
Os acionistas da Electronic Arts votaram esta segunda-feira a favor da venda da empresa por 55 mil milhões de dólares a um consórcio liderado pelo Public Investment Fund da Arábia Saudita. Segundo a Bloomberg, os investidores da gigante de videojogos sediada em Redwood City, Califórnia, aprovaram a aquisição de 210 dólares por ação numa votação realizada durante uma reunião especial.
A aprovação dos acionistas marca um passo crucial para concretizar o maior leveraged buyout da história, mas o negócio ainda necessita de aprovação dos reguladores governamentais antes de poder ser finalizado.
O acordo foi inicialmente anunciado a 29 de setembro de 2025, quando a EA revelou ter chegado a um acordo definitivo para ser adquirida por um consórcio de investidores composto pelo PIF, Silver Lake e Affinity Partners. O negócio avalia a empresa em aproximadamente 55 mil milhões de dólares e representa um prémio de 25% sobre o preço das ações da EA antes de surgirem os primeiros rumores sobre a transação.
Segundo a informação oficial da EA, sob os termos do acordo, o consórcio irá adquirir 100% da empresa, com o PIF a incorporar a sua participação existente de 9,9% na companhia. Os acionistas receberão 210 dólares por ação em dinheiro, o que também representa um prémio sobre o máximo histórico da empresa de 179,01 dólares registado a 14 de agosto de 2025.
No entanto, documentos regulatórios revelaram recentemente detalhes sobre a estrutura de propriedade que têm gerado controvérsia. De acordo com um documento apresentado ao regulador antitruste brasileiro, o PIF irá controlar 93,4% da Electronic Arts após o fecho do negócio, fazendo da Arábia Saudita o controlador efetivo da empresa. A Silver Lake Partners ficará com 5,5% da propriedade, enquanto a Affinity Partners, de Jared Kushner, deterá 1,1%.
Para alcançar essa participação dominante, o PIF terá de investir aproximadamente 29 mil milhões de dólares em capital novo, para além de incorporar a sua participação existente de 5,2 mil milhões de dólares. Esta estrutura representa um afastamento dramático dos arranjos típicos de leveraged buyouts, onde múltiplas partes partilham o fardo financeiro de forma mais equilibrada.
A transação será financiada por uma combinação de dinheiro de cada membro do consórcio, mais a incorporação da participação existente do PIF, constituindo um investimento em capital próprio de aproximadamente 36 mil milhões de dólares. Adicionalmente, o JPMorgan Chase comprometeu-se com 20 mil milhões de dólares em financiamento por dívida, dos quais 18 mil milhões deverão ser disponibilizados no fecho.
Andrew Wilson, CEO da Electronic Arts, permanecerá à frente da empresa após a conclusão da transação. A sede da empresa continuará em Redwood City, Califórnia. Num comunicado interno aos funcionários divulgado em setembro, Wilson afirmou: “As nossas equipas criativas e apaixonadas na EA entregaram experiências extraordinárias para centenas de milhões de fãs, construíram algumas das propriedades intelectuais mais icónicas do mundo e criaram valor significativo para o nosso negócio. Este momento é um reconhecimento poderoso do seu trabalho notável”.
Desde o anúncio do acordo, tem havido resistência tanto de fãs como de alguns funcionários e até de autoridades governamentais dos Estados Unidos. Segundo a Al Jazeera, o envolvimento de Jared Kushner, genro do presidente eleito dos EUA Donald Trump, através da sua firma Affinity Partners, acrescentou uma camada adicional de escrutínio político ao negócio.
A Affinity Partners é uma empresa de investimento com sede em Miami fundada em 2021 por Kushner, que cultivou relações próximas com líderes árabes durante o seu tempo na Casa Branca. Numa declaração após o anúncio do acordo, Kushner disse: “Admirei a sua capacidade de criar experiências icónicas e duradouras, e como alguém que cresceu a jogar os seus jogos – e agora os desfruta com os seus filhos – não poderia estar mais entusiasmado com o que está para vir”.
O Public Investment Fund é o fundo soberano de riqueza da Arábia Saudita, com ativos avaliados em mais de um trilião de dólares. Nos últimos anos, o fundo tem vindo a expandir agressivamente a sua presença na indústria global de entretenimento e videojogos.
O braço de gaming do fundo, a Savvy Gaming Group, já tinha adquirido participações em editoras públicas de videojogos e comprado empresas como ESL, FACEIT e Scopely, mas o negócio da EA é o maior movimento deste tipo até à data.
Especialistas da CNBC sugerem que o negócio poderá levar a EA a duplicar os seus esforços no modelo de jogos como serviço e a expandir significativamente o seu negócio de jogos móveis sob o PIF. Michael Futter, fundador da consultoria de indústria de videojogos F-Squared, afirmou que o negócio irá sobrecarregar a EA com 20 mil milhões de dólares em dívida, forçando-a a apoiar-se ainda mais fortemente em fluxos de receita estáveis como microtransações, battle passes e lojas dentro dos jogos com inventário rotativo baseado em FOMO.
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A EA reportou 7,5 mil milhões de dólares em receitas no ano fiscal de 2025 e viu o preço das suas ações subir 15% este ano antes do acordo, impulsionado pelo buzz inicial em torno do seu Battlefield 6. A empresa é responsável por algumas das maiores franquias de videojogos do mundo, incluindo EA SPORTS FC (anteriormente FIFA), Battlefield, Apex Legends, The Sims, Madden NFL e Need for Speed, e possui estúdios aclamados como BioWare e Maxis.
Uma vez concluída a transação, que está prevista para o primeiro trimestre do ano fiscal de 2027 da EA (por volta de junho de 2026), as ações ordinárias da empresa deixarão de estar cotadas em qualquer mercado público. Os 36 anos da EA como empresa cotada em bolsa chegarão ao fim, e a empresa deixará de ter de emitir relatórios trimestrais públicos, com as suas ações a serem retiradas da NASDAQ.
O negócio ainda terá de passar pelo crivo de múltiplas entidades reguladoras, incluindo o Committee on Foreign Investment in the United States (CFIUS), que examina transações que possam ter implicações para a segurança nacional. Ao contrário da aquisição da Activision Blizzard pela Microsoft, que enfrentou obstáculos antitruste significativos por se tratar de uma fusão entre concorrentes diretos, este negócio não deverá enfrentar as mesmas questões de concorrência, uma vez que se trata de uma aquisição por parte de investidores financeiros.









