A British Board of Film Classification (BBFC) publicou esta semana um estudo inédito sobre a perceção do público britânico relativamente a conteúdo sexual em anime. A investigação, realizada entre maio e setembro de 2025, envolveu 2.001 participantes em 10 grupos de discussão online, incluindo fãs de anime, pais, adolescentes e pessoas que não acompanham o meio.
O momento não podia ser mais relevante, em 2025, o anime representou cerca de 24% de todo o conteúdo classificado pela BBFC para lançamento em formato físico no Reino Unido, mais do que o dobro em comparação com anos anteriores. Dois terços desse conteúdo receberam classificações entre U e 12, enquanto o restante foi classificado como 15 ou 18.
Nudez sexualizada preocupa mais que nudez natural
Um dos dados mais expressivos do estudo revela que 69% dos inquiridos consideram que nudez sexualizada deve ter classificação etária superior à nudez natural. Esta distinção alinha-se com a forma como a BBFC já classifica outros tipos de conteúdo, mas ganha novo destaque no contexto do anime.
90% dos participantes concordaram que planos demorados, close-ups ou ângulos de câmara que enfatizam atributos físicos das personagens adicionam uma dimensão sexualizada, independentemente do contexto narrativo, sendo estes considerados entre os fatores mais significativos para determinar classificações etárias mais altas.
Abuso de autoridade e personagens jovens levantam maior alarme
Quando um anime está na fronteira entre duas categorias etárias, o estudo identificou dois fatores determinantes para a classificação final:
- 86% consideraram que o abuso de autoridade em situações de desequilíbrio de poder é o fator mais relevante
- 82% mostraram preocupação com personagens que aparentam ser crianças ou comportam-se de forma infantil
David Austin, CEO da BBFC, comentou os resultados: “A explosão de popularidade do anime – desde lançamentos de bilheteira recordes até um aumento no formato físico – mostra o quanto capturou a imaginação britânica. Mas nem todo o anime é apropriado para crianças. Oitenta e oito por cento do público disse-nos que existe um risco potencial de proteção infantil se o conteúdo de anime não for classificado de forma apropriada e consistente”.
Fan service divide opiniões mas pesa na classificação
O controverso conceito de fan service, cenas ou enquadramentos que existem principalmente para agradar visualmente o espectador, divide a comunidade, mas 80% dos participantes concordaram que este tipo de conteúdo deve empurrar o anime para categorias etárias superiores.
Curiosamente, elementos cómicos ou fantásticos podem atenuar o impacto: 47% consideram que estes elementos podem justificar classificações mais baixas. A tolerância diminui significativamente quando a sexualização inclui nudez, atividade sexual explícita ou fan service ostensivo.
Por outro lado, 40% dos inquiridos acreditam que conteúdo sexual breve e pouco frequente pode merecer classificações mais baixas.
Anime deve seguir os mesmos padrões que live-action
Contrariando a ideia de que animação merece tratamento diferenciado, 81% concordaram que cenas sexuais em anime têm o mesmo impacto que em conteúdo live-action, devendo ser classificadas de forma semelhante. Esta posição reforça-se quando se fala de plataformas: 91% acreditam que classificações etárias para anime devem seguir padrões consistentes, independentemente de serem transmitidas na televisão ou em plataformas de streaming.
Novo código para streaming no horizonte
O estudo surge num momento crítico para a regulação de conteúdo no Reino Unido. A Ofcom, regulador britânico de comunicações, está a preparar o Video-on-Demand Code, previsto para setembro de 2026, que entrará em vigor no verão de 2027.
Este código dará à Ofcom poderes para aplicar padrões editoriais semelhantes aos da televisão tradicional em plataformas de streaming consideradas Tier 1, as maiores e mais semelhantes à TV. Netflix, Amazon Prime e Disney+ deverão estar incluídas nesta categoria, ficando sujeitas a sanções financeiras e, em casos extremos, suspensão do serviço se não cumprirem as normas.
Crunchyroll e HIDIVE juntam-se a 13 plataformas em coligação global de streaming
Plataformas especializadas preocupadas com regulação desproporcional
Recentemente, Crunchyroll e HIDIVE juntaram-se a outras 13 plataformas especializadas para formar a Beyond Mainstream: A Global Streaming Alliance. Esta coligação pretende defender regulações justas e proporcionais para plataformas especializadas, garantindo que os seus utilizadores possam continuar a aceder a conteúdo diverso.
A palavra “proporcionalidade” é especialmente relevante num contexto em que serviços generalistas como Netflix competem no mesmo espaço regulatório que plataformas especializadas em anime, com modelos de negócio, missões e audiências completamente diferentes.
Classificações recentes mostram padrão rigoroso
Exemplos recentes de classificações da BBFC para anime em cinema demonstram a aplicação prática destes critérios: Chainsaw Man – The Movie: Reze Arc recebeu classificação 15 por “violência sangrenta forte, gore”; Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba Infinity Castle foi classificado como 15 por “violência forte, imagens sangrentas, linguagem”; e Jujutsu Kaisen: Execution também recebeu 15 por “violência forte, imagens sangrentas”.
O relatório completo da BBFC está disponível aqui e inclui testemunhos detalhados dos participantes e análises mais aprofundadas sobre os vários tipos de conteúdo problemático identificados.
