Determinados a criar algo diferente, a equipa da Ubisoft Quebec ficou responsável de produzir uma aventura de ação em mundo aberto que assimila um conjunto de ingredientes utilizados noutros jogos e séries familiares. Gods & Monsters Game que se passou a chamar Immortals: Fenyx Rising, emprega o conhecido motor de jogo Anvil para dar a existência a um mundo utópico com uma abordagem fresca e espirituosa na qual os deuses participam e tem um papel fundamental. Dito isto, Immortals Fenyx Rising já se encontra disponível para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series, Xbox One, Nintendo Switch, PC Epic Games Store e Uplay, e Stadia.

A história de Immortals Fenyx Rising inicia quando o monstruoso Tifão, filho de Gaia e Tártaro alcança a liberdade e decide num ato de vingança destruir os deuses e os humanos pelos seus atos egoístas, petrificando os humanos e transformando cada um dos deuses em formas peculiares. Logo depois da presença do gigante ser percebida, entram em ato os Deuses Prometeus e Zeus, apostando na salvação dos poderosos companheiros do Monte Olimpo e dos habitantes humanos nas mãos de um guerreiro, começando desse jeito o Titã a narrar a aventura de Fenyx.

Durante o tempo em que tentamos salvaguardar a ilha dourada de uma tragédia grega, esta dupla de deuses oniscientes permanecem neste mundo em formato de narradores desta ficção, adicionando à nossa viagem situações incomum e diálogos bem pitorescos e humorísticos. O pai dos deuses foi construído sobre uma personalidade descomprometida e um tanto ao quanto sarcástica, invocando um lado mais provocador ao mesmo tempo que tenta prejudicar todo o desenvolvimento da história. Já o Titã mostra-se sério e cansado, centrando a sua energia em contar a história da protagonista, evitando as provocações de Zeus. Em algumas das ocasiões, vamos resolver missões caricatas ligadas aos deuses soberanos. Algumas delas fazem-nos perceber o quanto simbolicamente pequenos ficaram os deuses. Encontrar Ares transformado em galo faz-nos perceber as suas fraquezas, que utilizando um tom sarcástico, acaba por ridicularizar a sua mestria enquanto um deus.

Ao contrário do que é habitual, a equipa da Ubisoft e da Ubisoft Quebec em Immortals Fenyx Rising parecem ter escolhido interpretar o mundo mítico grego de forma mais jovial e teatral comparado aos outros títulos do mercado, garantido aos jogadores, uma narrativa alegre e menos dramática. Contudo, o enredo alcança a grandiosidade por mérito humorístico que podemos encontrar nos diálogos dos deuses e não pelo objetivo principal.

Uma vez que a narrativa é apresentada ao jogador, conhecemos Fenyx, a protagonista humana que embarca numa aventura para salvar os seus entes queridos sem saber que também ficaria encarregada de salvar os deuses amaldiçoados. Antes de ingressarmos na aventura dispomos de um básico sistema de personalização na qual temos oportunidade de escolher o sexo do nosso personagem assim como alterar sua a aparência, desde cabelos aos formatos de rosto. O jogo contém um amplo mapa composto por ilhas distintas representadas por cada uma das figuras que estão presentes no elenco de Immortals. Cada um dos cenários é diferenciado pela caracterização estética dos mesmos: Afrodite a deusa do amor por exemplo distingue-se pela harmonia dos seus grandes jardins verdejantes e floridos, enquanto Ares filho de Zeus, deus da guerra, pelos evidentes campos desertos de batalha bélicos.

Diante as mecânicas de exploração e combate, a Ubisoft Quebec construiu um mundo no qual um dos seus IP ‘s principais Assassins Creed tem um papel fundamental perante as possibilidades que nos é oferecida em campo. A nossa guerreira na presença do companheiro voador Eósforo consegue correr, escalar, nadar, voar graças às asas de Dédalo que facilitam o alcance de pontos altos ou mais longínquos ou até mesmo o controlo sobre animais como meio de deslocação. Todas estas ações estão associadas ao consumo da barra azul chamada de vigor, no entanto apesar de iludir que dificulta a aventura, não acrescenta novidade ou sequer penalização que seja necessário demonstrar uma atenção especial além de limitar os nossos movimentos, ao contrário de títulos como The Legend of Zelda: Breath of the Wild.

