
O Japão enfrenta uma crise silenciosa entre a sua população mais jovem. Os dados divulgados recentemente pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar revelam que 529 crianças e adolescentes em idade escolar tiraram a própria vida durante 2024, um número sem precedentes desde que estes registos começaram a ser compilados em 1980.
O Livro Branco sobre Medidas de Prevenção do Suicídio de 2025, aprovado pelo gabinete governamental, expõe uma realidade complexa: enquanto o número total de suicídios no país desceu para 20.320 casos, uma redução de 1.517 em relação ao ano anterior e o segundo valor mais baixo desde 1978, a situação entre os mais novos continua a agravar-se.
Particularmente alarmante é a persistência de mais de 3.000 mortes anuais entre jovens dos 15 aos 29 anos, uma marca ultrapassada consecutivamente desde 2020. Esta tendência contrasta fortemente com a melhoria verificada na população geral, onde tanto homens como mulheres registaram quedas nos casos de suicídio.
A análise governamental identificou padrões específicos entre estudantes universitários. Muitos dos que perderam a vida tinham 21 anos, uma idade crítica que coincide com preocupações sobre entrada no mercado de trabalho ou prosseguimento de estudos superiores. Este fenómeno repete-se desde 2015 entre rapazes e desde 2021 entre raparigas.
Os motivos que levam jovens japoneses a tomar esta decisão final variam conforme o género. O estudo, que analisou casos entre 2022 e 2024, descobriu que todos partilhavam ansiedades relacionadas com o futuro profissional. Contudo, os rapazes eram mais afetados por fracasso académico, enquanto as raparigas sofriam frequentemente de depressão e outras doenças mentais.
Um dado especialmente preocupante emerge quando se observa as jovens mulheres: 40% das que morreram por suicídio na casa dos 20 anos já tinham feito tentativas anteriores. Esta estatística sublinha a necessidade de intervenção atempada e acompanhamento continuado.
A dinâmica de género também mudou significativamente nos últimos anos. Entre adolescentes dos 15 aos 19 anos, o número de rapazes que se suicidavam era mais do dobro do de raparigas em 2015. Em 2024, pela primeira vez, as raparigas ultrapassaram os rapazes nesta faixa etária.
Face a estes números, o ministério reconheceu que é necessário um apoio mais atento e abrangente. A questão que se coloca é como uma sociedade pode proteger os seus jovens quando as pressões académicas, profissionais e sociais se tornam insuportáveis.
Os especialistas apontam para a cultura de excelência e competitividade do sistema educativo japonês como possíveis fatores contributivos, embora as causas sejam sempre multifatoriais e complexas. A saúde mental entre jovens tornou-se uma prioridade de saúde pública que exige respostas urgentes e coordenadas.
Em Portugal a linha de prevenção do suicídio é:
213 544 545 – 912 802 669 – 963 524 660 / Diariamente das 16h às 24h
Linha Verde gratuita – 800 209 899 / Entre as 21.00 e as 24.00 horas
No Brasil a linha de prevenção do suicídio é o 118.







