A poucos dias das eleições legislativas japonesas de 20 de julho, o Sanseito, um partido político populista, ultra-conservador e anti-imigração de extrema-direita, tem gerado controvérsia e críticas generalizadas nas redes sociais japonesas devido às suas propostas relacionadas com videojogos, anime e mangá.
Apesar de ser um partido minoritário, as previsões eleitorais indicam que o Sanseito poderá conquistar um número significativo de lugares na Câmara dos Conselheiros do Japão, o que tem aumentado a preocupação em torno das suas políticas.
No seu website oficial, o Sanseito destaca a indústria de entretenimento japonesa, especificamente anime, mangá e videojogos, como uma “indústria central” que gera receitas anuais comparáveis às exportações de semicondutores do país. O partido defende que estas formas de media “vão além do entretenimento, tornando-se ferramentas importantes para a diplomacia cultural e influência internacional do Japão“.
Para apoiar a expansão desta indústria, o Sanseito propõe várias medidas que, na sua maioria, são semelhantes às já discutidas pela iniciativa governamental Cool Japan nos últimos anos. Entre estas incluem-se o investimento na formação de recursos humanos, a melhoria das condições de trabalho para criadores e o apoio às empresas para entrarem no mercado global.
No entanto, é a última proposta do partido que tem causado maior indignação. O Sanseito pretende “delegar autoridade à Agência para Assuntos Culturais para garantir o desenvolvimento saudável de mangá, anime e jogos como cultura, em vez de julgar o seu valor com base em critérios económicos“.
Esta declaração tem sido alvo de críticas tanto pela sua ambiguidade, não especificando o que “delegar autoridade” realmente implica, como por sugerir que o estado deve estar envolvido na monitorização de quão “saudável” são os jogos e anime. Muitos comentadores japoneses nas redes sociais veem esta medida como uma ameaça à liberdade de expressão.
“Pensei que toda esta conversa sobre a proposta do Sanseito de transferir autoridade sobre mangá, jogos e anime para o estado tinha de ser algum tipo de má interpretação, por isso fui ao site deles verificar por mim mesmo. Eles realmente estão a dizer isso. Que raio pensam eles que os criadores são?“, escreveu um utilizador.
Outro comentário popular questionava: “O que querem dizer com ‘delegar autoridade’? Os direitos sobre obras criativas pertencem aos criadores, não ao estado. Os direitos de autor são um direito inviolável dos criadores que puseram sangue, suor e lágrimas nas suas obras. Não deleguem simplesmente este direito a terceiros por vossa própria vontade“.
Um criador manifestou-se dizendo: “O valor de todo o entretenimento, seja anime, jogos ou música, só pode ser determinado pelos consumidores. Não há um único criador que entregaria a autoridade sobre as suas obras criativas ao estado“.
Embora muitas destas respostas mencionem também direitos de autor, é importante notar que a política do Sanseito não menciona explicitamente a transferência de direitos de autor para o estado. Contudo, a posição do partido sobre a regulamentação do entretenimento parece ter-lhe causado um impacto negativo, especialmente numa altura em que a sensibilidade em relação à censura entre gamers e fãs de anime está em alta.
As eleições de domingo serão um teste importante para perceber se estas polémicas afetarão o desempenho eleitoral do Sanseito, num momento em que a indústria criativa japonesa continua a ser uma das principais exportações culturais do país.