
Quando um dos mangaká mais influentes da última década admite publicamente que está “completamente ultrapassado” por outro artista, o mundo do anime e mangá presta atenção. Gege Akutami, criador de Jujutsu Kaisen, fez precisamente isso ao recomendar Phenomenon X: Paranormal Crime Files, a estreia editorial de Nakaya Onsen, um dos animadores que ajudou a definir visualmente a série anime.
A relação entre ambos não é nova. Onsen trabalhou no anime de Jujutsu Kaisen desde a primeira temporada, deixando a sua marca como designer de espíritos amaldiçoados no filme Jujutsu Kaisen 0 e, mais impressionantemente, como animador-chave do episódio 16 da segunda temporada. Este episódio tornou-se num dos mais aclamados e visualmente impactantes do shonen moderno, cimentando a reputação de Onsen como um dos talentos mais destacados do estúdio MAPPA.
O comentário de Akutami, traduzido do japonês nas redes sociais, não deixa margem para dúvidas sobre o seu entusiasmo: “Sabes desenhar anime, e o teu mangá também é interessante, estou completamente ultrapassado!!!!” A declaração ganhou rapidamente força entre os fãs, não só pela raridade de um criador desta dimensão fazer uma recomendação tão direta, mas também pelo reconhecimento do talento multifacetado de Onsen.
De animador de ação a contador de histórias de mistério
O que torna Phenomenon X particularmente intrigante é a mudança radical de direção criativa de Onsen. Conhecido pelo seu trabalho explosivo em sequências de ação em Jujutsu Kaisen, Fate/Grand Order Absolute Demonic Front: Babylonia e no episódio 11 da segunda temporada de Mob Psycho 100, o animador surpreendeu ao criar uma história de detetives sobrenatural completamente desprovida dos elementos de combate que o tornaram famoso.
Onsen numa publicação nas redes sociais afirmou: “Nos meus trabalhos com anime, costumo lidar com animação de ação, mas o meu mangá não contém qualquer elemento de ação — é uma história policial tranquila. Espero que gostem de ver um lado diferente do meu estilo, bem diferente do que estão habituados a ver nos meus animes”.
A série, publicada pela revista Harta da Kadokawa desde outubro de 2024, segue Anan, uma detetive semi-humana com características felinas, cuja rotina de casos mundanos é virada do avesso quando é emparelhada com Kanai, um agente federal misterioso de óculos escuros e cabelo espetado. Juntos, investigam fenómenos bizarros que desafiam qualquer lógica: incêndios que surgem sem causa aparente, múmias a vaguear por bairros tranquilos e girassóis a florescer em pleno inverno. Cada caso sugere algo muito mais perigoso do que aparenta.
A recomendação de Akutami surge num momento crucial para a divulgação internacional da obra. A ligação entre ambos os criadores através de Jujutsu Kaisen deu ao mangá uma visibilidade instantânea que poucos trabalhos de estreia conseguem alcançar. Não é todos os dias que um dos nomes mais sonantes da indústria dedica palavras de admiração tão genuínas a um colega.
O peso de um legado visual
O percurso de Nakaya Onsen na animação é tão impressionante quanto diversificado. Para além do trabalho em Jujutsu Kaisen, também contribuiu como designer de personagens nos filmes Fate/Grand Order The Movie Divine Realm of the Round Table: Camelot, dirigiu o vídeo de abertura do jogo Fate/Samurai Remnant e trabalhou como diretor e storyboarder no episódio 18 de Fate/Grand Order Absolute Demonic Front: Babylonia.
A sua capacidade de transitar entre diferentes papéis criativos na animação e agora na criação de mangá demonstra uma versatilidade rara. Enquanto muitos animadores se especializam numa área específica, Onsen provou ser igualmente competente a dar vida a cenas de batalha frenéticas e a construir narrativas de mistério atmosféricas.
O episódio 16 da segunda temporada de Jujutsu Kaisen, onde serviu como animador-chave, é frequentemente citado como um dos pontos altos visuais da série. O confronto entre Sukuna e Jogo tornou-se icónico não apenas pela coreografia da batalha, mas pela forma como Onsen conseguiu transmitir emoção e intensidade através do movimento.
Phenomenon X surge numa altura em que o género de mistério sobrenatural procura novas vozes. Ao contrário de muitas obras que privilegiam a ação espetacular, a série de Onsen concentra-se na investigação, na atmosfera e na dinâmica entre dois personagens completamente opostos.
Esta abordagem mais contida e reflexiva contrasta fortemente com o trabalho anterior de Onsen, mas demonstra a mesma atenção ao detalhe que o tornou reconhecido na animação.