Em cada uma das ilhas além das missões principais vamos descobrir uma variedade de atividades que são representadas com ícones no mapa. A grande maioria revela baús com itens colecionáveis, desde armas e armaduras, os fragmentos de adamantina ou ainda outros recursos importantes implementados no jogo. Além disso vamos encontrar neste mundo os desafios míticos e as misteriosas câmaras de Tartarus, uma dimensão especial onde temos de superar puzzles com várias dificuldades. Alguns deles são simples e fáceis de resolver, os mais comuns fazem-nos controlar objetos com magnetismo para cima de uma alavanca ou guiar uma das flechas mágicas em direção a uma placa no lado oposto para abrir uma porta bloqueada. Enquanto os mais desafiadores como nas câmaras dos Deuses, desfrutamos de quebra-cabeças de certa forma semelhantes mas mais envolventes e engenhosos que nos levam a testar as nossas habilidades de forma eficaz. Estes envolvem uma complexidade diferente comparados aos pequenos puzzles encontrados por toda a ilha.

Quando concluímos os desafios, somos recompensados com as diferentes moedas do jogo e uma das mais importantes, o Raio de Zeus. Este expande a barra de vigor de Fenyx, melhorando as aptidões em combate e a nossa movimentação. Os outros recursos não menos importantes (ambrosis ou por exemplo a moeda de Caronte) são utilizados no salão dos deuses como todos os recursos que encontramos, para aumentar a barra de saúde, melhorar e modificar o equipamento e até desbloquear novas habilidades.  Esses elementos são valiosos para estimular os jogadores a descobrir todos os lugares da ilha, visto que tem um papel indispensável para o aperfeiçoamento de Fenyx.

Conforme progredimos, as capacidades da protagonista vão melhorando e tornando os confrontos menos arriscados. Em combate, a simplicidade foi colocada de modo a termos lutas rápidas e frenéticas, com muita acessibilidade mesmo nos modos mais difíceis do jogo. Fenyx para encarar o seu destino vai ter em mão uma agradável variedade de equipamentos. De início, dispomos para os ataques leves a espada de Aquiles que tem a capacidade de restaurar a resistência, o arco de Odisseus para ataques à distância que contém flechas mágicas e para os ataques pesados um machado de Atlanta que consegue perfurar as armaduras dos inimigos deixando-os atordoados. Do mesmo modo vamos poder descobrir várias armaduras, essas que incluem diversos bónus que podem ser melhoradas através do salão dos deuses.

Também somos capazes de manusear as habilidades denominados de Perícias, que estão interligadas com as nossas armas e outros aspetos, bem como os poderes divinos com os quais podemos invocar a Ira de Ares, um conjunto de lanças do subsolo finalizadas nos céus ou o Martelo de Hefesto, um devastador impacto causado por um martelo gigante. Técnicas como “parry” e o habitual ataque furtivo também estão presentes. Porém, a furtividade aparenta ter sido colocada para pequenas situações, conseguindo ter o impacto oposto ao da franquia dos assassinos. Vamos enfrentar no interior da ilha desafiantes criaturas inspiradas nas antigas histórias dos mitos gregos que variam de soldados troianos amaldiçoados, a Javalis selvagens, às célebres bestas mitológicas: Medusa, Ciclopes ou até mesmo as formas corrompidas de alguns semideuses.

Immortals Fenyx Rising graças ao estilo pitoresco aplicado de forma grandiosa pelos artistas da Ubisoft, presenteia-nos com um mundo encantador construído à volta dos contos da Grécia antiga. Os cenários fortemente coloridos são principalmente caracterizados pelas diferentes paisagens onde observamos elementos distintos associados à cultura e à diversificada fauna e flora que concedem vida ao jogo. Ainda assim, não deixamos de encontrar falhas nas texturas e os habituais erros que a produtora nos acostumou habitualmente com o tempo. O compositor Gareth Coker, responsável pela banda sonora de Immortals, foi capaz de decifrar muito bem o mundo deste jogo. Como era de esperar, sabendo que compôs uma das bandas sonoras mais empolgantes da franquia Ori, construiu temas que se encaixam na perfeição nas mais variadas situações que vamos experienciando.

Immortals Fenyx Rising é o que poderíamos esperar de uma versão light de Assassins Creed Odyssey, que confirma como um universo tão familiar como o dos mitos da Grécia antiga podem ser interpretados de variadas formas. O combate cativante, o retorno dos clássicos quebra-cabeças junto a um elenco que se destaca pelo humor são alguns dos pontos chaves encontrados neste jogo. Porém, é aconselhável encarar a aventura com leveza para não tropeçarmos na repetição devido à abundância de atividades semelhantes.

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