
O Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão (METI) apresentou diretrizes políticas que podem mudar a forma como o país apoia e exporta os seus produtos culturais. Durante o 8.º Seminário de Política Industrial para Entretenimento e Indústrias Criativas, foram propostos cinco princípios fundamentais destinados a expandir o mercado internacional de conteúdo japonês, incluindo videojogos, anime, mangá, cinema e música, para 20 biliões de ienes até 2033.
A proposta surge apenas um mês depois de a Federação Empresarial do Japão (Keidanren) ter emitido uma “mensagem urgente” ao governo, pedindo apoio imediato em grande escala e de longo prazo para a indústria de conteúdo do país. O timing não é coincidência, o setor enfrenta pressões crescentes tanto de restrições de conteúdo agressivas como de empresas de processamento de pagamentos globais que têm vindo a impor limitações sobre que tipo de material pode ser comercializado.
Os cinco princípios da política para as indústrias de entretenimento e criativas são:
- Apoio estratégico em grande escala e de longo prazo
- Apoiar esforços para espalhar conteúdo japonês pelo mundo
- Nenhuma interferência no conteúdo de obras criativas
- Fornecer apoio direto
- Priorizar aqueles dispostos a aceitar desafios
É o terceiro princípio que tem gerado maior atenção, particularmente à luz dos eventos recentes. O METI deixou claro que o objetivo do governo é investir em propriedades intelectuais, recursos humanos e tecnologias digitais, bem como apoiar redes de distribuição internacional e investimentos no estrangeiro para construir bases de fãs. Crucialmente, este terceiro princípio foi sugerido para garantir aos criadores que a sua liberdade de expressão será protegida, e que “apoio governamental” não significa que o conteúdo das suas obras será alterado ou censurado de forma alguma.
A garantia é significativa num momento em que criadores japoneses enfrentam pressão externa para modificar ou autocensurar conteúdo considerado controverso em mercados ocidentais. Desde empresas de cartões de crédito que recusam processar pagamentos para certos tipos de mangá e anime, até plataformas digitais que impõem diretrizes de conteúdo mais restritivas, a indústria tem lidado com múltiplas frentes de potencial interferência criativa.
O quarto princípio propõe maior transparência no processo de apoio, significando menos dependência de empresas intermediárias e mais apoio a chegar diretamente àqueles envolvidos na criação e popularização de conteúdo. Esta mudança pode representar uma alteração substancial na forma como os fundos governamentais são distribuídos, potencialmente beneficiando estúdios independentes e criadores individuais que anteriormente poderiam ter dificuldade em aceder a programas de apoio.
O quinto princípio, priorizar aqueles dispostos a aceitar desafios, sugere uma abordagem que favorece projetos inovadores ou arriscados, em vez de apenas apoiar produções seguras e estabelecidas. Isto pode incentivar experimentação e diversidade no tipo de conteúdo produzido para exportação.

As razões por trás da nova proposta política prendem-se com resultados modestos nos esforços anteriores do governo para expandir o mercado internacional de conteúdo produzido domesticamente. Embora algumas medidas tenham mostrado resultados, o METI reconhece que ainda estavam a um nível baixo em comparação com outros países como a Coreia do Sul, que conseguiu posicionar o K-pop, dramas coreanos e outros produtos culturais como fenómenos globais.
O Ministério comentou que não conseguiu “expandir o stock de ativos tangíveis e intangíveis e aumentar a produtividade laboral e os salários para um nível satisfatório”, esperando agora que a nova política ajude o “conteúdo produzido pelo Japão a conquistar o mundo”.
A meta de 20 biliões de ienes (cerca de 120 mil milhões de euros) até 2033 é ambiciosa, mas o anime e mangá japonês já demonstraram potencial de crescimento explosivo em mercados internacionais. Plataformas de streaming como Crunchyroll, Netflix e Disney+ têm investido pesadamente em anime, enquanto o mangá continua a bater recordes de vendas em livrarias ocidentais. Videojogos japoneses também mantêm presença forte globalmente, embora enfrentem competição crescente de outros mercados asiáticos e ocidentais.








