
Um novo estudo conduzido pelo Yano Research Institute traça o retrato mais detalhado da cultura otaku no Japão, revelando que os fãs de anime representam o maior grupo dentro desta subcultura. Com cerca de 5,49 milhões de pessoas identificadas como otakus de anime, este segmento lidera destacadamente entre as 31 categorias de hobby analisadas pela instituição japonesa.
O inquérito, realizado em julho de 2025, abrangeu 10.000 residentes japoneses com idades entre os 15 e os 69 anos. Os participantes foram questionados sobre se se consideravam otakus ou se já tinham sido identificados como tal por terceiros. A metodologia permitiu traçar não apenas o tamanho de cada comunidade, mas também os seus padrões de consumo e comportamento.
Logo após os fãs de anime, o mangá surge como segunda maior categoria com aproximadamente 5,10 milhões de otakus. A proximidade entre estas duas categorias não surpreende, dado que anime e mangá partilham frequentemente os mesmos universos narrativos e personagens. No entanto, é notável que os fãs de anime ultrapassem os de mangá, invertendo potencialmente a relação tradicional onde o mangá serve de base para adaptações animadas.
Os idols japoneses conquistam o terceiro lugar, com cerca de 3,55 milhões de otakus dedicados. Este dado reflete a força contínua da indústria de idols no país, que combina música, performance e uma relação próxima com os fãs. Seguem-se os jogos para smartphone com 2,75 milhões e as consolas domésticas com 2,32 milhões de otakus.
O fenómeno “oshi” define a cultura otaku moderna
Uma das descobertas mais reveladoras do estudo relaciona-se com o conceito de “oshi”, termo japonês que designa uma pessoa, personagem, grupo ou franquia que alguém apoia ativamente. A investigação do Yano Research Institute demonstra uma diferença abismal entre otakus e não-otakus neste aspeto: 64,2% dos otakus afirmam ter um oshi, comparado com apenas 21,5% entre aqueles que não se identificam como otakus.
Esta disparidade ilustra uma característica fundamental da cultura otaku, o compromisso emocional e financeiro com objetos de admiração específicos. Não se trata apenas de gostar de algo, mas de dedicar tempo, recursos e energia a apoiar ativamente esse interesse.
Quanto ao tipo de oshi preferido, os idols japoneses lideram entre os otakus com 22,9%, seguidos por personagens de anime e mangá com 16,9% e artistas musicais com 13,9%. Curiosamente, entre os não-otakus, os artistas musicais ocupam o primeiro lugar com 22,9%, seguidos pelos idols japoneses com 21,4% e personagens de anime e mangá com 9,3%.
Quanto gastam os otakus japoneses?
A questão financeira revelou padrões interessantes. A maioria dos otakus gasta entre 10.000 e 50.000 ienes anualmente nas suas paixões, aproximadamente entre 55 e 270 euros. Quando calculada a média geral, incluindo aqueles que não gastam nada, o valor anual per capita situa-se nos 50.472 ienes, cerca de 274 euros.
Este número pode parecer modesto à primeira vista, mas ganha outra dimensão quando multiplicado pelos milhões de otakus em cada categoria. A indústria do anime, por exemplo, com 5,49 milhões de fãs dedicados, movimenta somas consideráveis apenas através desta base de consumidores específica.
O estudo abrangeu 31 categorias distintas, desde as mais tradicionais como anime, mangá e light novels, até áreas mais específicas como modelismo ferroviário, airsoft, cosplay, VTubers e musicais 2.5D. Esta diversidade reflete como o termo “otaku“, outrora associado principalmente a anime e mangá, expandiu-se para abranger praticamente qualquer interesse que seja perseguido com paixão e dedicação acima da média.
A investigação do Yano Research Institute integra-se numa série mais ampla de estudos sobre o mercado Cool Japan, termo usado para descrever a exportação cultural japonesa. Os dados completos serão publicados como parte da série de pesquisa do mercado Cool Japan/Otaku de 2025, oferecendo uma visão abrangente sobre esta importante componente da economia criativa japonesa.
Os resultados deste inquérito surgem num momento em que a cultura pop japonesa continua a expandir a sua influência global. Com plataformas de streaming a tornar o anime mais acessível do que nunca, e convenções dedicadas a atrair dezenas de milhares de pessoas em diversos países, compreender o mercado doméstico japonês oferece pistas valiosas sobre tendências que provavelmente se replicarão noutros territórios.









