
O fenómeno Demon Slayer (Kimetsu no Yaiba) continua a fazer história nas bilheteiras mundiais, mas os fãs que aguardam pela estreia em streaming terão de esperar bem mais tempo do que esperavam. O filme Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – Castelo Infinito (Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – Infinity Castle) acaba de estrear na China com números impressionantes, arrecadando 52,4 milhões de dólares apenas no primeiro fim de semana, elevando o total mundial para uns colossais 730 milhões de dólares.
A estreia chinesa representa mais um marco importante para aquela que é já a produção de anime mais lucrativa de 2025. Distribuído localmente pela Maoyan, o filme abriu em primeiro lugar nas bilheteiras chinesas entre 14 e 16 de novembro, superando o thriller Now You See Me: Now You Don’t, que ficou em segundo lugar com 21,6 milhões de dólares.
O sucesso na China não é surpreendente quando se olha para os números da pré-venda. Antes mesmo da estreia, Infinity Castle tinha já angariado 22,4 milhões de dólares em vendas antecipadas, estabelecendo o terceiro melhor recorde de sempre para um filme não-chinês na era pós-COVID, ficando apenas atrás de Avatar: The Way of Water e Fast & Furious 9. Com mais de 100 mil sessões abertas para venda de bilhetes, o filme bateu também o recorde para qualquer produção não-chinesa nesta fase inicial.
A pontuação de 8.8 no Douban, plataforma chinesa de críticas, reflete a receção extremamente positiva do público. Este resultado torna-se ainda mais notável considerando o momento de tensões geopolíticas entre Pequim e Tóquio, amplamente cobertas nos media estatais chineses. O boca-a-boca positivo tem sido esmagador, provando que a qualidade da animação da Ufotable e a força emocional da história transcendem fronteiras políticas.
Com estes números, analistas preveem que Infinity Castle poderá arrecadar entre 200 a 400 milhões de dólares apenas no mercado chinês. Se atingir o limite superior destas projeções, o filme estará em posição de alcançar o cobiçado marco de mil milhões de dólares nas bilheteiras mundiais, tornando-se no primeiro filme anime a conseguir tal feito.

Para contextualizar a dimensão deste sucesso: Infinity Castle já é oficialmente o filme internacional de maior sucesso de sempre nas bilheteiras norte-americanas, ultrapassando O Tigre e o Dragão. No Japão, tornou-se no segundo filme de maior bilheteira da história do país, ficando apenas atrás do seu predecessor Mugen Train. A nível global, é já o quinto filme com maior bilheteira de 2025.
A franquia Demon Slayer baseia-se no mangá popular de Koyoharu Gotouge. Após a estreia da primeira adaptação para anime em 2019, a propriedade transformou-se rapidamente numa das exportações culturais mais amadas do Japão. A história centra-se em Tanjiro Kamado, um rapaz bondoso que se torna um “caçador de demónios” após a sua família ser assassinada e a sua irmã mais nova, Nezuko, ser transformada num demónio.
O primeiro filme, Mugen Train, arrecadou mais de 500 milhões de dólares em 2020, um feito impressionante numa altura em que o negócio dos cinemas ainda estava fortemente afetado pela pandemia. Infinity Castle é o primeiro filme de uma trilogia planeada que adapta o arco “Final Battle”, que conclui a saga de Demon Slayer.
Mas há um lado menos positivo nesta história de sucesso. Precisamente porque o filme continua a gerar receitas substanciais nos cinemas, a Sony Pictures Entertainment e a Crunchyroll já confirmaram que não haverá lançamento para streaming até bem entrado 2026. Mitchel Berger, vice-presidente executivo de comércio global da Crunchyroll, foi claro na sua mensagem: “Vão ver Demon Slayer Infinity Castle no cinema porque o cinema é o único lugar onde vão poder ver este filme em 2025. Se querem vê-lo, vão vê-lo ao cinema porque é o único lugar onde vai estar disponível”.
Esta estratégia de exclusividade prolongada é uma faca de dois gumes. Por um lado, garante que o filme continue a maximizar as receitas nas bilheteiras enquanto mantém momentum. Por outro, deixa milhões de fãs em regiões onde o filme já não está disponível em cinemas sem qualquer forma de aceder à produção.

A decisão da Crunchyroll de manter o filme exclusivamente nos cinemas durante tanto tempo reflete uma aposta na experiência cinematográfica. A animação deslumbrante da Ufotable, a banda sonora de Yuki Kajiura e as batalhas finais carregadas de emoção foram concebidas para serem vividas no grande ecrã, com som envolvente e numa experiência partilhada com outros fãs.
Ainda assim, a situação tem gerado frustração considerável entre os fãs. Muitos expressaram descontentamento nas redes sociais, especialmente após um tweet (posteriormente apagado) da conta oficial inglesa de Demon Slayer sugerir que o filme permaneceria exclusivo aos cinemas durante todo o ano de 2026, o que teria empurrado a estreia em streaming para 2027.
Com base nos padrões de lançamento anteriores da franquia, especulações apontam para uma estreia na Crunchyroll algures entre o final de janeiro e meados de fevereiro de 2026. Mugen Train seguiu um modelo semelhante, com um período substancial entre a estreia nos cinemas e a disponibilização em plataformas digitais.
O sucesso contínuo de Infinity Castle valida claramente a estratégia da Sony de investir pesadamente na sua divisão Crunchyroll, que evoluiu de uma plataforma de streaming de nicho para um pilar fundamental do ecossistema de conteúdos da empresa. O anime tornou-se uma pedra angular do esforço mais amplo da Sony para transformar as exportações culturais mais populares do Japão em resultados consistentes nas bilheteiras globais.
O contraste com as produções de Hollywood é evidente. Num ano em que poucos filmes americanos conseguiram ultrapassar a marca do mil milhões de dólares, o potencial de um filme de anime atingir esse marco representaria uma mudança global significativa no panorama do entretenimento. Analistas da indústria têm observado de perto este fenómeno, especialmente após os desapontamentos financeiros de vários blockbusters americanos em 2025.

A abertura na China também levanta questões sobre a segunda parte da trilogia. Com o primeiro filme ainda a dominar as bilheteiras, é improvável que haja anúncios sobre a sequela antes de 2026. Dado que a máquina promocional do próximo filme provavelmente durará tanto quanto a do primeiro, somando-se ao tempo necessário para promover o lançamento doméstico da primeira parte, muitos analistas preveem que o segundo filme só chegue aos cinemas em 2027.
Para os fãs que ainda não viram o filme nos cinemas e estão em regiões onde ainda está disponível, a mensagem é clara: esta pode ser a última oportunidade antes de 2026. Para todos os outros, resta esperar pacientemente pelo lançamento em streaming, sabendo que, quando finalmente chegar, será um dos eventos mais aguardados do ano no mundo do anime.









