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    Cigarros zombie: a nova droga que está a alarmar o Japão

    Substância anestésica hospitalar transformada em droga recreativa está a provocar convulsões e detenções entre jovens japoneses

    Call of the Night 2 op screenshot smoke cigarro

    O Japão enfrenta uma nova crise de saúde pública protagonizada pelos chamados cigarros zombie, líquidos para vaporizador contendo etomidato, um anestésico hospitalar que está a ganhar popularidade alarmante entre adolescentes e jovens na casa dos vinte anos. As autoridades nipónicas intensificaram as operações de combate após uma série de detenções que expõem a rápida disseminação desta substância perigosa.

    O etomidato é um anestésico intravenoso de ação extremamente rápida, normalmente utilizado em contextos hospitalares para induzir anestesia geral em questão de segundos. A sua utilização médica é limitada a situações de emergência, funcionando como precursor de anestésicos mais duradouros. No entanto, transformou-se numa droga recreativa que está a varrer várias regiões asiáticas.

    Conhecida por diferentes nomes conforme a localização geográfica, space oil em Hong Kong e na China continental, K-Pods em Singapura, esta substância ganhou o apelido de zombie devido aos seus efeitos particulares. O consumo recreativo pode provocar perda de controlo motor, espasmos involuntários e convulsões, criando uma aparência que muitos comparam a zombies.

    A primeira detenção em Tóquio por posse de etomidato ocorreu em agosto de 2024, quando um homem de 28 anos foi encontrado com cerca de 3,1 gramas de líquido contendo a substância dentro do seu carro estacionado em Shibuya. Durante o interrogatório, admitiu ter começado a vaporizar etomidato em abril e que pretendia usar a quantidade que tinha consigo para consumo pessoal.

    As ilhas de Okinawa tornaram-se o epicentro desta nova vaga de consumo. Até ao final de setembro, pelo menos 10 pessoas, maioritariamente adolescentes e jovens adultos, tinham sido detidas na região por posse de etomidato. Em outubro, a polícia desmantelou aquilo que considera ser a principal rede de tráfico da substância na prefeitura, com a detenção de Yuto Agarie, alegado líder de um sindicato que armazenava quase 64 gramas de líquido contendo etomidato com intenção de venda.

    A resposta do governo japonês chegou em maio de 2024, quando o etomidato foi oficialmente classificado como substância controlada, tornando ilegal a sua produção, venda, posse e utilização recreativa. Quem for apanhado em posse desta substância pode enfrentar até três anos de prisão ou uma multa de três milhões de ienes. A lei não prevê exceções por desconhecimento, o que significa que mesmo quem alega não saber que a substância era ilegal pode ser processado.

    O fenómeno não se restringe ao Japão. Hong Kong regista casos desde 2023, tendo as autoridades documentado 300 utilizadores em 2024 e mais 327 em 2025, sendo a maioria menores de idade, com relatos de crianças de apenas nove anos a consumir a substância. Em Taiwan, as autoridades apreenderam 135 quilogramas de cartuchos para vaporizador contendo etomidato. Singapura enfrenta um aumento no número de pacientes a procurar ajuda após consumo, principalmente jovens entre os 15 e 29 anos.

    Estudos recentes alertam que o uso crónico e a sobredosagem de etomidato podem causar danos cerebrais irreversíveis, perturbações mentais, problemas comportamentais e até morte. Os efeitos secundários incluem dor, náuseas, alucinações, amnésia, desorientação, dormência das extremidades e disfunção adrenal. A substância é particularmente perigosa quando vaporizada, podendo causar supressão respiratória, dissociação e perda de consciência.

    A distribuição acontece principalmente através de aplicações de mensagens encriptadas e redes sociais, onde os líquidos são comercializados em versões com ou sem sabor. As autoridades têm dificuldade em controlar este tipo de comércio digital, que permite aos traficantes operarem com maior discrição e aos consumidores adquirirem os produtos com facilidade alarmante.

    Um dos aspetos mais preocupantes é a falta de conhecimento sobre os riscos. Muitos jovens acreditam que, por ser uma substância utilizada na medicina, não representa perigo quando usada recreativamente. Outros compram líquidos mal rotulados, pensando tratar-se de vaporizadores à base de plantas, sem saberem que estão a inalar um anestésico clínico potente.

    As autoridades japonesas temem que o problema se alastre além de Okinawa. O Ministério da Saúde e as forças policiais expandiram a vigilância sobre plataformas digitais e pontos de entrada no país. Alguns especialistas comparam a situação atual com a crise do fentanil nos Estados Unidos, alertando que o mercado de drogas no Japão está a evoluir mais rapidamente do que as políticas conseguem acompanhar.

    A questão levantou debates sobre a necessidade de proibições mais abrangentes. Algumas vozes pedem uma proibição total de vaporizadores para tentar travar a disseminação dos cigarros zombie, embora esta medida seja controversa dado o uso legítimo destes dispositivos por pessoas que tentam deixar de fumar tabaco convencional.

    Helder Archer
    Helder Archer
    Fundou o OtakuPT em 2007 e desde então já escreveu mais de 60 mil artigos sobre anime, mangá e videojogos.

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