A Nihon Falcom, responsável pela série YS, é principalmente reconhecida por seguir um padrão clássico, um estatuto que se mantém atualmente visível no meio de um mercado competitivo com um dos seus títulos mais singulares no universo dos JRPGS. A sua talentosa equipa trilhou um longo caminho até aqui mas sem perder o rumo e sem deixar de proporcionar aos jogadores uma já habitual história de qualidade que desta vez decorre num mundo fictício caracterizado por um elenco bastante diversificado. Estamos a falar claramente de The Legend of Heroes, mais propriamente de Trails of Cold Steel.

Mais uma vez, pelas mãos da editora NIS America somos contemplados na Europa pela chegada de The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV, o quarto capítulo que entrega o acesso ao fecho desta extensa série inteiramente conectado ao acontecimentos do continente de Zemuria.

Antes de mais, é importante mencionar que apesar de Cold Steel IV vir acompanhado com a recapitulação dos três jogos predecessores e já por isso que seja possível iniciar o jogo sem se ter jogado qualquer capítulo anterior, será aconselhável aos jogadores mergulhar nas sequências diretas para perceberem a linha narrativa deste RPG.

No início de The End of Saga, estamos de volta às terras de Erebonia não muito depois dos acontecimentos finais de Gral of Erebos em Trails of Cold Steel III. O continente encontra-se à beira de um colapso com o começo de Trails of Cold Steel IV devido à maldição gerada pela misteriosa planta vermelha (Black Blaze Pleroma Grass). O efeito desta maldição recai sobre o império Ereboniano que começa a ficar enfeitiçado de modo a propagar o verdadeiro objetivo da organização: dar início a uma nova guerra. No entretanto, com o império enfraquecido e o desaparecimento do protagonista Rean Schwarzer pelas mãos do chanceler Giliath Osborne, a jovem aprendiz Juna Crawford e os seus companheiros da nova Class VII, resolvem assumir o comando e juntar forças ao estado de Crossbell e de Erebonia de modo a descobrir a localização do herói da nação e os verdadeiros planos do culto Ouroboros e do soberano Osborne.

Atualmente, Trails of Cold Steel IV conta com a maior lista de personagens da Saga. Foi reunido além do elenco dos jogos anteriores, não somente da antiga e nova Classe VII mas também os heróis de Liberl e da SSS (Seção de Suporte Especial) de Crossbell. Mais uma vez com foco no grupo da Classe VII, a experiência proporciona-nos momentos agradáveis por termos a oportunidade de observar, de uma perspectiva mais pessoal, como o fenómeno “Great Twilight” pôde afetar o percurso do novo elenco. Controlar personagens como o casal Estelle Bright e Joshua Bright, Elie MacDowell ou KeA Bannings (também conhecida como Zero Child) a começo, acaba por transportar uma certa “novidade” ao combate e também perante a jogabilidade. Todavia, alguns dos novos personagens, com os quais começamos a ganhar afinidade, acabam por permanecer por curto prazo.

Da mesma maneira que os outros, Cold Steel IV é um jogo longo que leva o seu tempo para desenvolver. A história desde o começo que demonstra um bom desenrolar de acontecimentos. É importante deixar claro para os veteranos que a história continua bem delineada, acompanhada de volumosas informações e de eventos inesperados. Independentemente da sua finalidade ser a de encerrar um ciclo, concedendo de um modo geral momentos únicos, após algumas horas de jogo transparece a sensação de semelhança a nível narrativo comparativamente com Cold Steel II, especialmente quando um dos objetivos é o de encontrar novamente os camaradas que estão por várias regiões do império. A atmosfera sombria que teve origem ao longo do capítulo final do título anterior é outro aspeto que poderia ter outro impacto porque em alguns momentos parece algo desaproveitada, como se não estivesse prestes a começar um acontecimento importante, como o de dar início a uma nova guerra. Ainda assim, tudo isso são pequenos detalhes comparados com o que o jogo tem para nos oferecer na sua totalidade.

A estrutura de Cold Steel IV permanece quase inalterada comparativamente aos jogos anteriores. Com o retorno da Aeronave e de outros modos de transporte, as viagens vão tornar-se menos pesadas. A determinado momento, vamos ter a liberdade de voltar a visitar as áreas do mapa introduzidas nos jogos anteriores e os novos locais que foram implementados pela primeira vez em Trails of Cold Steel com a chegada do recente elenco vindo do estado de Crossbell e do Reino de Liberl da série Trails to Zero e Trails in the Sky.

A Falcom mantém a sua exploração simples tanto dentro como fora das cidades. No interior, vamo-nos deparar com diversas atividades opcionais que vão ajudar-nos a descontrair do resto da trama. Em algumas dessas atividades, temos de volta os populares mini-jogos, que desta vez acrescentam um competitivo jogo de poker e blackjack baseado no jogo de cartas Vantage Masters, uma perfeita montanha-russa obscura onde temos de aniquilar fantasmas e ainda o Pom! Pom! Party!. Além das horas de diversão que nos são proporcionadas, também podemos desfrutar de algumas ofertas pelas mãos do assustador Hollow Coaster se conseguirmos alcançar uma pontuação generosa ou se vencer-mos uma partida do jogo de cartas no casino Barca de Crossbell.

