
O comité de produção de One-Punch Man anunciou, após a transmissão do episódio final da terceira temporada, que o anime vai regressar em 2027 com uma segunda parte. A confirmação surge num momento particularmente delicado, com a série a ser amplamente considerada pela comunidade como o anime mais dececionante de 2025 devido a problemas graves de animação.
O episódio 12, que encerra a primeira parte da temporada 3, marcou o fim de um percurso turbulento que começou em outubro de 2025, seis anos após a segunda temporada. Durante este período, One-Punch Man gerou uma controvérsia sem precedentes que levou o próprio diretor Shinpei Nagai a apagar a sua conta nas redes sociais e animadores veteranos da indústria a defender publicamente a equipa de produção.
Paralelamente ao anúncio da segunda parte, o anime receberá a sua primeira exposição oficial entre 26 de junho e 20 de julho de 2026, no Ikebukuro Sunshine 60 Observatory Tenbou-Park, em Tóquio. A exposição promete incluir merchandising original, desenhos de animação originais e pontos fotográficos temáticos, numa tentativa de reconectar com os fãs após uma temporada que dividiu profundamente a comunidade.
A terceira temporada do anime, produzida pelo estúdio J.C.Staff, adaptou o arco da Associação de Monstros do mangá ilustrado por Yusuke Murata. A história acompanha Saitama, um herói que se tornou invencível após três anos de treino intensivo, ao ponto de derrotar qualquer oponente com um único soco.
A mudança do estúdio Madhouse, responsável pela aclamada primeira temporada em 2015, para o J.C.Staff na segunda temporada em 2019, tem sido fonte de controvérsia contínua. A primeira temporada, dirigida por Shingo Natsume, tornou-se lendária pela sua animação excecional, reunindo alguns dos animadores mais talentosos da indústria. A transição marcou o início de um declínio que se agravou drasticamente na terceira temporada.
O episódio 6 da terceira temporada atingiu uma classificação de 1.5 no IMDb, tornando-se um dos episódios de anime com pior classificação de sempre na plataforma. As críticas focaram-se na animação reduzida a frames estáticos com linhas de velocidade constantes, qualidade artística abaixo do nível amador, e proporções corporais incorretas que ocasionalmente desenhavam personagens com o género errado ou deixavam cabeças incompletas porque não estavam totalmente representadas no painel do mangá que foi claramente copiado.
A espera de seis anos entre a segunda e terceira temporadas criou expectativas elevadas que rapidamente se transformaram em frustração. Muitos fãs começaram a reavaliar a segunda temporada sob uma luz mais favorável, reconhecendo que, apesar dos seus problemas, não se comparava ao desastre que a terceira temporada representou.
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O veterano animador Takashi Hashimoto, com créditos em obras como One Piece Film: Red, Evangelion: 3.0+1.0 Thrice Upon a Time e Bleach: Thousand-Year Blood War, defendeu publicamente a equipa de produção em novembro. No Bluesky, Hashimoto escreveu: “Em relação a One-Punch Man, as críticas, ou melhor, o volume absoluto de críticas de pessoas que assistem ilegalmente no estrangeiro, são esmagadoras. A equipa de produção provavelmente sente muita dor por causa disso. Todos partilham o mesmo sentimento: ninguém se propõe a fazer um produto mau. No entanto, somos criticados pelos menores detalhes. Para onde deve ir a nossa motivação?”.
O animador alertou para as consequências reais das reações hostis no moral da equipa: “Por favor, pensem nos criadores por trás do ecrã. Não estamos a fazer isto como voluntários; este é o trabalho de todos. Quanto mais nos atacarem, mais a equipa desaparecerá. Garantido”.
A declaração de Hashimoto gerou controvérsia adicional ao focar inicialmente em espectadores internacionais que assistiam ilegalmente, ignorando que muitos fãs críticos eram assinantes legítimos de plataformas como Crunchyroll, Hulu e Disney+. O enquadramento das críticas como “bullying” foi visto por muitos como uma tentativa de desviar atenção de problemas legítimos de produção.
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O diretor Shinpei Nagai, cuja nomeação foi questionada desde o início devido à sua experiência limitada com títulos de ação pesada, tentou responder às críticas no X (antigo Twitter) antes de apagar definitivamente a sua conta. Nagai afirmou: “Não posso perdoar aqueles que mancham a honra da equipa ou exploram as lutas dos criadores para lucro através do ódio”.
Rumores da indústria sugerem que a equipa teve apenas seis meses para produzir a temporada inteira, um prazo considerado irrealisticamente curto para um projeto desta escala, levando a compromissos inevitáveis na qualidade. Este problema sistémico aponta para decisões de produção questionáveis a níveis superiores, muito além do controlo dos animadores individuais.
A série baseada no webcomic de ONE, lançado em 2009, transformou-se numa das propriedades intelectuais mais valiosas do anime moderno. O mangá ilustrado por Yusuke Murata, serializado no site Tonari no Young Jump desde junho de 2012, ultrapassou os 34 milhões de cópias em circulação até agosto de 2025. Em Portugal o mangá é publicado pela editora Devir.
O anúncio da segunda parte para 2027 foi recebido com reações mistas. Enquanto alguns fãs expressam esperança de que o tempo adicional de produção possa resultar em melhorias significativas, outros manifestam ceticismo profundo de que os problemas fundamentais sejam resolvidos. Um utilizador no X comentou: “A segunda parte de One Punch Man está a acontecer. Estou devastado. Esta é a pior coisa possível que poderia acontecer”.
A controvérsia em torno da terceira temporada levanta questões mais amplas sobre a sustentabilidade da produção de anime e as pressões comerciais que levam a decisões que sacrificam qualidade por prazos impossíveis. O caso de One-Punch Man serve como estudo de caso sobre como expectativas elevadas, recursos inadequados e comunicação deficiente podem transformar uma franquia adorada numa fonte de divisão e frustração.
Com o regresso marcado para 2027, a segunda parte da terceira temporada enfrentará o desafio de restaurar a confiança de uma base de fãs profundamente desiludida. Resta saber se o J.C.Staff e o comité de produção utilizarão o tempo adicional para implementar mudanças significativas nos processos de produção, ou se 2027 trará simplesmente mais do mesmo que tornou a primeira parte tão controversa.
A exposição de 2026 em Ikebukuro pode servir como teste crucial para medir o estado da relação entre a franquia e os seus fãs. Dependendo da receção, o evento poderá oferecer pistas sobre se a comunidade está disposta a dar mais uma oportunidade a Saitama e à sua jornada, ou se o dano causado pela terceira temporada é demasiado profundo para ser reparado com merchandising e visuais promocionais.









