O Japão prepara-se para dar um salto quantitativo na adoção de inteligência artificial. O governo da primeira-ministra Sanae Takaichi apresentou um plano para aumentar a taxa de utilização individual de IA generativa dos atuais 25% para eventualmente atingir os 80%, numa tentativa de recuperar terreno face aos gigantes tecnológicos globais.
As novas diretrizes, que deverão ser aprovadas pelo gabinete até ao final do ano, revelam um fosso preocupante. Segundo um relatório oficial publicado em julho, apenas 26,7% dos japoneses utilizavam IA generativa no ano fiscal de 2024, comparado com 68,8% nos Estados Unidos e impressionantes 81,2% na China. Os números expõem uma realidade desconfortável para uma nação historicamente associada à inovação tecnológica.
O plano do governo estabelece uma meta intermédia de 50% antes de atingir os ambiciosos 80%. Para acelerar esta transformação, o executivo planeia estimular investimentos do setor privado na ordem de 1 trilião de ienes através do desenvolvimento de infraestruturas dedicadas à IA. A estratégia passa por posicionar a tecnologia como o “núcleo do investimento em gestão de risco”, segundo o documento preliminar.
A implementação será liderada pelos governos central e locais em setores tão diversos como saúde, finanças, agricultura, silvicultura e pescas. Uma aposta particular vai para a chamada “IA física”, que combina inteligência artificial com robótica, numa tentativa de reforçar a competitividade global das empresas japonesas. A infraestrutura necessária, incluindo centros de dados, eletricidade e comunicações, será desenvolvida através de cooperação público-privada.
Para garantir a segurança, o governo planeia reforçar as capacidades do AI Safety Institute, uma entidade especializada criada em fevereiro de 2024 pelo Gabinete do Governo e pela Agência de Promoção de Tecnologia da Informação. Contudo, críticos argumentam que as diretrizes carecem de especificidade no que toca a medidas contra o uso indevido da tecnologia.
As diretrizes baseiam-se numa lei que entrou plenamente em vigor em setembro, embora não tenham força vinculativa. Serão atualizadas anualmente para acompanhar o ritmo acelerado da evolução tecnológica. O governo deixou claro que investigará quaisquer casos de utilização inadequada de IA.
Esta movimentação surge num contexto de pressão crescente para o Japão recuperar protagonismo tecnológico. Enquanto a China avança rapidamente na adoção massiva de IA e os Estados Unidos mantêm a liderança em inovação, Tóquio vê-se forçado a acelerar o passo. O plano reflete uma mudança de abordagem, de uma estratégia baseada em regulamentação suave e diretrizes voluntárias para uma política mais assertiva de promoção ativa da tecnologia.
A questão agora é se estas metas ambiciosas se traduzirão em mudanças reais. Com uma sociedade tradicionalmente conservadora na adoção de novas tecnologias, o Japão enfrenta desafios estruturais que vão além de meros investimentos financeiros. O sucesso desta estratégia pode determinar se o país reconquista o seu lugar entre os líderes da revolução digital ou se consolida um declínio relativo na era da inteligência artificial.