No decorrer da trama principal, vamo-nos deparar com uma variedade de missões secundárias que vão estar presentes de forma a angariarmos itens ou a moeda do jogo Mira e ainda o conhecido AP (Academy Points). Ao contrário do que estamos acostumados a assistir na maioria dos JRPGS, em Cold Steel IV o tempo que dedicamos à maior parte das missões é bastante enriquecedor, envolvendo tanto as personagens principais, como as secundárias. O povo de Erebonia por exemplo tem um papel importante no enredo, incluindo numerosas falas e pequenas histórias para contar. Cada um tem algo oferecer, seja para ficarmos a conhecer um pouco mais sobre os pontos de vista que cada um tem a respeito dos atuais acontecimentos, ou de episódios mais peculiares que entregam ao jogador um envolvimento de certa forma mais pessoal com os personagens. Na sua íntegra, os elementos sociais continuam a ser o enorme destaque e viajar por diferentes pontos do império, tanto nos títulos anteriores como no atual, dá-nos a conhecer grandes trechos junto das origens e o background de cada um dos personagens.

O universo de Trails of Cold Steel IV apresenta-se mais vasto. Vamos descobrir novas zonas e voltar a visitar áreas familiares. Como é habitual, existem zonas que ligam as cidades, masmorras e áreas exclusivas como a aldeia do clã Hexen onde existem inimigos para enfrentar e tesouros para encontrar.

A mecânica de combate baseado em turnos está praticamente semelhante à de Cold Steel III. De modo a dificultar a nossa jornada durante os combates, alguns dos personagens tem agora as suas “Orders” mais enfraquecidas que podem ser atualizadas ao encontrar baús de tesouro pelas várias regiões de exploração de Erobonia, originando batalhas em forma de “teste” para personagens específicos. Outra mudança é o “Break system” onde os inimigos foram melhorados para resistir a uma maior quantidade de danos, exigindo do jogador uma maior insistência para perfurar a barreira do inimigo de forma a conseguirmos usufruir dos “Break Effects” do sistema. Ainda assim, a maioria dos boss já têm a capacidade de restaurar a totalidade a vida e o medidor de quebra depois de sentirem o HP reduzido, portanto a dificuldade dos confrontos fica ainda mais desafiante.

Para além destas alterações, as técnicas conhecidas por Lost Arts estão de volta com novos poderes neste título conclusivo de Trails of Cold Steel. Introduzidas inicialmente em Trails of Cold Steel II, Lost Arts são feitiços consideravelmente mais poderosos do que as Arts comuns que podem ser descobertos com atenção entre os segmentos da história. O retorno desse elemento trás uma maior segurança à nossa equipa, garantido golpes devastadores ainda que só possa ser utilizado uma vez em combate.

O protagonista Schwarzer volta de uma forma impressionante. Depois de ser capaz de controlar totalmente a maldição que subsiste dentro dele, o jogador consegue libertar o poder a 100%, aumentando desse jeito todos os status da personagem. O modo Berserk melhorado à primeira vista é uma mais-valia no tempo de combate mas dura o máximo de três turnos, por isso tem de ser usado de maneira certa.

Outro ponto no qual a dificuldade ficou igualmente desafiante é o encontro com os gigantescos Mechas. O retorno dos Divine Knights trás confrontos ainda mais marcantes. A perícia dos oponentes ficou aparentemente mais desperta, deixando poucas margens para erros na nossa estratégia em campo. Os Ataques estão mais críticos e as técnicas especiais S-Breaks são desencadeadas ainda mais rapidamente. Cold Steel IV também introduz uma novidade em combate. Agora somos capazes através do uso dos pontos de energia (EP) do nosso personagem, invocar um robô gigante para o campo de batalha de modo a criar um único ataque com danos massivos em luta contra vários inimigos.

Quanto ao lado audiovisual, o jogo reutiliza a evolução gráfica proveniente do seu antecessor. Por essa razão, vamos reencontrar o mesmo detalhe tanto nos cenários como no design de personagens. Mesmo que mantenha uma aparência idêntica ao terceiro título salienta-se um melhoramento notável na fluidez natural da animação. A banda sonora foi para mim um dos pontos chaves porque ajuda a concluir esta série de uma forma bastante marcante. Aquilo que já era singular nos títulos antecessores, ficou ainda melhor, pois as melodias são portadoras de um forte coeficiente emotivo que permitem envolver todos os personagens e a conduzir a aventura até ao fim. Relativamente ao voice acting na versão inglesa é completamente percetível uma ligação estabelecida entre a voz dos personagens e as suas características e personalidade, ainda que para algumas não seja propriamente a mais adequada.

Trails of Cold Steel IV supera todas as expectativas que estavam por superar. Ofereceu-nos a oportunidade de vivenciar as aventuras de Rean e companheiros pelo Continente de Zemuria, acrescentando ainda uma ligação sentimental entre todo o elenco. Ainda que se tenha notado um aumento no grau de dificuldade e poucas alterações na estrutura principal, todos os restantes componentes são motivo mais que suficiente para conseguir recomendar plenamente The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV ~The End of Saga~ para os apreciadores do género JRPG.

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Mystogan Caixeta
Mystogan Caixeta
24 , Outubro , 2020 12:25

O CS4 tem opção de montar party? Tipo o CS2? Quero finalizar essa parte jogando com meus personagens favoritos da antiga e nova classe VII.

Ricardo Martins
Ricardo Martins
Reply to  Mystogan Caixeta
25 , Outubro , 2020 10:48

Na maioria dos momentos tens sempre dois dos principais da nova class VII presentes, de resto podes escolher quem queres levar desde que estejam presentes na devida altura.

Mystogan Caixeta
Mystogan Caixeta
Reply to  Ricardo Martins
27 , Outubro , 2020 10:45

Obg!
Mal posso esperar pra jogar o 4. Crossbell é meu arco favorito com meus personagens favoritos mas tem alguns personagens da Classe VII que ao longo dos jogos comecei a gostar muito (Hades + Lost Arts na minha bruxinha favorita hehehehe). Triste vai ser depois ter que esperar a localização do Hajimari no Kiseki