O Japão enfrenta uma crise de abastecimento de Asahi Super Dry, a cerveja mais popular do país, depois de um ataque informático ter paralisado praticamente toda a produção nacional da bebida. A maioria das 30 fábricas da Asahi Group em território japonês está parada desde segunda-feira, quando o ciberataque desativou os sistemas de encomendas e entregas da empresa.
As prateleiras das lojas deverão começar a esvaziar nos próximos dias. A Lawson, uma das principais cadeias de lojas de conveniência do Japão, emitiu um comunicado a avisar os clientes de que os produtos do grupo Asahi “poderão estar cada vez mais esgotados a partir de amanhã”. Os bares izakaya, que dependem de barris e garrafas para servir a icónica cerveja, também enfrentam ruturas de stock iminentes.
Um executivo de outra grande retalhista japonesa foi mais direto sobre o impacto: “Isto está a afetar toda a gente. Acho que vamos ficar sem produtos em breve. No caso da Super Dry, penso que ficaremos sem stock em dois ou três dias nos supermercados e sem os produtos alimentares da Asahi dentro de uma semana ou assim”.
A Asahi recusou comentar especificamente sobre eventuais ruturas de stock ou inventários dos retalhistas. Baseando-se nos números de vendas de 2024, o Financial Times calcula que a maior cervejeira do Japão produz em média o equivalente a 6,7 milhões de garrafas grandes de cerveja por dia no país.
Os retalhistas estão a tentar compensar a escassez recorrendo a marcas concorrentes como Suntory ou Kirin, mas reconhecem que muitos consumidores japoneses mantêm uma lealdade férrea ao sabor distintivo da Super Dry. A questão é se as alternativas conseguirão satisfazer a procura habitual.
Especialistas em segurança cibernética do grupo Nihon Cyber Defence, com sede em Tóquio, afirmam que as empresas japonesas estão cada vez mais na mira dos atacantes de ransomware devido às suas defesas fracas e ao facto de muitas simplesmente pagarem as quantias exigidas através de canais discretos.
A Agência Nacional de Polícia do Japão registou 222 relatos oficiais de ataques de ransomware em 2024, uma subida de 12% face ao ano anterior. Contudo, os especialistas da NCD consideram que este número representa apenas uma pequena fração do volume real de ataques. Num inquérito da agência, as empresas japonesas revelaram que em 49% dos casos de ransomware demorou pelo menos um mês a recuperar os dados perdidos.
A gravidade da situação levou o Japão a aprovar em maio uma lei que concede ao governo maiores poderes para combater proativamente cibercriminosos e hackers patrocinados por estados. Na altura, Itsunori Onodera, presidente do conselho de pesquisa de políticas do governo, alertou que sem uma atualização urgente da segurança cibernética nacional, “as vidas do povo japonês estarão em risco”.
As ações da Asahi caíram 2,6% na quinta-feira. Para além da Super Dry, a empresa produz no Japão refrigerantes, rebuçados e comida para bebés, além de fabricar produtos de marca própria para retalhistas japoneses. A empresa adiou indefinidamente o lançamento previsto de oito novos produtos, incluindo refrigerantes de fruta, ginger ale com sabor a limão e barras de proteína.
Na quarta-feira, a Asahi testou em pequena escala sistemas baseados em papel para processar encomendas e entregas, tentando perceber se consegue avançar com operações mais manuais. Um porta-voz da empresa disse que ainda estão a investigar se foi efetivamente um ataque de ransomware, embora não tenha sido confirmada qualquer fuga de dados de clientes para o exterior.