Esta edição do Retronime, é especialmente dedicada à faixa etária sénior, pois vos trago uma série que certamente acompanhou a nossa mais tenra infância, é super divertida e muitas pessoas -tal como eu- recordam-na com bastante saudade.
Geragera Boes Monogatari, mais conhecido por Ox Tales no ocidente, ou As aventuras do Bocas, no nosso Portugal, relata o quotidiano de um boi humanoide que vive uma “quinta”. Este dedica o seu tempo a trabalhar e a relaxar na mesma, sendo comum encontrá-lo ao lado do seu fiel cão Toy ou da (muito conselheira) Tarturuga Ted. Se pensam que se trata de uma quinta normal, estão bem enganados, o espaço é bem mais próximo de um zoológico, pois aqui vivem todas as categorias de animais, desde minhocas a leões. Estes são colocados nas situações mais caricatas para grande deleite dos espetadores de todas as idades.
Na verdade, Geragera Boes Monogatari, foi mais uma coprodução Japonesa/Europeia bem característica da época. Os estúdios de animação Holandeses, Telescreen, Telecable Benelux BV aliaram-se ao estúdio Japonês Wako e à TV Tokyo, para produzir episódios que têm tanto de divertido como de bizarro. Todo o molde partiu numas vinhetas cómicas num jornal criadas pela dupla Wil Raymakers e Thijs Willems, e que muito respeitosamente duraram bem mais do que a série animada, ou seja, mais de 20 anos.
Em certos países como a Alemanha esta série foi alvo de muita polémica e críticas, porque muito inconscientemente poderia incentivar maus tratos aos animais. Pois, não faltaram situações onde gorilas ao atirar cocos saírem os seus braços também, enrolar minhocas em jornais, colocar explosivos em tetas de vacas, ou bater com um martelo numa carapaça de tartaruga. Claro que a série demonstra tudo de uma maneira cómica, e daquela maneira muito característica encontrada em obras clássicas da Looney Tunes ou de Tom & Jerry. Desde muito cedo nota-se que a origem e vinda de um comic, porque muita das suas falas são essencialmente monólogos do Bocas. O boi relata o seu quotidiano, o que faz ou o que vê. Foram produzidos 52 episódios e em cada um temos três mini-histórias separadas por um segmento, quem ainda se lembra do Bocas a semear um campo de trigo e no final chegarem um bando de pássaros e começarem a comer o que semeou? Que saudades!
Por incrível que pareça a série apresentou valores de produção altíssimos para a época, e não envergonha mesmo passadas mais de três décadas, creio que se fosse animada atualmente perdia muito do seu charme. Animação fluída e de qualidade, cores fortes, mas esbatidas, apresentadas em cenários que por vezes até pareciam autênticos quadros! É realmente incrível, o valor e dimensão presentes nestas mirabolantes aventuras, ainda mais se tivermos em consideração que foi produzida numa era onde obviamente o recurso a técnicas digitais não existia. Como desconheço a abertura e encerramento oficiais, ou focar-me apenas na banda-sonora na série. A maioria é composta por saxofone -não muito expressivo- a demonstrar a natureza trabalhadora ainda que um pouco estoica do nosso boi favorito. As aventuras do Bocas tiveram um sucesso tremendo na Europa, e no nosso país não poderia ser diferente. Era comum no final da tarde as quartas-feiras ligarmos a nossa televisão, e acompanhar as suas aventuras no programa Brinca Brincado, passando mais tarde para a Hora do Lecas. A nossa dobragem foi protagonizada por um trio de lendas do teatro português. O Bocas foi interpretado pelo grande Canto e Castro, Ted pela atriz Irene Cruz e João Lourenço, pelas restantes personagens. Em 2005 tivemos algumas edições em DVD das aventuras do Bocas, se encontrarem-nas à venda recomendo a sua aquisição.
Mesmo para as gerações mais novas recomendo esta série, não só vão poder ficar a conhecer um período -e qualitativo- distante da dobragem portuguesa como vão soltar imensas gargalhadas, e passar momentos muito divertidos a dizer:
“Fiz outra vez asneira!”
Quem acompanhou as aventuras e desventuras do Bocas?
Que viagem ao passado! Adorava ver o Bocas! Obrigado por este pedaço de nostalgia! E obrigadinho pela parte do “especialmente dedicada á faixa etária sénior”! Quando li isso senti-me como se tivesse levado com um dos tamancos de madeira do Bocas na cabeça!
Foi a viagem completa Samuel 🙂
Pera isso é tecnicamente um anime?
Claro que sim, tal como o Vickie e o Dartacão.