a pensar se as ações dos personagens, sejam heróis ou vilões, são realmente as opções certas para aquele momento. 

Mesmo com muitos momentos leves ou com cenas de comédia, a série vai abordando questões envolvendo eugênia, preconceito a aparência física, problemas mentais e outros assuntos que ficam apenas nas entrelinhas. As questões familiares dos personagens também são abordadas no decorrer da série, com um destaque maior na relação tóxica na família do personagem Shoto Todoroki. É  a partir da abordagem destes assuntos que ocorrem os questionamentos mais diretos sobre a possibilidade dos personagens terem tido algum tipo de apoio emocional, como se a série estivesse usando o momento para fazer paralelos com situações reais da possibilidade dessas pessoas terem algum outro tipo de vida caso eles tivessem tido algum apoio familiar, emocional ou psicológico.

Um dos pontos de maior importância no decorrer de My Hero Academia é a dinâmica sobre a influência dos super-heróis dentro da sociedade da série. Essa questão é desenvolvida no decorrer de toda a série e mostra os lados bons e ruins da influência deles na sociedade. Podemos dizer que os super-heróis fazem um paralelo com pessoas famosas no mundo real, com as pessoas comuns sendo influenciadas por suas ações ou falas. A série também se utiliza bastante de influência dos super-heróis dos quadrinhos americanos nesta parte, principalmente sobre questões envolvendo auto sacrifício ou individualismo que um super-herói escolhe fazer, mas a obra acaba se desvincular disso de uma forma que visa mostrar que os heróis e pessoas de outras áreas unidas em prol  de algo maior são uma influência mais positiva para a sociedade.

Para que a história de My Hero Academia funcionasse como um todo só seria possível com uma gama incrível de personagens. Nessa parte Kohei Horikoshi acertou muito ao criar uma quantidade gigante de personagem que possuem características próprias, visuais marcantes e carisma que faz o fandom brigar para defender seus personagens favoritos. Existem personagens que possuem mais destaques do que outros no decorrer da história e a série acerta bem ao trazer um desenvolvimento mínimo em cada um deles. É claro que existem personagens bem complicados de serem defendidos. Mineta é um alívio cômico que possui uma gag completamente desnecessária, sendo o único personagem da turma 1-A que é totalmente descartável.

Um item bastante debatido pelos fãs da série sobre o desenvolvimento dos personagens secundários gira em torno das personagens femininas de My Hero Academia. Como dito no parágrafo anterior, as muitas personagens femininas da série possuem um desenvolvimento mínimo no decorrer da história, isto acaba sendo bastante positivo para a obra, pois existem séries anime famosas mundialmente que acabam não tendo um desenvolvimento decente para suas personagens femininas. O destaque acaba sendo principalmente nas personagens Ochaco Uraraka e Himiko Toga, em um dos arcos mais interessantes e chocantes da história da série. O conflito entre as personagens envolve questões psicológicas e diferenças entre formas de apoio familiar na infância/adolescência e vai escalonando de uma forma interessante e violenta até uma conclusão trágica e impactante. Mas no decorrer da série outras personagens femininas acabam sendo desenvolvidas de formas bastante interessantes no decorrer dos arcos.

Ochaco my hero academia discurso

My Hero Academia surgiu em um período de transição entre as grandes produções de série anime. Com uma equipe de produção competente no decorrer de suas oito temporadas, a série teve o desafio de se superar após a sua excelente segunda temporada. Podemos dizer que esse desafio foi sendo superado aos poucos, com uma animação que foi crescendo até ter um ápice em sua temporada final. A animação da série conseguiu mesclar bem momentos épicos, com momentos cômicos e cenas aterrorizantes e tristes. Mas tudo isso só foi possível por causa de uma edição e montagem muito dinâmica, um elenco de voz competente e, principalmente, uma trilha sonora que elevasse ainda mais todo o restante.

O elenco de voz é outro fator muito positivo no decorrer do anime. Com vozes novas e outras conhecidas do mundo dos animes, a série conseguiu um elenco que cresceu junto com a série. Temos que dar um destaque também para o elenco de voz das versões dubladas/dobradas do anime, que ajudaram a popularizar a série em outras línguas.

Com a trilha sonora mas mãos do competente compositor Yuki Hayashi, a série anime de My Hero Academia ganhou o tom que precisava para elevar os momentos de ação e de emoção ao máximo. É impossível pensar na luta entre Izuku Midoriya, Shoto Todoroki e Ten’ya Iida contra Stain sem a trilha tocando no fundo. Ou contemplar tudo o que ocorreu no arco do festival escolar ao ouvir a banda da turma 1-A tocando a música Hero Too. Sem falar da música You Say Run tocando nos momentos mais importantes no decorrer de toda a obra.

Após nove anos de exibição, My Hero Academia chegou ao seu final concluído sua história e chegando ao final de forma satisfatória trazendo uma visão própria do que significa ser um super-herói. Obrigando o público a pensar nas linhas de pensamento dos heróis e vilões, a série desenvolve uma grande gama de personagens em debates de muitos assuntos importantes para o mundo atual. Mas isso só foi possível funcionar bem graças a uma animação muito bem produzida (mesmo com seus momentos de altos e baixos), com um elenco de voz carismático e uma trilha sonora que incorpora o contemporâneo e o episódio em suas músicas.

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