Mahou Shoujo Ore — Veredito

De maneira surpreendente, nós tivemos na temporada passada uma enxurrada de animes que focassem majoritariamente nas serializações. Séries episódicas, indo ao contrário do que esperamos normalmente de uma mídia que possuí lançamentos grandes quando se trata de filmes, ovas ou apenas animes de cinco minutos – e um pouco de animes infantis que o público para esses lados nunca acabam por ver, o que torna os seus potenciais um pouco baixos. Porém, no meio de tantos lançamentos, nós tivemos uma surpresa que pegou todo mundo desprevenido. Um anime que aparentemente se focaria na comédia trazendo pequenas piadas sobre inverter os papéis de gênero dentro de uma história Mahou Shoujo, mas que eventualmente descobriríamos sobre os temas em relação a posição sexual na sociedade e os papéis de um homem e uma mulher dentro de uma realidade como as que são normalmente entregues pelo gênero Shoujo.

Diante dessas mudanças e quebras de expectativas, além de um humor extremamente balanceado, conversaremos hoje sobre aquele que eu considero ser um dos melhores lançamentos da temporada anterior. Será que ele consegue manter a comédia perambulando a série como tema majoritário e ainda sim, manter o interesse para aqueles que estão atrás de pequenas discussões em torno das temáticas de sexo?

Para aqueles que desconhecem Mahou Shoujo Ore, a obra se deu início com sua serialização na revista Fusion Product’s Comic Be em 2012, escrita e desenhada pelo mestre Icchokusen Mōkon, sendo transformada rapidamente em dois volumes tankobons. Surpreendentemente, dois anos depois a série recebeu uma nova renovação, sendo o principal motivo para que recebesse atenção o suficiente e fosse transformada em uma Série Anime de 12 episódios pelo estúdio Pierrot+, famoso estúdio japonês conhecido pelas animações em Naruto, Naruto Shippuden, Bleach, Tokyo Ghoul e entre outros títulos famosos. A Série teve sua estreia nas televisões japonesas em Abril até Junho de 2018, contando a história de uma alta proclamada Idol mas que na maior parte do tempo, é uma estudante escolar chamada Saki Uno. A Garota repentinamente descobre que sua mãe nada mais era do que uma Garota Mágica, porém, como resultado de pequenos problemas deixados pelo seu passado, cabe a Saki lidar com eles com a ajuda de um personagem mascote chamado de Kokoro, um homem que nada mais é do que um Yakuza. Porém, o grande chamativo da obra é pelo fato de que ao seu poder se revelar, Saki toma a forma de um homem musculoso que deverá lutar contra os grandes maus por trás de… gatos demoníacos.

Dado a premissa, já deve ser esperado como que Mahou Shoujo decide adentrar a fundo nas suas temáticas de inversão de gênero e apostar na qualidade que as suas piadas podem ter nesse mundo onde todas as nossas expectativas estão invertidas, trazendo ares similares a Mahou Shoujo: Madoka Magica, porém de uma maneira mais cômica. Apesar disso, esperava-se um anime que fosse colocar mulheres e homens em papéis misóginos, dado a qualidade de piadas com sexualidade que japoneses possuem. Mas… isso não poderia estar longe da verdade! Piadas pontuais que buscam sempre se comprometer apenas com situações cômicas, em vez de tirar piadas sobre sexualidade dos personagens, sobre o que eles são, o que eles representam, o que eles insinuam. Emendado a isso, piadas sobre o fato das personagens serem fictícias em um maior estilo Gintama, onde os personagens ou seus antagonistas trabalharão contra e a favor aqueles que os animaram, brincando diretamente ou não com as ferramentas que compõem uma animação de anime. A Quebra da Quarta Barreira, termo utilizado para denominar essa ferramenta narrativa, é quando personagens assumem o posto de personagens fictícios e através daqueles que estão por detrás deles, brincam com o fato do que são para o seu favor, criando uma espécie de intimidade com os seus telespectadores. Porém… nem sempre isso trabalha a seu favor.

Apesar de ser um anime que está sempre repleto de comentários a fazer sobre sexualidade, inversão de sexo e nós já chegaremos nesses pontos nos quais Mahou Shoujo Ore brilha, ele infelizmente acaba por pecar diversas vezes no seu ritmo e dosagem de humor e o quanto ele pode se dar para brincar com o fato de que esse mundo em si reconhece a sua existência como algo fictício. Por muitas vezes, até mesmo possuindo episódios focados nisso, nos deparamos com momentos maçantes onde as mesmas piadas acabam por ser feita e em um curto período de tempo, não dando um fôlego para que o telespectador possa absorver aquelas ideias, indo ao contrário dos elementos que faz a série tanto brilhar e até mesmo ofuscando o caminho pelo qual ela pode seguir. Emendado a isso, a animação não realiza um trabalho tão magistral dado que o seu orçamento, nota-se visualmente não ser muito alto. O que também pode trabalhar contra o telespectador, dado que os episódios anteriores a isso acabam por chamar a atenção, justamente pelo quão bem eles podem ser dosados em humor, ação – mesmo que cômica, poucos comentários sobre os temas que eu falarei a seguir e fechando com músicas ou momentos constrangedores de interação entre os personagens e até mesmo construção de mundo, dado que apesar desse mundo reconhecer a sua ficção, eles ainda querem nos contar algo. Infelizmente, muitas dessas mensagens e partes interessantes podem ser soterradas pelos problemas de ritmo que o anime sofre.

