Um estudo recente da Happinet, subsidiária da Bandai Namco Holdings, lançou luz sobre um fenómeno que tem vindo a ganhar força silenciosamente no Japão. Há milhões de adultos a comprar brinquedos, mas não para oferecer a ninguém, são para eles mesmos.
Os números impressionam: 5,35 milhões de pessoas entre os 18 e os 60 anos fazem parte deste grupo, batizado de kidults (uma mistura de kid e adult). Juntos, movimentam anualmente cerca de 78 mil milhões de ienes, o que representa mais de 470 milhões de euros. A Happinet chegou a estes valores depois de inquirir quase 16 mil pessoas.
A pergunta era simples: compraste algum brinquedo ou merchandising para ti no último ano? Quase 16% responderam que sim. Mas há um detalhe ainda mais revelador, 8,3% admitiram comprar produtos criados especificamente a pensar em adultos nostálgicos. Quando se extrapola estes números para toda a população japonesa, chegamos àqueles 5,35 milhões.
O que move estas pessoas a entrar numa loja de brinquedos ou a fazer encomendas online? A resposta mais comum não podia ser mais humana: quase metade compra por impulso, levada pela nostalgia. Veem algo que os faz lembrar a infância e não resistem. Outros 27,6% são ainda mais diretos, compram agora aquilo que queriam desesperadamente em crianças mas não podiam ter.
É como se a idade adulta trouxesse finalmente a liberdade financeira para curar feridas antigas ou simplesmente reviver momentos felizes. E não estamos a falar de compras ocasionais. Cada pessoa deste grupo gasta em média cerca de 90 euros por ano nestes produtos.
Peluches são disparadamente os favoritos, quase metade dos inquiridos admite comprá-los com frequência. Figuras de personagens, brinquedos de coleção e carros em miniatura também têm o seu público fiel. O curioso é que metade destas pessoas nunca parou de comprar desde a infância. Continuaram, simplesmente. Os outros 30% voltaram depois de conquistarem independência económica ou quando se tornaram pais.
Mais de 5 milhões de japoneses compram brinquedos para si próprios e movimentam 470 milhões de euros
Perguntar se estão satisfeitos com o que compram é quase desnecessário. Mais de 93% dizem estar contentes, sendo que 57,4% estão muito satisfeitos. E praticamente todos, 91,6%, planeiam continuar a comprar no futuro.
Esta satisfação mantém as engrenagens deste mercado bem oleadas. Quanto mais satisfeitos ficam, mais compram. Quanto mais compram, mais a indústria se adapta e cria produtos específicos para este público. É um ciclo que parece não ter fim à vista.
O fenómeno não é exclusivo do Japão, mas a escala e os números concretos mostram como este segmento deixou de ser marginal. Estamos perante um mercado consolidado que compreendeu algo fundamental: há milhões de adultos dispostos a pagar por objetos que os fazem sentir bem, que os ligam a memórias felizes ou que preenchem vazios antigos.
