
O sistema educativo japonês atravessa um dos períodos mais conturbados da sua história recente. Dados oficiais revelam que quase 354 mil estudantes do ensino básico faltaram pelo menos 30 dias às aulas durante o ano fiscal de 2024, representando um aumento pelo décimo segundo ano consecutivo.
Os números, divulgados pelo Ministério da Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia do Japão, mostram uma realidade preocupante: cerca de 3,9% de todos os alunos do país simplesmente não aparecem na escola durante períodos prolongados. No ensino primário, o salto foi particularmente acentuado, com um crescimento de 5,6% face ao ano anterior, totalizando 137.704 casos. Já no ensino secundário básico, o aumento foi mais contido (0,1%), mas os números absolutos são superiores: 216.266 estudantes.
As autoridades educativas japonesas apontam uma mudança cultural como principal explicação para estes números. Há uma consciência crescente entre pais e encarregados de educação de que forçar crianças e jovens a frequentar a escola pode não ser a melhor solução, especialmente em casos de ansiedade, depressão ou outras dificuldades psicológicas.
Dentro deste universo de alunos ausentes, há situações diversas. Cerca de 43 mil estudantes continuam a receber algum tipo de instrução através de escolas alternativas ou centros de apoio educativo. Outros 13.261 seguem programas de ensino à distância a partir de casa. Porém, o dado mais alarmante prende-se com os restantes: mais de 135 mil jovens não estão a receber qualquer tipo de acompanhamento profissional, como apoio de psicólogos escolares.
Paralelamente ao absentismo, outro problema atinge máximos históricos: o bullying. As escolas japonesas registaram 769.022 casos de intimidação e violência entre alunos, sendo que 1.405 foram classificados como “incidentes graves”, situações que resultaram em danos físicos significativos ou ausências prolongadas das vítimas.
O ministério reconhece que parte deste aumento se deve a uma maior capacidade de identificação e registo de casos, com as instituições a estarem mais atentas a sinais de bullying. Contudo, classifica o crescimento dos incidentes graves como “uma situação preocupante”. Mais de 83% das escolas do país reportaram pelo menos um caso de bullying durante o período analisado.
A distribuição dos casos é reveladora, o ensino primário concentra a maioria absoluta, com 610.612 situações, seguido pelo ensino secundário básico com 135.865 casos. As instituições que acolhem pessoas com deficiência reportaram 3.654 casos.
Um aspeto particularmente perturbador é que em 490 dos incidentes graves, o bullying não foi identificado enquanto tal até a situação ter escalado para níveis críticos. A violência física também bateu recordes, com 128.859 casos registados, um aumento de 18,2% num único ano.
Os dados incluem ainda informação sobre casos extremos: 413 suicídios de estudantes foram reconhecidos pelas escolas, dos quais oito foram confirmados como tendo ligação direta a situações de bullying. Estes números lançam questões sobre quantos outros casos poderão ter causas semelhantes não identificadas.
A convergência destas estatísticas sugere que o sistema educativo japonês, frequentemente elogiado pelos seus resultados académicos, enfrenta desafios profundos relacionados com o bem-estar mental e emocional dos seus estudantes. A pressão académica, tradicionalmente elevada no Japão, pode estar a contribuir para um ambiente onde tanto o absentismo como a violência entre pares encontram terreno fértil.










Tá, eles tem os números… possuem os dados. O que importa é: eles vão fazer o que diante da situação?