
A Nvidia está a preparar-se para reduzir significativamente a produção das suas placas gráficas GeForce RTX 50 durante os primeiros seis meses de 2026. Segundo múltiplos relatos da indústria, os cortes podem chegar aos 30-40% quando comparados com o mesmo período de 2025, numa decisão que promete abalar o mercado de hardware para PC.
A informação foi inicialmente divulgada pelo Board Channels, um fórum chinês especializado em cadeias de fornecimento, e posteriormente confirmada pela Benchlife, conhecida pelas suas fontes junto de fabricantes asiáticos. Embora não oficialmente confirmado pela Nvidia, o relato ganhou credibilidade ao ser corroborado por vários parceiros de placas gráficas e fornecedores de componentes.
A raiz do problema não se encontra apenas na memória GDDR7, usada nas mais recentes placas gráficas. A escassez afeta múltiplos tipos de memória, incluindo GDDR6, DDR5 e DDR4, numa crise que se estende por todo o ecossistema de componentes para PC. Os preços da memória DDR5 já dispararam, e especialistas da indústria alertam que a situação poderá prolongar-se até ao final de 2027.
O problema é agravado pela procura explosiva do setor de inteligência artificial. Os datacenters consomem quantidades massivas de memória de alta densidade, e os fabricantes têm vindo a priorizar produtos com margens de lucro mais elevadas destinados a este mercado, deixando as placas gráficas para consumidores numa posição secundária.
As primeiras vítimas desta estratégia de reajustamento serão as RTX 5070 Ti e RTX 5060 Ti de 16GB. A escolha não é acidental, ambas as placas utilizam a mesma quantidade de memória que modelos topo de gama como a RTX 5080, mas são vendidas a preços significativamente inferiores.
Do ponto de vista empresarial, a decisão faz sentido. Ao redirecionar a memória escassa destes modelos de gama média para as placas mais caras, a Nvidia consegue maximizar os seus lucros por unidade de memória disponível. Curiosamente, não há menção a cortes na linha RTX PRO, sugerindo que os produtos profissionais continuarão a ter prioridade no acesso à memória limitada.
Implicações para os jogadores
Para quem procura uma placa gráfica com memória adequada para jogos modernos, as notícias não são animadoras. A RTX 5060 Ti de 16GB é considerada uma opção muito superior à versão de 8GB, precisamente por ter memória suficiente para executar títulos atuais sem compromissos. Com a redução de produção, mais consumidores serão forçados a optar pelos modelos de 8GB, menos capazes mas mais disponíveis.
A situação pode ainda piorar. Analistas preveem que os preços das placas gráficas possam aumentar entre 10 a 20% no primeiro trimestre de 2026, à medida que o stock atual, comprado a preços mais baixos, se esgota e é substituído por inventário mais caro.
Há ainda outra peça neste puzzle: a série RTX 50 Super, esperada para 2026. Estes modelos deverão usar módulos de memória GDDR7 de 3GB em vez dos atuais 2GB, uma tecnologia já presente nos portáteis RTX 5090 mas escassa no mercado de desktop.
Se a Nvidia realmente planeia lançar versões Super das RTX 5080, 5070 e possivelmente 5060, terá de garantir fornecimento suficiente destes módulos de maior capacidade. Alguns rumores sugerem que a série Super pode até ser cancelada devido à escassez, embora não haja confirmação oficial.
A redução da produção das placas “normais” poderia servir um propósito estratégico, libertar memória GDDR7 de 2GB para que os fornecedores possam produzir mais módulos de 3GB necessários para as variantes Super. Desta forma, a Nvidia teria algo novo para oferecer ao mercado em 2026, mantendo o interesse dos consumidores.
Um problema de longo prazo
O mais preocupante é que esta não é uma crise temporária. Os fabricantes de memória operam já perto da capacidade máxima, e o desequilíbrio entre oferta e procura deverá persistir pelo menos até à segunda metade de 2027. Alguns kits de memória DDR4 de 256GB estão a ser vendidos por mais de 3000 dólares, e até configurações básicas de DDR5 de 32GB ultrapassam os 300 dólares.
A AMD já aumentou os preços para distribuidores em cerca de 10 dólares por cada 8GB de memória, com um segundo aumento planeado para janeiro de 2026. A ASUS e outros fabricantes de placas-mãe também estarão a abrandar a produção, num efeito dominó que afeta toda a indústria de hardware para PC.
Vale a pena recordar que em novembro, a Nvidia reportou mais um trimestre recorde impulsionado pela procura de inteligência artificial, e a empresa revelou que deixou de se focar em gaming para se tornar numa gigante de datacenters dedicados a IA. Esta mudança de estratégia corporativa torna-se cada vez mais evidente nas decisões de alocação de recursos.
Enquanto o mercado de datacenters cresce exponencialmente e oferece margens de lucro substancialmente superiores, os jogadores ficam numa posição cada vez mais vulnerável. A pergunta que permanece é se estes cortes de produção são genuinamente motivados por escassez de componentes, ou se representam uma gestão estratégica de oferta para manter preços elevados num mercado onde a procura para gaming pode estar a enfraquecer.