Além desses elementos que eu comentei, a trilha sonora nem sempre se mostra presente nos momentos que ela necessita, sendo muitas vezes ofuscada ou mal colocada, demonstrando uma falta de conhecimento em direção de anime por parte dos seus criadores. Algumas músicas atraem, como as músicas de abertura e encerramento que são maravilhosas, pessoalmente elas me cativaram bastante e sempre que um episódio encerrava, elas davam um sentimento caloroso de querer continuar acompanhando essa série.

Em especial, eu gostaria de dedicar comentários rápidos em torno da música de encerramento que possui uma melodia que gruda na sua cabeça de uma forma muito satisfatória, tornando essa viagem que é acompanhar Mahou Shoujo Ore e as suas mensagens curtas e piadas extremamente engraçadas, nível de tirar o seu fôlego, em algo que vale a pena. Ela te abraça de uma maneira muito agradável e sendo acompanhada pela voz dos talentosos STAR☆PRINCE, uma boyband formada pelos dubladores Toshiyuki Toyonaga e Kōji Yusa, onde ao fundo da sua melodia, nós temos artes incríveis acompanhando a música.

E eu acredito que não há momento mais oportuno para falar sobre a temática principal em torno de Mahou Shoujo Ore do que agora. Bem de fundo, um pouco obscuro pelo quão bem são as piadas em torno desses ambientes um pouco constrangedores que as personagens principais se encontram, mas que respiram fundo e decidem encarar a realidade sem uma vergonha por trás das suas ações, está a temática sobre a sexualidade e o quão sutil eu acredito ser a mensagem em torno de que: jamais tenha vergonha sobre o potencial que você esconde dentro de você, por mais que você não se sinta confortável sobre o que você é. Nós temos personagens que possuem poderes de se transformarem em gêneros opostos aos que elas são, invertendo suas posições sociais e até mesmo a maneira como elas são tratadas em dados momentos, mas ainda dentro de si, sentindo-se como garotas.

Nós temos uma personagem assumidamente homossexual dentro de Mahou Shoujo Ore e que do Episódio 2 em diante, decide não esconder seus sentimentos a uma pessoa do mesmo gênero, mesmo após receber seus poderes e se ver de frente para a outra instância dela. Mesmo assim, seus sentimentos não mudam e ainda são intensificados, sendo esse inclusive parte de como essas garotas recebem seus poderes. Justamente a ideia de que você só desperta como uma Garota Mágica quando você se vê de frente a uma revelação advinda do seu coração para quem você ama. E através dessas pequenas premissas em torno de pequenos elementos que compõem as magias e os elementos narrativos de Mahou Shoujo Ore, eu sinto que está escondida uma pequena mensagem que pode passar batida para aqueles que assistem a série, sobre ser justamente uma ideia de que você não pode sentir vergonha de se abrir sobre aquilo que você verdadeiramente sente. Sendo esse provavelmente o que me fez gostar ainda mais da obra, mesmo sabendo que ela não foca em te comunicar diretamente sobre isso, mas apenas fazer pequenas ligações que fazem sentido, são coesas mas que de forma alguma se transformam no centro das atenções, dado que o foco mesmo está sob o quão bem o autor consegue entregar diversas piadas… ainda que algumas delas sejam repetitivas e bem monótonas, mas ainda sim, méritos para o autor.

Mahou Shoujo Ore é uma obra do gênero Shoujo que se transforma em uma grande comédia repleta de ideias interessantes, comentários vastos e bem intrigantes sobre o gênero no qual ele está inserido e que, dentro de pequenos vestígios deixados pelo quão encantador ele pode ser ou as pequenas falhas que ele pode conter, estão comentários bem sutis sobre questões de gênero e aceitação dos seus sentimentos e daquilo que você é, sobre abraçar a si próprio e aceitar-se. Uma trilha sonora que apesar de não estar presente da maneira como esperávamos, surpreende pelas mais chamativas – sua abertura e encerramento, além de também ter visuais interessantes e uma animação suficientemente estável sem uma queda brusca de qualidade. É uma obra que sem sombra de dúvidas merecia a sua atenção e que eu não poderia deixar de dar uma nota abaixo dessa, muito pelos sentimentos estarem queimados no meu coração após terminar de assistir algo tão satisfatório quanto isso.

Espero que tenham gostado não somente do anime e a sua obra original, o mangá, mas também tenham gostado dessa análise. É um dos animes que eu guardarei no meu coração, definitivamente. Conseguiu dar o entretenimento que eu não estava esperando e ainda sim, tornando toda essa viagem que foi acompanhar ele do início ao fim, algo satisfatório, como eu venho dizendo. E de coração, espero que vocês tenham se divertido cada segundo com esse anime, assim como eu… tirando os pequenos pesares. Eu sou Weslley de Sousa e esse foi o Veredito de Mahou Shoujo Ore.

Até a Próxima!

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