A Crunchyroll intensificou os seus esforços anti-pirataria ao visar o Hayase, um cliente de torrents dedicado ao streaming de anime em tempo real. Através da sua parceira indiana de takedowns, a MarkScan, o serviço de streaming americano solicitou ao GitHub a remoção de links para várias versões da aplicação, num movimento que coincide com o fim da camada gratuita da Crunchyroll previsto para 31 de dezembro de 2025.
O Hayase, anteriormente conhecido como Miru, apresenta-se como um cliente de torrents que não aloja nem disponibiliza qualquer conteúdo. A aplicação funciona através de extensões instaladas pelo utilizador, numa estratégia que recorda o Kodi, enquanto a sua funcionalidade de streaming lembra o desaparecido Popcorn Time. No site oficial, os criadores definem o software como uma ferramenta “bring-your-own-content”, ou seja, onde o utilizador é responsável por fornecer o próprio conteúdo.
“O Hayase é um cliente de torrents bring-your-own-content concebido para entusiastas de anime. Fornece a tecnologia para fazer streaming de torrents em tempo real, sem esperar que os downloads terminem”, escrevem os programadores na página oficial do GitHub. Esta abordagem procura distanciar a aplicação de responsabilidades legais, colocando o ónus no utilizador final.
No entanto, a MarkScan não aceita esta distinção. Num aviso DMCA enviado ao GitHub, a empresa afirma: “Este aviso serve para chamar a vossa atenção para o facto de termos encontrado violação de direitos de autor na aplicação denominada Hayase que está a usar os vossos serviços. O Hayase permite acesso não autorizado a conteúdo de anime, uma atividade que está bem estabelecida como violação de direitos de autor segundo as leis aplicáveis e a jurisprudência relevante”.
O aviso de takedown, que cita tanto regulamentos indianos de TI como a lei de direitos de autor dos Estados Unidos, solicitou a remoção de quase duas dezenas de URLs. Curiosamente, o documento não fornece detalhes sobre as alegadas infrações, referindo-se antes a capturas de ecrã num Apêndice B que não foi incluído no aviso publicamente divulgado.
Em declarações ao TorrentFreak, a equipa do Hayase revelou que o GitHub nunca lhes enviou o apêndice de referências, o que significa que os programadores desconhecem quais são as alegadas infrações. Esta ausência de informação impede-os de apresentar uma contra-notificação adequada.
Apesar disso, em vez de prolongar a situação, a equipa optou simplesmente por remover os ficheiros contestados. Todos os URLs agora apontam para erros 404, pelo que o GitHub não precisou de intervir. As remoções não parecem ter impacto no Hayase, uma vez que os links já não eram utilizados ativamente como links de download no site oficial. Mais importante ainda, mesmo que todo o repositório do GitHub fosse removido, as aplicações já instaladas continuariam a funcionar.
Esta não é a primeira tentativa da Crunchyroll de perturbar o Hayase. Em outubro, a MarkScan já tinha enviado um aviso DMCA semelhante ao GitHub. A aplicação também foi visada fora do GitHub, no Discord, várias mensagens no canal foram removidas por alegada violação de direitos de autor, embora não seja claro se a Crunchyroll está por trás destas ações, já que o Discord não partilhou essa informação.
O takedown mais problemático ocorreu na Google Play, onde a aplicação foi efetivamente removida. A Play Store era o destino preferido de muitos utilizadores Android para descarregar o Hayase. Embora estas pessoas ainda possam descarregar o APK no site oficial, trata-se de um obstáculo adicional para alguns utilizadores.
O timing dos esforços anti-pirataria da Crunchyroll não parece casual. A plataforma anunciou recentemente que vai terminar o seu serviço gratuito com publicidade a 31 de dezembro de 2025, obrigando todos os utilizadores a subscreverem um plano pago a partir de 1 de janeiro de 2026.
A decisão de remover a camada gratuita coloca títulos populares como Chainsaw Man, Spy x Family, Blue Lock e Bocchi the Rock completamente atrás de uma paywall. One Piece, um dos títulos mais populares da plataforma, já tinha sido removido da opção gratuita no ano passado, reduzindo significativamente o catálogo disponível gratuitamente.
Ironicamente, uma das reações mais populares ao anúncio do fim da camada gratuita, que gerou mais de 5 milhões de visualizações no twitter, menciona o Hayase como algo que vale a pena investigar. Com a Crunchyroll a consolidar o que muitos fãs veem como um monopólio do streaming de anime, a perda da camada gratuita poderá tornar alternativas potencialmente ilegais como o Hayase ainda mais apelativas para espectadores que não podem ou não querem pagar.
Em novembro, a Crunchyroll juntou-se à Netflix e à Disney para atacar uma importante plataforma de pirataria, o VidSrc, resultando no bloqueio de mais de 200 domínios por fornecedores de serviços de internet locais na Índia. Com as mudanças recentemente anunciadas na Crunchyroll, a aplicação da lei anti-pirataria tornar-se-á provavelmente ainda mais importante no novo ano.
A aplicação Hayase continua disponível para download através do seu site oficial, funcionando em múltiplas plataformas incluindo Windows, macOS, Linux e Android.
